Pérola de classe mundial no andebol angolano

Albertina Kassoma, a nova estrela do andebol mundial, nasceu em Angola, país riquíssimo no que toca a matérias-primas, inexploradas na sua maioria, e conta mais de 20 milhões de pobres entre cerca 26 milhões de nacionais. No dia 23 de Agosto próximo, nove milhões e meio de angolanos, passados ao crivo do aparelho de Estado, irão às urnas.

O objectivo é escolher deputados e, por arrasto, o presidente da República de Angola, que será o cabeça-de-lista do partido que tiver mais votos.

Em Angola o andebol feminino é um orgulho para o país. Na massa do povo de 26 milhões de pessoas, 4 equipas praticam esse desporto a nível mais de amadorismo do que do que profissional. E as “Pérolas Negras”, como são chamadas as integrantes da equipa nacional, conseguiram, sem meios adequados, sem competitividade interna nem externa, nem nada mais ou quase, chegar às meias-finais nos Jogos Olímpicos de Brasil em 2016.

As “Pérolas Negras” constituem uma das 8 melhores equipas nacionais de andebol do Mundo!

Os primeiros passos

O pai da Albertina Kassoma levou-a a visitar o Ginásio do Gama, centro de treinamento do Clube Desportivo 1ª d’Agosto quando ela tinha 10 anos, depois de a te convencido que o seu físico, precocemente desenvolvido, era quanto baste para levar o treinador do Gama a integrá-la na sua equipa.

Já nessa altura, Albertina tinha uma constituição física fora de normas, hoje, com 20 anos de idade, ela mede 1,92 metros de altura e pesa mais de 100 quilos, o que não a impede de ser uma belíssima mulher.

Rapidamente se impôs, subiu como um meteoro os degraus da hierarquia andebolística e foi recentemente considerada em Angola como uma das melhores pivots de andebol do mundo. A confirmar que tal asserção não é de todo mentira, o técnico dinamarquês do 1.º d’Agosto, Morten Soubak, seleccionou-a para integrar a equipa mundial de andebol que disputará no dia 21 de Junho um torneio em Praga.

A nossa entrevista começou por uma alusão a um jogo muito popular em Angola, praticado por crianças exclusivamente do sexo feminino, com menos de 13 a 14 anos, a “Garrafinha”.

Duas moças, colocadas a uns 10 a 15 metros uma da outra, lançam o mais rapidamente que possam, uma bola de trapos uma à outra. Entre as duas, a meio, está uma garrafinha de refrigerante no chão, enquanto em volta da garrafinha uma terceira jogadora se agita para evitar ser atingida pela bola de trapos, quando uma das que tem a bola decide não a enviar à colega, mas disparar um remate para atingir a moça que está no meio. Se conseguir a do meio morre e sai do jogo, se não for atingida tem direito de encher a garrafinha com terra, ou areia, o que ali houver. E, the winner is, quem conseguir encher a garrafinha de areia.

Eis o que ela nos revelou sobre a sua pessoa, seus amores, seus projectos e seus sonhos.

Folha 8 – Como boa angolana, antes de seres andebolista começaste por jogar à “Garrafinha, não?

Albertina Kassoma – Acho que brinquei à garrafinha uma só vez (risos) nem me lembro bem…

F8 – Uma só vez, por quê? Porque eras grande e te matavam facilmente?

AK – Hahahaha! Acho que sim, é verdade que a maioria das minhas colegas de equipa diz que jogou muito à garrafinha, mas, tem graça, eu não.
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F8 – Como começaste, então?

AK – Comecei a jogar porque o meu pai me levou em 2007 ao centro de treino Gama, do clube 1º de Agosto e foi a partir daí que tudo arrancou. Comecei a jogar no 1º d’Agosto (equipa com 7-10 integrantes na selecção nacional, 20 vezes seguidas campeã de África) e é onde me encontro até agora (meu clube do coração). De início, fiquei um pouco assustada, vi muitas meninas a fazer coisas que nunca tinha feito, vi-as a treinar e pensei dentro de mim “Meu Deus, nunca vou aprender isso”, mas depois, com o tempo, fui apanhando aos poucos.

F8 – Achas que foste escolhida só pela altura e pelo teu porte físico?

AK – Não, não foi só pela altura e porte físico que, é verdade, conta muito para a posição de pivot, visto que é uma posição de muito contacto, muita luta mesmo… mas também por outras qualidades, boa recepção, capacidade de fazer bons bloqueios, finalização, entre outras… enfim, é o que eu penso.

F8 – E depois, quando começaste a jogar no 1º d’Agosto, o que se passou?

AK – A princípio quando perdíamos os jogos para mim era indiferente (isso no escalão de formação), mas depois sempre que perdíamos eu chorava muito ficava inquieta e já queria que chegasse o dia a seguir pra fazer melhor no jogo… foi a partir daí que dei conta que o andebol já corria as minhas veias.

F8 – Se não fosse o andebol, o que mais gostarias de fazer?

AK – Se não fosse andebol eu faria medicina, sem dúvida, sempre foi o meu sonho ser cirurgiã, só que por causa dos treinos não consegui fazer o curso.

F8 – Estudas?

AK – Estudo. Neste momento estou em Gestão de Recursos Humanos na universidade Gregório Semedo, em Luanda. Frequento o 3º ano.

F8 – Muito bem. Disseste em “off” que te vais consagrar ao andebol e depois, quando deixares de ser atleta do 1º d’Agosto, que pensas fazer?

AK – Quando deixar de ser atleta penso em trabalhar na área em que me estou a formar, que é recursos humanos e, quem sabe, fazer outra licenciatura.

F8 – Lembras-te do teu mais bonito golo?

AK – Não, não me lembro… eles são todos lindos (risos).

F8 – Para ti, há uma melhor jogadora do mundo no andebol?

AK – Admiro muito uma pivot da Noruega que é a melhor do mundo actualmente, mas não me lembro do nome…

F8 – Gostarias de ir jogar para o estrangeiro?

AK – Agrada -me muito a ideia de ir jogar para o estrangeiro, é o que sempre quis… fazer parte de uma das melhores equipas da Europa. Sinto que preciso de evoluir como atleta, sinto que aqui em África ou mais concretamente, em Angola, não tenho tido muita competitividade, preciso me superar, buscar novos horizontes, novos desafios, novas metas e isso aqui em África de certeza que não vou encontrar.
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F8 – Mas no campeonato angolano há uma grande rivalidade…

AK – A rivalidade entre 1º d’Agosto e Petro não chega. No campeonato nacional o que falta é a competitividade e a cada ano que passa temos menos equipas. As jogadoras que jogam nos juniores, quando chegam à idade de sénior, já não têm clubes pra onde ir porque, normalmente, os clubes aqui ou nas províncias só têm equipas de juvenis e juniores e não têm condições para abrir uma equipa de sénior e o campeonato, a cada ano que passa vai ficando mais fraco. Em Luanda, por exemplo, só temos 5 equipas femininas, que são o D’agosto , Petro, ASA, Marinha e Progresso. Em Benguela também só tem duas ou três equipas. Precisamos de mais equipas ,mais competitividade a nível nacional.

F8 – Qual é o maior sonho da tua vida?

AK – O maior sonho da minha vida até hoje é casar e formar a minha família.

F8 – Mas se tens vontade de formar família, vai ser como o andebol?

AK – Gostaria de me consagrar inteiramente ao andebol, vou fazer tudo para ser uma lenda viva do andebol no mundo inteiro. Mas também sonho em formar um lar, de certeza e em breve. (risos)

F8 – Ao mesmo tempo?

AK – Ao mesmo tempo. O meu marido vai compreender.

F8 – Não achas que estás a sonhar demais?

AK – Não, nunca é demais sonhar…

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