Segundo a insuspeita agência de notícias do MPLA, a Angop, o presidente angolano, João Lourenço, recorreu a um dito popular segundo a qual “não se deve puxar a brasa para a sua sardinha” para enfatizar que a riqueza nacional não pode beneficiar apenas a uma pessoa ou a um grupo restrito de pessoas. Vá lá, pessoal. Rir faz bem e a anedota, se bem que não seja original, merece umas boas gargalhadas.
João Lourenço falava, segundo a Angop, durante um encontro com uma representação da comunidade angolana residente na Zâmbia no cumprimento da agenda de trabalho da sua visita de 48 horas a este país.·
“O Chefe de Estado respondia à questão colocada por uma representante da comunidade que, de forma sábia, se referiu a esta questão”, conta a Angop.
“O Presidente disse que estava plenamente de acordo em que as outras brasas possam também assar as sardinhas dos outros”. Boa, Presidente. É pena que 20 milhões de angolanos não tenham sardinhas, enquanto “meia dúzia” dos donos do MPLA/Estado tenham as sardinhas todas. É pena mas, na verdade, recordar esta fatídica realidade tirava todo o brilho à anedota.
João Lourenço afirmou (continuamos a citar a Angop) que é preciso que alguma coisa seja feita e disse que pouco a pouco está-se a trabalhar nesta direcção, com a tomada de medidas concretas, susceptíveis de mudar o actual cenário. Tem razão. Já se notam mais brasas… embora das sardinha nem o cheiro!
João Loureço apontou, nomeadamente, o fim dos monopólios, a concorrência (citou a recente aprovação, pela Assembleia Nacional, da lei respectiva) que visa a imposição de recurso a concurso público para as grandes empreitadas do Estado. É, mais um, bom exemplo. Era mesmo isso que os angolanos esperavam, mesmo aqueles que votaram na UNITA ou na CASA-CE e “viram” a sua escolha convertida em votos no… MPLA. Para eles nada como ter a barriga vazia e sonhar com grandes empreitadas do Estado, com satélites e similares.
Todo este conjunto de medidas, asseverou o Presidente da República, concorrem para o mesmo sentido: “Evitar que a brasa asse apenas a sardinha de uma pessoa ou de um pequeno grupo de pessoas”. Ora aí está. Vamos esperar sentados e aproveitar as brasas para assar mandioca e batata doce.
João Lourenço considerou ser uma batalha que ainda não está ganha mas “está sinalizado o caminho a seguir e estamos optimistas e esperançados que havemos de vencer”. Ninguém tem dúvidas que João Lourenço vencerá, que o MPLA vencerá. Alguns vão perder. Até agora temos 20 milhões de perdedores. Veremos amanhã.
“Num improviso seguido com bastante atenção pelos presentes, o estadista angolano disse que Angola vai renascer com as boas políticas que os políticos traçarem e, sobretudo, com o trabalho de todos os angolanos”, cita a Angop. Não admira o espanto dos presentes. De facto, se a regra para Angola renascer é “as boas políticas que os políticos traçarem”, estamos feitos. Feitos não à sardinha mas ao bife. (“Estar feito ao bife” é o mesmo que “estar em apuros, em dificuldades”)
“Que não se olhe apenas para aquilo que o Presidente da República e o Executivo venham a fazer” referiu João Lourenço, dizendo que isso não significa furtar-se às suas responsabilidades, prometendo dar o melhor de si. Exortou, contudo, todos os angolanos onde quer que estejam, dentro ou fora do país, a participarem do processo.
João Lourenço pediu a cada um, no seu posto, naquilo que sabe e deve fazer, que procure fazê-lo com profissionalismo, dedicação e amor porque só assim o país irá renascer. Muito bem dito. Embora o Presidente, mas sobretudo os seus acólitos, não goste, no nosso posto de jornalistas cabe-nos exactamente isto. Dizer o que o Povo pensa mas, compreensivelmente, não diz.