Prioridade aos africanos

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior português, Manuel Heitor, aludiu hoje à responsabilidade das instituições científicas portuguesas em “perceber as dificuldades de África” e vincou a necessidade de desenvolverem-se capacidades e redes de conhecimento no continente africano.

Manuel Heitor, que interveio na apresentação de 16 projectos de investigação científica e desenvolvimento tecnológico para oito países africanos, no Centro Ismaili, em Lisboa, enfatizou “a responsabilidade social e a capacidade científica das instituições portuguesas para ajudar a resolver problemas”.

O objectivo último é melhorar, em diversas áreas, a qualidade de vida de Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Nigéria e Tanzânia, com projectos com um financiamento total de 4,6 milhões de euros.

“Todos estes projectos têm como objectivo último a qualidade de vida, quer reduzindo as doenças críticas, da tuberculose à Sida, mas também desenvolvendo redes alimentares e de habitat, estudando a biodiversidade e projectos sociais ligados ao desenvolvimento. Têm todos uma base científica, as raízes são identificadas localmente e a ideia é cada vez mais os cientistas portugueses ajudarem a capacidade científica, em colaboração com universidades associadas à rede Aga Khan”, disse.

O governante referiu “três objectivos críticos” que presidiram ao trabalho desenvolvido “nos últimos dois anos” para edificar o projecto e lançar o primeiro concurso realizado no âmbito do Protocolo de Cooperação Científica e Tecnológica entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal e o Imamat Ismaili.

Manuel Heitor referiu a necessidade de “usar a capacidade científica portuguesa, em colaboração com outros, para desenvolver novas capacidades científicas em África”, de “evitar a fuga de talentos” do continente africano e criar redes africanas de conhecimento.

“É de uma bondade extrema das equipas de investigação portuguesas contribuírem para estes objectivos, que passa por identificar problemas concretos que afectam as sociedades africanas, desde a sida à tuberculose às cadeias alimentares. E a questão crítica é que sabemos que estas sociedades tem sido afectadas pela fuga de talentos e por problemas muito complexos de desenvolvimento institucional”, salientou.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior referiu que “este projecto contraria o fluxo típico de africanos para a Europa e tende também a criar uma linha complementar de projectos orientados para desenvolver a capacidade científica” no continente africano.

“Juntamos aqui a rede Aga Khan porque está instalada em muitos países africanos, nomeadamente na Tanzânia e na Etiópia. E o que sabemos é que as sociedades, sobretudo dos países africanos de língua portuguesa, estão muito isoladas e, por isso, queremos contribuir para desenvolver redes africanas de conhecimento”, declarou Manuel Heitor.

Durante três anos, 16 projectos de investigação científica e desenvolvimento tecnológico, num investimento total de 4,6 milhões de euros, serão aplicados em oito países africanos.

Os projectos, destinados a incentivar e fortalecer competências e capacidades científicas, técnicas, humanas e sociais em África, foram seleccionados de entre 73 candidaturas apresentadas ao primeiro concurso realizado no âmbito de protocolo entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior português e o Imamat Ismaili, em 2016.

Os oito projectos seleccionados, que resultam de iniciativas existentes e colaborações em curso entre instituições científicas e académicas portuguesas e africanas, são dirigidos ao incremento do programa Qualidade de Vida nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e na Tanzânia, África do Sul e Nigéria, lançado em 2017.

As áreas de intervenção dividem-se em saúde, ciências tecnológicas e de engenharia, ciências exactas, humanas, sociais e naturais.

Dada a natureza específica do protocolo e a iniciativa inédita em Portugal, a implementação dos projectos em África será acompanhada e monitorização por um Painel Científico de Acompanhamento Externo, presidido por António Rendas, da Universidade Nova de Lisboa, que esteve presente na cerimónia de hoje, juntamente com o representante diplomático do Imamat Ismaili junto de Portugal, Nazim Ahmad, o presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Paulo Ferrão, e o presidente da Universidade Aga Khan, Firoz Rasul.

A Rede Aga Khan

A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN) emprega 80 mil pessoas em 30 países. Mas sem a acção de milhares de voluntários não conseguiria implementar e manter os seus projectos, sobretudo nas áreas da saúde e da educação, que não se limitam a apoiar apenas os 15 milhões de ismaelitas.

CANADÁ. Os primeiros ismaelitas chegaram no final dos anos 70, vindos da África Oriental, e hoje são entre 100 e 120 mil. No país há mais de 35 anos, a Fundação Aga Khan estabeleceu muito cedo uma estreita colaboração com o Governo canadiano. Nos próximos três anos, alunos das Academias Aga Khan irão frequentar o programa de verão para jovens empresários da Universidade Ryerson, em Toronto.

PORTUGAL. A comunidade tem entre oito e dez mil pessoas, que começaram a chegar após o 25 de Abril, sobretudo de Moçambique. Lisboa vai ter a primeira sede oficial do imamato e é também na região que deverá nascer em breve a primeira Academia Aga Khan no mundo ocidental – uma escola de elite para mil alunos, entre os cinco e os 18 anos, metade deles com bolsa de estudo.

TAJIQUISTÃO. A experiência de trabalhar com povos das montanhas já tem mais de 20 anos. Em 2009, a Fundação Aga Khan criou um programa de poupanças baseado na comunidade que hoje reúne mais de 400 mil membros, 73% deles mulheres, capazes de poupar mais de 13 milhões de dólares por ano.

SUÍÇA. Foi neste país que nasceu a Fundação Aga Khan, em 1967. Hoje, várias agências da AKDN têm pequenas sedes em Genebra. De três em três anos, é também na Suíça que o líder ismaelita entrega o Prémio Aga Khan de Agricultura a obras destinadas às comunidades muçulmanas.

EGIPTO. Os 30 hectares do Parque Al Azhar, criado pela AKDN no centro histórico do Cairo, são um oásis urbano. O projecto não se limita à extensa mancha verde – inclui um programa de formação, onde se ensina restauro e carpintaria.

PAQUISTÃO. Os apoios da Aga Khan no país têm mais de 100 anos. Conhecida sobretudo pela sua universidade em Karachi e o trabalho do Fundo Aga Khan para a Cultura em Lahore, a AKDN oferece actualmente uma vasta gama de serviços no Paquistão.

UGANDA. Há mais de cem anos que o imamato apoia comunidades em várias regiões. Actualmente, a AKDN aposta sobretudo nos serviços de saúde. Depois de ter criado uma universidade para enfermeiras e parteiras, em Kampala, em 2020 deverá inaugurar um novo hospital universitário, na mesma cidade.

MOÇAMBIQUE. O acordo de cooperação entre a AKDN e o Governo moçambicano já tem 20 anos. As actividades da rede concentram-se na província de Cabo Delgado, uma das mais pobres do país, onde a fundação trabalha com comunidades de 13 distritos. No âmbito do investimento económico, em 2002 foi comprado o mítico Hotel Polana, em Maputo.

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