O general Bantu Holomisa, líder do partido na oposição da África do Sul UDM (United Democratic Movement) considerou hoje que Roelf ‘Pik’ Botha, que hoje morreu, desempenhou um papel decisivo em motivar o Partido Nacional a pôr fim ao regime do ‘apartheid’.
“E le estava constantemente a pressionar a sua organização, o Partido Nacional, para melhorar as condições de vida de todos os sul-africanos e a certa altura afirmou que este país seria um dia governado por um presidente negro e de facto o seu sonho tornou-se realidade em 1994″, adiantou Bantu Holomisa em declarações ao canal público de televisão sul-africano SABC, comentando a morte de Botha.
Roelof ‘Pik’ Botha, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul durante o regime do ‘apartheid’, encontrava-se hospitalizado devido a uma doença cardíaca e morreu na madrugada de hoje em Pretória aos 86 anos, informou a família. O filho, Piet Botha, em declarações à SABC, afirmou que o antigo ministro morreu enquanto dormia na madrugada de hoje.
“Morreu nas primeiras horas da manhã, com 86 anos, devido a uma falência de órgãos. Já antecipávamos a deterioração da sua saúde nas últimas duas semanas”, adiantou.
“Ele teve uma vida repleta e será relembrado pela paz em Angola, independência da Namíbia e pelo papel que desempenhou para a África do Sul realizar as primeiras eleições democráticas, tendo participado na elaboração da nova Constituição juntamente com Nelson Mandela e Cyril Ramaphosa”, afirmou.
Piet Botha disse que o seu pai “preocupava-se imenso nos últimos tempos, tal como a sociedade em geral, com a captura do Estado pela corrupção e a crescente má gestão na administração pública no mandato do anterior presidente, e ficou extremamente radiante de alegria com a nomeação de Ramaphosa para o cargo de chefe de Estado”.
Roelof Frederik “Pik” Botha, filho de um director de escola, nasceu em 1932 em Rustenburg, província do Transvaal, hoje North West, e dirigiu a diplomacia sul-africana entre 1977 até ao fim do ‘apartheid’, em 1994, como membro do Partido Nacional que instituiu o regime racista sul-africano em 1948.
Mais tarde, integrou o primeiro governo de Nelson Mandela, líder do Congresso Nacional Africano (ANC) e primeiro presidente da África do Sul democrática, como ministro da Energia e Minas.
Botha aposentou-se da política em 1996 quando o antigo Partido Nacional decidiu retirar-se do Governo de Unidade Nacional. Em 2000, ‘Pik’ Botha anunciou a sua adesão ao Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela.
Em 1984, no “pico” da sua carreira diplomática, Botha negociou a assinatura do Acordo de Nkomati entre o governo de Moçambique, liderado por Samora Machel, Presidente da República Popular de Moçambique, e pelo Presidente da África do Sul, P.W. Botha, que tinha por intenção pôr termo à guerra civil entre a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), no poder, e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) em Moçambique.
Em 1986, foi severamente repreendido pelo Presidente Botha (sem qualquer relação de parentesco apesar do apelido) por ter afirmado aos jornalistas que um dia a África do Sul seria “um Estado governado por um negro” o que levaria o antigo chefe de Estado a reafirmar a política do ‘apartheid’.
Com a alcunha de “Pik” (pinguim), Botha incitou em 1990 o então Presidente Frederik de Klerk a libertar Nelson Mandela que se encontrava preso há 27 anos.
‘Pik’ Botha desempenhou ainda um papel central no processo de negociação de retirada de tropas cubanas e sul-africanas de Angola e que culminou na independência da vizinha Namíbia.
O acordo de paz, assinado a 22 de Dezembro de 1988 entre Cuba, a África do Sul e Angola na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, possibilitou a implementação da resolução 435 da ONU e a independência da Namíbia.
Um ano antes da libertação de Nelson Mandela, Botha admitiu numa entrevista em Julho de 1991, que o Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-africano transferiu 250.000 rands (15 mil euros à época) para o Inkatha (de Mangosuthu Buthelezi), em conflito com o ANC, afirmando que autorizou a transferência de fundos para o Inkatha “de uma conta especial do seu ministério como parte de uma campanha mundial anti-sanções.”
Em 1992, Pik Botha deslocou-se a Angola para a assinatura de um acordo para a implementação de relações diplomáticas entre os dois países.
Theresa Papenfus, autora da sua biografia “Pik Botha and His Time”, disse hoje em entrevista ao canal público televisivo SABC que apesar de ser considerado como um “liberal” em relação a outros líderes do apartheid, ‘Pik’ Botha passou grande parte da sua carreira diplomática a defender o regime segregacionista perante o criticismo internacional.
A Fundação FW de Klerk disse em comunicado que “durante as intensas discussões que ocorreram dentro da liderança do Partido Nacional, durante os anos 80, ‘Pik’ Botha foi um defensor proeminente e consistente da reforma, negociações constitucionais e a libertação de Nelson Mandela da prisão”.
“Ele apoiou as medidas de reforma do Presidente P.W. Botha e, subsequentemente, foi um dos defensores mais fortes do processo de transformação constitucional que iniciámos em 2 de Fevereiro de 1990. Ele desempenhou um papel construtivo nas negociações subsequentes e, após as eleições de 1994, serviu como ministro no Governo da Unidade Nacional”, adianta a fundação.
Folha 8 com Lusa