Para trás, parados, devagar, devagarinho

Os dois principais produtores lusófonos (isto é como quem diz!) de petróleo em África, Angola e Guiné Equatorial, são os únicos dois países da África subsaariana que crescem abaixo da média da região, de acordo com o World Economic Outlook, hoje divulgado em Washington. Poucos com milhões, milhões com pouco ou… nada.

“N a África subsaariana, prevemos uma recuperação modesta em 2017; o crescimento deverá aumentar para 2,6% em 2017 e 3,5% em 2018, principalmente alimentado por factores específicos das maiores economias, que enfrentaram condições macroeconómicas desafiantes em 2016″, lê-se no documento que apresenta o estado da economia mundial segundo os peritos do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O texto antecipa que a Guiné Equatorial se mantenha em recessão nos próximos seis anos, enfrentando uma nova contracção da economia de 5% este ano e de 5,1% em 2018, para chegar a 2022 com um crescimento negativo de 1,5%.

O documento hoje divulgado em Washington não apresenta justificações específicas para este país, mas salienta, de uma forma geral, que “muitos países exportadores de matérias-primas ainda precisam de se ajustar completamente às receitas fiscais estruturalmente mais baixas porque os preços continuam baixos, apesar de uma ligeira subida recente”.

Para dificultar ainda mais o cenário dos países que não se prepararam para os preços baixos quando o barril do petróleo valia o dobro, o FMI considera que “muitos dos países com maior consumo de recursos vão ver que será cada vez mais difícil sustentar o crescimento económico num aumento da despesa pública, como fizeram no passado, estando confrontados com a dívida pública a crescer e o ciclo de crédito a abrandar”.

No caso específico de Angola, que juntamente com a Nigéria lidera a lista dos maiores produtores de petróleo da África subsaariana, o FMI diz que “o crescimento deve ser positivo este ano (1,3%), conduzido por uma expansão do sector não petrolífero devido a um aumento da despesa pública e a melhorias em termos comerciais”.

No passado dia 10, a agência de notação financeira Fitch considerou que Angola precisa que o preço do petróleo suba para 82 dólares para ter o orçamento equilibrado, salientando que o aumento da despesa pública elevou este valor.

“Os preços necessários para um ‘break-even’ orçamental desceram para a maioria dos países cujo ‘rating’ soberano é analisado”, citando as medidas tomadas pelos governos na Europa, Médio Oriente e África, escrevem os analistas, mas no caso da Nigéria, Angola e Gabão, o cenário é o inverso.

“Estes ajustamentos atrasaram-se face à queda do preço do petróleo, por isso a nossa previsão de ‘break-even’ orçamental para 2017 é substancialmente maior do que em 2015, em parte devido ao aumento da despesa pública, escreve a Fitch num relatório sobre o impacto da queda dos preços do petróleo nos países da região EMEA – Europa, Médio Oriente e África.

O ‘break-even’ orçamental é o preço a que o barril de petróleo precisa de estar para que o saldo orçamental seja zero, ou seja, um orçamento equilibrado.

Angola deverá registar um défice orçamental de 5,8% do Produto Interno Bruto este ano, de acordo com as previsões do Governo.

“A maioria dos países exportadores de petróleo ainda enfrentam pressões por causa dos preços baixos do petróleo, quase três anos após o choque petrolífero”, lê-se na nota de análise que não constitui nenhuma acção de ‘rating’, e que salienta que “os preços do petróleo começaram a recuperar, mas continuam abaixo dos níveis que equilibrariam os orçamentos na maioria dos maiores exportadores de petróleo” da Europa, Médio Oriente e África.

Segundo a previsão da Fitch, os preços deverão ficar, em média, nos 52,5 dólares por barril este ano, o que representa uma subida face aos 45,1 dólares do ano passado, “mas ainda abaixo do ‘break-even’ orçamental para 11 dos 14 países a que a Fitch atribui ratings sobre o crédito soberano.

Segundo as projecções dos economistas do Fundo Monetário Internacional, Angola deverá, em 2021, registar um nível de crescimento de sensivelmente um terço face à média entre 1998 e 2007.

“Angola está, como a Nigéria e a África do Sul, a adaptar-se à forte queda nas receitas das exportações de petróleo e vai ter um débil crescimento em 2017”, lê-se num dos últimos relatórios do FMI.

Também a Economist Intelligence Unit (EIU) reviu em baixa as previsões de crescimento da economia de Angola.

“Em Agosto de 2016, o Governo reviu em baixa a sua previsão de crescimento em 2016, pela segunda vez em pouco mais de um mês, de 3,3% para 1,1%, e em Julho já tinha revisto para 1,3%; mas a EIU reviu a sua própria previsão, para apenas 0,6%”, escreveram os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist.

No ‘Country Outlook’ sobre Angola, a EIU antecipava que no resto desta década o país acelere o crescimento económico para 3,5% em 2018, antes de novo abrandamento para 2,5% em 2020.

Registe-se, neste contexto, que a subida do nível da dívida pública é uma consequência directa da descida dos preços do petróleo, a partir de meados de 2014, que afectou decisivamente a economia de Angola, que depende desta matéria-prima para financiar o desenvolvimento económico e as altas taxas de crescimento que registou na última década. Indirectamente é uma consequência da inexistência da diversificação económica, há décadas defendida quer por analistas internos quer externos.

A EIU diz ainda que o facto de mais de 40% da dívida pública ser em moeda estrangeira “expõe o peso da dívida a uma depreciação maior da taxa de câmbio”, o que dificulta os pagamentos.

Por outro lado, “os pagamentos de juros em percentagem das receitas também deverão aumentar fortemente para mais de 14%”, e é também provável que o crédito mal parado suba ainda mais, passando largamente os 20%.

Folha 8 com Lusa

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