“Venho participar o fim do meu trabalho de mais de dez anos em prol da(s) literatura(s) produzida(s) por angolanos(as), tanto no país como na diáspora”, afirma Tomás Lima Coelho, autor do livro “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, uma Obra exemplar que coloca Angola como o primeiro dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa a possuir um acervo desta natureza.
“Quando em 2016, ano em que foi apresentado pela primeira vez o meu livro “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, queria dar o trabalho por concluído, houve alguma insistência por parte da editora e de alguns amigos para continuar e acedi prolongar as pesquisas e recolha por mais dois anos”, recorda o escritor angolano Tomás Lima Coelho, explicando que, “assim, recolhidos em 2016 e 2017, irão juntar-se à nova edição do livro mais 445 novos nomes e respectivas obras, e mais algumas centenas de livros publicados neste período por autores e escritores já referenciados na primeira edição: ficarão assim listados 2.225 autores e escritores”.
Tomás Lima Coelho salienta que “obviamente também aproveitei para limar e corrigir alguns erros e imprecisões que constam da primeira edição, ao que se junta o facto de ter conseguido ainda obter bastantes fotografias e outros dados bio-bibliográficos que nela faltavam”.
“Se tudo correr como esperamos, se conseguirmos reunir as condições necessárias para a nova edição do meu trabalho, tencionamos apresentá-lo em 2018”, perspectiva Tomás Lima Coelho.
Com a modéstia típica dos que fazem História, Tomás Lima Coelho diz esperar “ter contribuído, ainda que de forma modesta, para a preservação da memória de tudo o que foi produzido em livro por angolanos desde o longínquo ano de 1642 até ao final de 2017, reconhecendo, todavia, que poderá dar-se o caso de haver nomes e obras que possam ter escapado à minha pesquisa”.
“Anseio, e aqui deixo o apelo, que alguém, pessoa, grupo, organismo ou instituição, se decida a pegar e a continuar este trabalho ao qual dediquei grande parte da minha vida e do meu tempo. Fi-lo por amor ao país onde nasci, Angola, e apenas por isso, como forma de contribuir o melhor de que fui capaz para o seu crescimento e desenvolvimento cultural no que à Literatura diz respeito”, afirma Tomás Lima Coelho.
Em matéria de agradecimentos, Tomás Lima Coelho fá-los a “Manuel Secca Ruivo, o primeiro amigo a acompanhar os meus passos e a quem muito devo, à Editora Perfil Criativo, na pessoa do João Ricardo, que acreditou em mim e no meu trabalho, ao Armindo Laureano pelo inexcedível acompanhamento que fez e que permitiu que o meu trabalho chegasse a Angola, à família que aturou as minhas ausências diárias, e aos muitos amigos e amigas que, generosamente, me foram ajudando a completar a obra fornecendo títulos, fotografias, datas e locais de nascimento dos autores e outros detalhes. Um agradecimento muito especial à Maria Vieira, por tudo”.
No dia 20 de Junho de2016, o Folha 8 apanhou Tomás Lima Coelho ainda com as dores do parto do livro “Autores e Escritores de Angola – 1642-2015”. Era um escritor feliz. Acabava de dar mais um contributo de elevadíssima qualidade para a História de Angola, sua Terra Natal.
“Este trabalho é obra de quase uma década de pesquisas diárias, feitas com muita paciência e persistência, muitas vezes incomodando amigos para chegar a outros”, contou-nos nessa altura Tomás Lima Coelho a propósito desta obra.
O autor explicava que os critérios que decidiu seguir, “que se tornaram claros logo que iniciei a pesquisa, são os seguintes: ter nascido em Angola (ou ser naturalizado) e ter pelo menos um livro publicado”.
Mas como tudo na vida, Tomás Lima Coelho teve também ele de dobrar o Cabo das Tormentas: “Dificuldades e resistências houve algumas, como seria de esperar, sendo a principal a natural desconfiança das pessoas em fornecer-me dados pessoais e fotografias. Mas, com calma e socorrendo-me de amigos comuns lá fui levando a água ao moinho”.
O autor reconhecia que “certamente que existirão falhas, nomeadamente alguns daqueles que publicaram obras em edição de autor e que não tiveram qualquer exposição mediática”, acreditava – contudo – que “não seriam muitos”. Explicava igualmente que “também faltam muitas fotografias e anos de nascimento, mas isso são contingências que não ferem muito o meu trabalho”.
“De qualquer forma haverá sempre a possibilidade de corrigir essas falhas numa possível segunda edição revista e aumentada”, enquanto esperava para ver “qual a receptividade ao seu trabalho, nomeadamente nos meios intelectuais e académicos, porque são esses que interessam, foi para eles que elaborei o livro”.
Tomás Lima Coelho
Tomás Lima Coelho nasceu em Moçâmedes (hoje Namibe), em 5 de Outubro de 1952. É o mais velho de cinco irmãos, todos naturais de Angola. O pai, Ápio de Andrade Coelho, nascido no Lobito, filho de um português natural de Vila Verde, Braga, que arribou Angola em 1890, descendia pelo lado materno de uma família angolana originária do Ambriz. A mãe, Maria Lúcia Gavino, chegada a Angola com apenas seis meses de idade, pertencia a uma família muito conhecida em terras do Sul.
Sendo o pai funcionário da Fazenda Nacional e, por isso, sujeito a transferências sucessivas, percorreu desse modo grande parte do território angolano. A primeira deslocação, aos 6 anos de idade, foi para Lândana, em Cabinda, onde nasceu o seu irmão António Manuel (durante a viagem de Moçâmedes para Lândana nascera a sua irmã Maria da Luz, a bordo do navio “Império”).
Depois rumaram a Caconda onde nasceu outro irmão, Luís Pedro. Seguiram-se Camacupa, Caála e, finalmente, Malanje, onde nasceu Miguel, o mais novo dos irmãos.
Em 1975, através da ponte aérea, viaja com toda a família para Portugal, fugindo à guerra. Aqui reside desde então. É casado com a malanjina Ilda Coelho, pintora nas horas vagas, tem dois filhos, Daniel e Inês, e uma neta, Mariana.
Sobre as suas origens, naturais e afectivas, gosta de se definir com as palavras do poeta: “No Namibe vi a primeira luz do dia, mas foi em Malanje que nasci.”