Aproximam-se as eleições autárquicas e nunca a nossa democracia esteve tão frágil devido às conveniências partidárias. Pergunta-se em quem votar, votaremos no vencedor ou o derrotado vencerá? A perda de identidade de alguns partidos políticos, ao longo destes 43 anos de democracia, confundem as mentes mais adormecidas porém, inquietam as mentes mais atentas.
Por Fernando Meireles (*)
Os candidatos que se dizem autónomos são apoiados por partidos e, os candidatos pelos partidos dizem-se autónomos nas escolhas. Actualmente não há candidatos independentes.
Discursos ou acções que visam manipular as paixões e os sentimentos do eleitorado para a conquista do poder é o princípio básico do regime totalitário.
Hannah Arendt manifesta na sua obra que “O objectivo da educação totalitária nunca seria incutir convicções, mas destruir a capacidade de formar alguma”.
Os “pseudo-políticos”, aqueles que considero “pseudo-adultos”, refugiam-se numa posição de “pseudo-crítica expectante” que em vez de agir ficam constantemente atados ao pasmo político.
Esse tal desnorte com notáveis sintomas de aviltamento atrofia tudo e todos, aquilo e aqueles que o circundam.
Estas práticas totalitárias, o desejo de vassalagem cheias de um virtual poder, não se coadunam com o desejo da população portuguesa, algarvia e farense assim como, aligeiram os problemas da actualidade favorecendo um fictício futuro sorridente.
Na realidade, os elementos do cacique que vivem em nome dos nomes dos cargos que vão ocupando, em mais nada se conhecem para além dos vazios discursos e palavras vãs. Acusar os outros daquilo que os próprios praticam, é o princípio básico do totalitarismo.
Tudo fica mais lento. Até a justiça se torna mais lenta. Veja-se que foram necessários mais de 365 dias para serem constituídos arguidos Secretários de Estado e um deputado em sequência das viagens mimoseadas pela Galp ao Euro 2016 aceite pelos mesmos.
Havia defendido, no artigo de opinião “O deputado algarvio da Galp” (Folha 8 – 20 de Setembro de 2016), a inevitabilidade, com base ética e moral, dos partidos políticos assolados pela indigência a convidar esses senhores a disponibilizarem todos e quaisquer cargos políticos por eles ocupados. Não o fizeram. O momento de afirmação desses partidos políticos sucumbiu.
Cristóvão Norte com as responsabilidades políticas de Vice-Presidente da Comissão Política do PSD/Algarve e Presidente da Concelhia do PSD/Faro, não suspendeu as funções nem foi convidado a suspender. É difícil entender os convites que lhe são endereçados e mais incompreensível quem ainda os envia. Este não é o PPD/PSD de Francisco Sá Carneiro.
O Ministério Público (MP) ao concretizar a acusação aos Secretários de Estados e o subsequente levantamento da imunidade parlamentar ao deputado Cristóvão Norte possibilitou que este fosse também constituído arguido. Este senhor ao não se retratar e ao esperar que o PSD resolvesse o seu problema, colocou o PSD numa situação vulnerável.
Cito novamente Hannah Arendt quando diz que “Uma existência vivida inteiramente em público, na presença de outros, torna-se, como diríamos, superficial”.
Estes miseráveis costumes crónicos instalados na sociedade que pretendem quebrar personalidades com know how, são um sopro de ar contaminado. Este arquétipo de indivíduos, pseudo-líderes com características ímpares, assumem cargos de relativa importância sem consciência dos deveres para os quais foram designados. Não obstante deveriam reconhecer que as funções ultrapassam largamente as suas competências.
Estes pseudo-políticos crêem ter ideias, bebem dos simpatizantes ou militantes e tentam reforçar a sua posição de “chefe” tendo a audácia de reprimir as massas.
Se por algum momento, que raro, me faltasse motivação ou força para escrever, sustentar-me-ia nas palavras de Hannah Arendt segundo a qual “Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime” e também cito Francisco Sá Carneiro “O que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob que pretexto for”.
E porque não abdico de pensar, oiço, anoto, reflicto, sustento, critico e divulgo.
A crise alastrada às distritais com a renúncia de cargos políticos e a demissão de outros, reflecte o pântano político onde a democracia se afunda.
Políticos que desconhecem a exigente conduta assertiva e ética das funções de deputados à Assembleia da República jamais haviam de assumir funções desta natureza. Estes senhores que aceitam viagens brindadas pelas empresas privadas enxovalham os partidos políticos e a Assembleia da República.
Cito o Dr. Rui Rio, ex-vice Presidente e Secretário-geral do PSD, que na sua intervenção no almoço debate do passado dia 13 de Julho 2017 dizia: “Tudo aquilo que se fizer tem de visar e prestigiar a política porque não é sustentável o país continuar da forma que tem continuado, em que estar na política é mais cadastro do que curriculum. Porque assim, não há português sério e competente que esteja disponível para servir Portugal”.
Como ex-dirigente do PDS/Faro e militante, sinto uma responsabilidade maior levando-me a escrever. Penso em Portugal para Portugal e a inércia nestes casos não é boa conselheira. Por isso, decido apresentar estas letras para despertar sensibilidades.
Espero que o propósito maior de todos seja levar este país a um patamar de desenvolvimento digno de Portugal, que seja igual ao desígnio dos portugueses no período dos descobrimentos. Um país de mulheres, homens e crianças com uma vontade Lusitana de lutar por uma vida melhor obtendo resultados.
Concluo citando Miguel Torga: “Tenho a impressão de que certas pessoas, se soubessem exactamente o que são e o que valem na verdade, endoideciam. De que, se no intervalo da embófia e da importância pudessem descer ao fundo do poço e ver a pobreza franciscana que lá vai, pediam a Deus que as metesse pela terra dentro”. (1940)
(*) Ex-dirigente do PSD/Faro