Os acordos de paz, a desmobilização dos antigos exércitos: FALA (UNITA), FAPLA (MPLA) e ainda de alguns militares das FAA, levou à promessa de enquadramento de uma força de 3200 jovens soldados com experiência, nos efectivos da Polícia Nacional.
No entanto, chegada a fase de transição, eis que surge um empecilho, os Recursos Humanos da Polícia Nacional, segundo os visados, alegam, indisponibilidade na recepção, por, nos testes médicos, terem sido considerados, portadores, uns de Hepatite B e, outros de HIV. Os jovens ficaram estupefactos, principalmente por a comunicação lhes ter sido dada, em plena parada, quando deveria ser sustentada em relatório médico.
“É uma ofensa, abuso de poder e discriminação”, denunciam os lesados, que se consideram atirados para o desemprego, depois de terem servido, com bravura o país. “Nós depois dessa exclusão, recorremos ao Hospital Militar, onde fizemos outros exames médicos, que provam o contrário”, logo, estão saudáveis.
Com esperança renovada, empreendem uma descida à Polícia Nacional, mas, aqui chegados, recebem informação de só valerem resultados feitos no Laboratório Central de Criminalística ou outros afectos ao Ministério do Interior.
Foi como o deflagrar de uma bomba, denunciam, não descartando a existência de uma rede de tráfego e corrupção na polícia, que “vendeu os nossos lugares a outros”, daí o lamento. “Somos militares descontentes com o processo de transição das Forças Armadas para a Polícia Nacional, iniciado com base num Decreto Presidencial, assinado à época, pelo Comandante-em-Chefe, José Eduardo Dos Santos”, afirmam, adiantando, constar no mesmo, “que doravante os militares do quadro, após cumprimento do serviço militar obrigatório (três anos), estariam habilitados para uma transição formal para a Polícia”.
Questionados sobre quantos ex-militares estariam nessa condição, foram peremptórios: “aproximadamente, 3200 efectivos oriundos das FAA (Forças Armadas Angolana), dum total de seis mil efectivos. Os outros integraram-se, mesmo na Policia Nacional, mas nós não, daí a nossa presença no Folha 8, para, não só, expressar o nosso descontentamento como denunciar essa discriminação”.
Mas, na realidade, o que pretendem estes militares, que podem ser forçados a integrar o “longo braço” da delinquência urbana, cada vez mais reforçada com homens com experiência no manuseio de armas de fogo e de guerrilha? Atentemos à sua visão. “Cumprimos o serviço militar obrigatório de 3 anos, sem nenhum problema de saúde. Fizemos testes e formação básica de 90 dias, mas incluindo a capacitação de especialidade, durou um ano. Depois deste tempo todo, sem nenhuma intervenção médica e ida aos consultórios. Como, agora, para nos descartarem surge a história de estarmos doente com SIDA, Hepatite B e outras doenças? Ora, se fossemos portadores, não cumpriríamos missões militares de alto risco, praticamente em toda Angola”, alegam, adiantando, “nós temos o Hospital Militar que responde pelos serviços médicos dos militares, que confirmaram não sermos portadores de nenhuma doença venérea”.
Contundente é ainda a acusação de ter havido corrupção, na inviabilização do seu alistamento, substituído por civis. “Sim, é claro que a Polícia Nacional ficou a meter muitos civis e a pedirem dinheiro, com estes a pagarem Kwz: 400.000,00 (quatrocentos mil kwanzas) e alguns militares licenciados, o valor de Kwz: 150.000,00 (cento e cinquenta mil Kwanzas).“
Mas nisso a maioria dos enquadrados militares eram desertores, muitos só agora denunciados e vão responder em vários processos criminais, na Polícia Judiciária Militar.
O objectivo do Decreto Presidencial era o de garantir, aos agentes policiais um preparo militar, para reduzir os custos de formação policial. “Mas o que se passou neste processo”, denunciam os ex-militares, foi que “as Direcções da Saúde e dos Recursos Humanos da Polícia Nacional, banalizaram o decreto envolvendo civis que estavam a dar montantes elevados”.
Com base no acima referido, os efectivos reivindicam, “enquadramento na Polícia Nacional o mais rápido possível, uma vez sermos jovens e termos muito a dar. A Polícia quer combater a criminalidade e, nós estamos prontos para isso. Agora estão a pôr-nos de parte, quando cumprimos o serviço militar obrigatório, excedendo o tempo estipulado por lei, fazendo 7 a 8 anos”.
Por tudo isso apelam o Titular do Poder Executivo para “orientar os Ministérios do Interior e da Defesa a reverem a nossa situação, uma vez sermos, a maioria, jovens com uma idade média de 20 a 25 anos de idade, que não podemos ser postos na rua, sem emprego, uma vez que já tínhamos um emprego no Estado”.