Não basta ter razão

O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, afirmou hoje que ao fim de quase 15 anos de paz em Angola, o país “está longe” de ser uma “democracia autêntica”. Tem toda a razão. Se a isso se juntar o facto de também não ser um Estado de Direito, então o retrato do regime fica quase completo.

“A vançamos muito menos do que os tempos permitem. Estamos ainda distantes da instauração institucional e da prática dos requisitos mínimos de uma democracia autêntica”, afirmou Isaías Samakuva, na abertura das VI Jornadas Parlamentares da UNITA, que arrancaram hoje em Luanda, as últimas antes das eleições gerais previstas para Agosto.

O líder da UNITA apontou que em Angola ainda se registam “actos violentos resultantes da não-aceitação das opções políticas dos outros”, apesar do fim da guerra civil, em Abril de 2002.

“Como povo, ainda não conseguimos assegurar bem a continuidade e o hábito das formas de convivência política”, admitiu o líder do maior partido da oposição angolana, sublinhando ser necessária uma “grandeza patriótica” para preservar a paz no país.

“Os nossos netos e bisnetos, reconciliados com a paz e a democracia, reterão do período da guerra entre irmãos apenas uma pálida e vaga ideia daqueles tempos obscuros da nossa história”, disse Samakuva.

Num olhar à actual situação socioeconómica do país, o presidente da UNITA considerou que a governação do MPLA, a mesma há 41 anos, preocupou-se sobretudo em controlar a economia do país, retirando proveito dos cargos públicos.

“Ao invés de realizar a missão que a nação que lhes confiou, os órgãos de governação e o grupo social que os controla resolveram utilizar os lugares que ocupam para engendrar esquemas sofisticados de desvios de erário público constituindo cartéis para controlar a economia”, acusou.

Estas jornadas parlamentares da UNITA tiveram início hoje e decorrem até quarta-feira, sob o lema “Pela cidadania, transparência e boa governação”.

“O compromisso da UNITA com a paz e a democracia é irrenunciável e irreversível, vamos resistir por todos os meios democráticos e pacíficos a todas as manobras e artifícios que visam mascarar, corromper ou destruir a democracia. Vamos denunciar a subversão e a corrupção políticas”, disse Isaías Samakuva.

A UNITA continua assim a cimentar os seus históricos pilares da luta pela liberdade e independência total da Pátria; da democracia assegurada pelo voto do povo através dos partidos; da soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados primando sempre os interesses dos angolanos.

Desses pilares resultam também a defesa da igualdade de todos os angolanos na Pátria do seu nascimento; a busca de soluções económicas, priorização do campo para beneficiar a cidade; a liberdade, a democracia, a justiça social, a solidariedade e a ética na condução da política.

Não se sabe mas talvez um dias destes Isaías Samakuva diga aos angolanos: “Eu assumo esta responsabilidade e quando chegar a hora da morte, não sou eu que vou dizer não sabia, estou preparado”.

A UNITA mostrou até agora, é verdade, que sabe o que é a democracia e adoptou-a definitivamente. Tê-lo-á feito de forma consciente perante tanto assédio do poder nacional e de algum internacional? Subsistem algumas dúvidas, sobretudo depois das manipulações e vigarices eleitorais de que foi e continuará a ser vítima.

Isaías Samakuva mostrou ao mundo que as democracias ocidentais estão a sustentar um regime corrupto e um partido que quer perpetuar-se no poder. E de que lhe valeu isso?

Depois das sucessivas hecatombes eleitorais, provocadas também pela ingenuidade da UNITA acreditar que Angola caminha para a democracia, Samakuva alterou os jogadores, a forma de jogar e prometeu, continua a prometer, melhores resultados.

É inegável que o líder da UNITA conseguiu juntar alguns bons jogadores. Mas também é verdade que se esqueceu que não bastam bons jogadores para fazer uma boa equipa.

Muitos desses craques não conseguem olhar para além do umbigo, do próprio umbigo. Continuam alguns a preferir ser assassinados pelo elogio do que salvos pela crítica. Por isso teimam em radiografar o mensageiro e em sequer olham para a mensagem. Habituaram-se à lagosta e esqueceram a mandioca.

O mundo ocidental esteve e continuará a estar de olhos fechados para o enorme exemplo que a UNITA deu. Em 2003, abriu bem os olhos porque esperava o fim do partido. Isso não aconteceu.

Agora estamos a ver que ao Ocidente basta uma UNITA com 10% dos votos para dar um ar democrático à ditadura do MPLA. Aliás, por alguma razão o Ocidente não reagiu às vigarices, às fraudes protagonizadas pelo MPLA. E não reagiu porque não lhe interessa que a democracia funcione em Angola. É sempre mais fácil negociar com as ditaduras.

Para mais informações, devem os militantes da UNITA (incluindo alguns dirigentes) ler ou relar o compromisso de Muangai, firmado em 13 de Março de 1966.

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