O Presidente da República desloca-se amanhã, segunda-feira, à província da Lunda Sul para uma visita de trabalho de algumas horas. O ponto principal da visita é presidir à cerimónia de abertura do ano académico 2018/2019. Desenganem-se os que pensavam que João Lourenço iria inteirar-se do que se passou com a violenta repressão policial e militar de sábado contra os manifestantes convocados pelo Movimento do Protectorado Lunda-Tchokwe.
No tempo em que permanecerá na cidade capital da província da Lunda Sul, o Presidente vai visitar as obras do futuro Hospital Geral de Saurimo, que está a ser erguido no bairro Candembe.
Na Lunda Sul, província que acolhe o acto formal de abertura do ano académico, as vagas disponíveis na Escola Superior Politécnica são, segundo números oficiais, mil. No entanto, existe também o Instituto Superior Politécnico Lusíada, ambos sediados em Saurimo.
As duas unidades fazem parte de uma região académica que também integra as províncias de Malanje e da Lunda Norte. No conjunto, as três províncias possuem oito unidades orgânicas.
Para o presente ano académico, os cursos mais procurados a nível nacional foram os ligados às ciências sociais, políticas e comunicação, enquanto os relacionados com as ciências exactas, naturais e ambiente, os menos concorridos. O país conta com 72 instituições do ensino superior, sendo 48 delas privadas.
Também não se crê que da agenda da comitiva presidencial (que inclui ministros de Estado, ministros e integrantes do gabinete de João Lourenço) conste a situação dos diamantes, a principal riqueza da região das Lundas.
Angola, como todo o mundo sabe mas que poucos dizem que sabem, é actualmente aquele reino gerido há 42 anos sempre pelo mesmo partido, o MPLA, que para uma população de 29 milhões pessoas tem 20 milhões de pobres, tem potencial diamantífero nas regiões norte e nordeste do país, com dados que indicam para a existência de um total de recursos em reservas de diamantes superior a mil milhões de quilates.
Esta informação foi divulgada no dia 30 de Junho de 2017 durante a apresentação de um estudo sobre o “Potencial Diamantífero de Angola: Presente e Futuro”, realizado pelos serviços geológicos das diamantíferas russa, Alrosa, e da angolana estatal, Endiama.
No que diz respeito aos kimberlitos, são responsáveis por 950 mil milhões de quilates, enquanto que os aluviões correspondem a mais de 50 mil milhões de quilates.
Na altura, o director-adjunto da Empresa de Investigação científica na área de pesquisa e prospecção geológica da Alrosa, Victor Ustinov, que apresentou o estudo, referiu que esses dados demonstram que o potencial kimberlítico de Angola é 15 vezes superior ao potencial aluvionar.
“Ao mesmo tempo, podemos dizer que em Angola existem territórios com muito boa probabilidade de descoberta de novos jazigos de diamantes”, disse, acrescentando que a empresa conjunta da Alrosa e Endiama, a Kimang, está a realizar os seus trabalhos de prospecção geológica numa dessas áreas.
O estudo refere que Angola tem territórios com grandes probabilidades de descoberta de diamantes.
Os resultados da pesquisa apontam que os territórios, que abrangem as províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Malange e Bié apresentam alto potencial diamantífero.
Com potencial provável, o estudo indica os territórios integrados pelas províncias do Cuanza Norte, Cuanza Sul, Huambo, Huíla, Benguela, onde poderão ser descobertas reservas kimberlíticas com teor médio de diamantes e reservas aluvionares de média dimensão.
Ainda por esclarecer o seu potencial estão as províncias Kuando Kubango, Moxico e Namibe, devendo ser realizado trabalhos de investigação científica, defendeu o responsável.
Victor Ustinov sublinhou que uma vez realizados estudos de investigação adicionais é possível aumentar o potencial diamantífero de Angola em pelo menos 50%.
“Com o potencial de 1,5 mil milhões de quilates de diamantes podemos estar seguros que o sector de mineração vai desenvolver-se de forma significativa”, disse, indicando trabalhos que devem ser desenvolvidos nesse sentido.
“É necessário desenvolver novos métodos de prospecção que permitam descobrir jazigos kimberlíticos e aluvionares a grandes profundidades, usando métodos de estudos geofísicos, geoquímicos, análises de imagens espaciais e estudos analíticos”, disse.
A finalizar, Victor Ustinov sublinhou que o potencial diamantífero de Angola “é muito alto e nos próximos anos o país será palco de grandes descobertas”.
No final da apresentação, em declarações à imprensa, o então ministro da Geologia e Minas de Angola, Francisco Queirós, disse que a informação apresentada é de grande utilidade para Angola, “não só para efeitos pedagógicos, científicos, como também para o trabalho que se está a realizar de recolha de informação ao nível do Plano Nacional de Geologia (Planageo)”.
Francisco Queirós disse que Angola está a trabalhar com as autoridades da Rússia para a recolha geológica em posse russa, trabalhos realizados para integrar na base de dados do Planageo.
Recorde-se, entretanto, que a Endiama desvalorizou em 2015 as críticas feitas ao projectado e ao gasto de 70 milhões de dólares para a construção de um Museu do Diamante em Luanda. A obra foi anunciada pelo presidente do Conselho de Administração da empresa, Carlos Sumbula.
A construção e montagem do Museu do Diamante é um projecto para executar em três anos e, segundo Carlos Sumbula, incluía a edificação de um prédio envolvente, com sete andares, para rentabilizar o Museu, a instalar no antigo Palácio de Ferro, na baixa de Luanda.
As críticas ao projecto surgiram de sectores ligados à luta pela autonomia das Lundas, que questionam a validade do gasto anunciado, antes preferindo a aplicação da verba na melhoria das condições de vida das populações daquelas duas províncias angolanas, Lunda Norte e Sul.
Isso de investir na melhoria das condições de vida das populações são delírios de quem, apesar de todos estes anos de regime do MPLA, ainda não percebeu que Angola não é um Estado de Direito. A velha teoria de que, como dizia Agostinho Neto, o importante era resolver os problemas do Povo, já não existe. Como também já morreu a tese de que políticos que não vivam para servir não servem para viver.
E a provar esta opção política que passa, que continua a passar, por saquear as riquezas das Lundas está exactamente o que se passou ontem, sábado.
Os organizadores da manifestação pacífica escreveram à Presidência da República, ao ministro do Interior e aos governos locais com 45 dias de antecedência dando conta da realização do protesto. A resposta foi uma brutal repressão. Não admira que assim tenha sido. Os organizadores deveriam saber que, como no tempo de José Eduardo dos Santos, são serão permitidas manifestações a favor do MPLA.
Como não era o caso…