O chefe da missão da ONU em Luanda, Pier Paulo Balladeli, alertou esta segunda-feira que o ciclo recorrente das cheias e das secas que afectam negativamente as populações do sul de Angola podem comprometer as metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). É preciso ter azar. Logo agora que João Lourenço descobriu, ao fim de onze meses, o caminho para o paraíso… as cheias e as secas resolveram azucrinar o Presidente.
Pier Paulo Balladeli discursava na abertura do Seminário Nacional Sobre a Redução de Riscos de Desastres, organizado pelo Serviço de Protecção Civil e Bombeiros (SPCB) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e que decorre até 31 do Corrente mês em Luanda, tendo ressalvado que o ciclo afecta sobretudo o crescimento económico.
Pier Paulo Balladeli realçou, porém, a importância de se garantir que o risco de desastre e o impacto das mudanças climáticas não comprometam os esforços dos países e das organizações internacionais para que se alcancem os ODS.
Para o responsável da ONU em Angola, o número de desastres e a magnitude dos seus impactos no mundo tem aumentado constantemente nas últimas décadas, fruto das alterações climáticas, com perdas e prejuízos a nível mundial estimados em cerca de 300.000 milhões de dólares por ano.
“As cheias são o risco natural predominante em Angola, afectando anualmente, em média, cerca de 100 mil pessoas, aproximadamente 0,4% da população total do país”, exemplificou.
Balladeli elogiou (como não poderia deixar de ser na velha tradição de elogiar sempre quem está no Poder) o facto de o Governo, com o apoio da ONU e de outras organizações internacionais, estar empenhado na implementação do Acordo Quadro de Sendai, para a redução de risco de desastres, e do Acordo de Paris, sobre alterações climáticas, para alcançar o crescimento económico.
O chefe da missão da ONU em Luanda lembrou que os perfis de risco probabilístico para o país, elaborados em conjunto pelo Escritório das Nações Unidas para Redução de Risco e de Desastres (UNISDR) e pelo Centro Internacional de Monitorização Ambiental da Itália (CIMA – Research Foundation), deverão constituir a base para uma análise no orçamento nacional.
Para Balladeli, a redução dos riscos e desastres também só é viável se os Ministérios da Saúde, Educação, Acção Social, Família e Promoção da Mulher, bem como o do Ordenamento do Território, trabalharem em coordenação neste combate.
O diplomata italiano salientou que o Governo e a ONU estão a definir as prioridades nacionais, as estratégias de desenvolvimento e os planos para o próximo quadro de parceria com as Nações Unidas (UNPAF) 2020-2023, bem como o apoio à implementação de estruturas globais definidas na Agenda 2063.
O representante da ONU lembrou que a África foi o primeiro continente a aprovar uma posição comum sobre o “Acordo Quadro Pós 2015 para a Redução do Risco”, através da Declaração de Yaoundé, conhecido como o plano de implementação do Acordo Quadro Sendai para reduzir os riscos e desastres 2015-2030.
A abertura do seminário contou com a presença das ministras angolanas da Educação, Cândida Teixeira, da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Vitória da Conceição, e do Ordenamento do Território, Ana Paula de Carvalho, bem como outros representantes da ONU e do corpo diplomático acreditado em Luanda.
Governo em prontidão combativa
É claro que o Governo não vai deixar os seus créditos por cofres alheios. Sobram os exemplos. O Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza (PMIDRCP) na província do Namibe, implementado desde 2010, ficou sem dinheiro nos últimos cincos anos, situação que comprometeu a sua execução, afirmou no dia 2 de Abril de 2018 o governador da província, Carlos da Rocha Cruz.
O programa, que desde o início da sua implementação beneficiou os cinco municípios da região, incidiu sobre os cuidados primários de saúde, educação, merenda escolar e água para todos.
Entretanto, Carlos da Rocha Cruz disse que o Plano Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza do Executivo angolano, que substitui o programa integrado, no quinquénio 2018/2022, visa alcançar a redução da pobreza de 36 por cento para 25 por cento, neste período.
Segundo o governador, o Plano Integrado de Desenvolvimento vai abranger, nesse quinquénio, aproximadamente três milhões de angolanos, com base nas linhas de governação do Executivo, priorizando a conclusão do processo de desmobilização de 41.182 ex-militares e a integração de outros, na ordem de 80.537 cidadãos.
Carlos da Rocha Cruz referiu ainda que com a alteração do programa integrado para o plano integrado e sob tutela do Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher estão, nesta altura, criadas as bases para o cumprimento dos objectivos gerais do plano, que consiste em contribuir para a eliminação da pobreza extrema, com maior envolvimento dos beneficiários na solução dos problemas identificados e a promoção do desenvolvimento económico local.
O governador realçou ser importante também a intervenção da municipalização dos serviços de acção social para potenciar o acesso às pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade, promovendo o aumento da proximidade dos serviços aos cidadãos.
Carlos da Rocha Cruz falava na abertura do seminário provincial de disseminação e orientação metodológica do plano integrado de desenvolvimento local e combate à pobreza na província do Namibe.
O evento contou com a participação do secretário de Estado para Acção Social do Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Lúcio de Amaral, técnicos do sector, administradores municipais e membros do governo local.
Ajudas da União Europeia
A União Europeia disponibilizou 65 milhões de euros para desenvolver em três províncias do sul de Angola, afectadas pela seca, um projecto para o reforço da segurança alimentar e nutricional em 2018.
Bem disse em 1 de Setembro de 2014 o chefe da diplomacia de Angola. Georges Chikoti, recorde-se, ser necessário “reflectir-se” sobre o futuro da parceria entre o grupo África, Caraíbas e Pacífico e a União Europeia, assim como a abertura a outros entendimentos. Por outras palavras, ou a Europa deixava de chatear com essas questão dos direitos humanos, ou acabava-se a mama.
Antes, no dia 6 de Abril de 2014, Georges Chikoti disse, em Bruxelas, que um dos grandes pontos em que Europa e África divergem é a questão do Tribunal Penal Internacional, cuja acção é, para muitos líderes, “nebulosa” e levanta ainda fortes dúvidas. Tinha e tem toda a razão. E se o MPLA continuar no poder, onde está há 42 anos, assim vai continuar.
Regressando ao país real, o tal dos 20 milhões de pobres e da mulher mais rica de África, as províncias beneficiárias da ajuda europeia são o Cunene, Huíla e Namibe, regiões que nos últimos cinco anos consecutivos registaram períodos de seca severa, que afectou mais de um milhão de pessoas com prejuízos económicos na ordem dos 656,8 milhões de euros, segundo dados do Governo.
A apresentação oficial do projecto de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional (FRESAN) em Angola, a ser executado nos próximos cinco anos, na cidade de Moçâmedes, capital da província do Namibe, teve lugar a 27 de Junho de 2017.
Segundo a gestora do projecto junto da União Europeia em Angola, Susana Martins, o principal objectivo é contribuir para a redução da fome e da pobreza nas camadas mais vulneráveis dessas três regiões, garantir a segurança alimentar e nutricional, com o reforço da agricultura familiar e sustentável.
Susana Martins, citada pela agência noticiosa angolana, Angop, referiu que o projecto está dividido em várias componentes, nomeadamente a introdução de metodologias de formação nas diversas comunidades abrangidas, nas escolas de campos agrícolas e agro-pastoris, bem como de equipamentos e práticas de agricultura que vão facilitar o trabalho e aumentar a produção.
Com este projecto pretende-se ainda dinamizar o sistema de reservas alimentar, sensibilizar para a melhoria nutricional através da educação alimentar, reabilitar infra-estruturas para captação e conservação de água para irrigação, consumo humano e animal.
As acções vão estar igualmente viradas para apoiar a resiliência dos agricultores e produtores familiares, com a divulgação de técnicas de multiplicação e promoção de bancos de sementes, conservação e uso sustentável dos solos e pastos.
A seca tem aumentado o número de casos de subnutrição, nos últimos cinco anos, nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe.
A história é sempre a mesma
Em Fevereiro de 2016 as Nações Unidas doaram a Angola 8,2 milhões de dólares para executar um projecto de combate às alterações climáticas na província do… Cunene, que enfrenta há vários anos uma seca severa.
A então ministra do Ambiente, Fátima Jardim, e o Coordenador residente das Nações Unidas em Angola, Pier Paolo Balladelli, assinaram no dia 11 de Fevereiro de 2016 o Memorando de execução do Projecto de Resiliência às Alterações Climáticas na Bacia Hidrográfica do Rio Cuvelai.
O projecto, a ser – dizia-se – desenvolvido até 2019, visava ajudar – se as verbas não se perdessem pelo caminho – a reduzir as vulnerabilidades decorrentes de alterações climáticas, que afectam os habitantes naquela zona, através de investimentos direccionados e o desenvolvimento das suas capacidades.
Concretamente, o projecto vai (ou iria) promover a instalação de um sistema de alerta rápido, o reforço da capacidade do serviço de hidro-meteorologia local, que vão (ou iam) monitorizar as condições metrológicas extremas e as alterações climáticas na Bacia do Rio Cuvelai.
Em declarações à imprensa no final da cerimónia, Fátima Jardim disse que o projecto estava (ou está) inserido no Plano de Adaptação de Angola, uma obrigação da Convenção-quadro da ONU para as alterações climáticas.
Fátima Jardim agradeceu às Nações Unidas a rápida resposta ao apelo de Angola, esperando a continuidade de ajudas, sobretudo dos países desenvolvidos, para “contribuições importantes” como esta feita pela ONU para a província do Cunene e o sul de Angola, há vários anos assolados por uma seca severa.
“Apresentamos esse projecto às Nações Unidas, que é um projecto que se enfoca hoje para a província do Cunene, mas que temos a intensão de abrir à parte sul do país, porque é a parte que de uma forma mais adversa e notória sofre riscos climáticos”, referiu a ministra.
A então titular da pasta do Ambiente sublinhou a importância de se educar as comunidades no Cunene, onde a desflorestação é “muito agressiva”, para serem corrigidas “algumas práticas incorrectas cometidas até agora”.
Segundo Fátima Jardim, o Plano de Adaptação de Angola está orçado em mais de 10 mil milhões de dólares, e tem inúmeros projectos nas áreas da agricultura, da educação das comunidades, entre outras, que continuarão a ser apresentados à comunidade internacional.
Por sua vez, Pier Paolo Balladelli salientou que o projecto além de trabalhar na mitigação climática vai igualmente diminuir a pobreza.
“Os camponeses que vão ser parte alvo deste projecto sobre a Bacia do Rio Cuvelai vão ter muito mais capacidade de resiliência, porque vão ter mais informações sobre como ele tem que se adequar para ter cultivações mais rentáveis nesse tipo de problemas que temos pela mudança climática”, adiantou.
Pier Paolo Balladelli, igualmente representante em Angola do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), elogiou (não é mentira, elogiou mesmo) a vontade e capacidade de o Governo “trabalhar conjuntamente com os outros países a nível mundial para se adaptar à mudança climática através de projectos-pilotos como este”.