O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou hoje a sua presença na tomada de posse do recém-eleito Presidente angolano, João Lourenço, e garantiu nunca se sentir desconfortável quando defende os interesses de Portugal. Será que vai defender o pagamento da dívida no caso BES? Entretanto não se inibe de passar atestados de menoridade intelectual aos angolanos.
“N unca me sinto desconfortável quando defendo os interesses de Portugal”, frisou o Presidente português, depois de ser confrontado com acusações do vice-presidente da UNITA, Raúl Danda, que, em entrevista à Lusa, considerou o que muitos angolanos (inclusive o Folha 8) dizem há mutos anos. Ou seja, que Portugal se tem “vergado” nas relações com o MPLA (Angola é outra coisa), colocando-se numa “situação de verdadeira dependência”.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou, a propósito, que as diversas forças políticas concorrentes às eleições em Angola reconheceram a vitória do MPLA, justificando por isso as felicitações que dirigiu a João Lourenço, o Presidente angolano eleito, mesmo antes de haver resultados definitivos.
É certo que Marcelo Rebelo de Sousa sabia, mesmo antes das eleições, que o MPLA iria ganhar e que João Lourenço seria o próximo presidente. E sabia porque Angola tem há 42 anos um dos regimes mais democráticos e transparentes do mundo (batendo-se de igual para igual com a Coreia do Norte e a Guiné Equatorial), o que aliado ao facto de ser um dos países mais corruptos do mundo, liderar o ranking mundial da mortalidade infantil e ter 20 milhões de pobres, garantia a vitória de João Lourenço e do MPLA.
“Felicitei o Presidente, tendo presente que as mais diversas forças políticas reconheceram que houve a vitória de uma força e, de acordo com a lei angolana, bastava uma força política ter mais um voto do que as demais para o cabeça de lista dessa força ser Presidente da República”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa, ocultado o desrespeito manifestado para com os outros partidos angolanos que, bem cedo, alertaram e provaram a existência de uma fraude gigantesca, não vendo necessidade de ser sério nem de o querer parecer.
Em declarações aos jornalistas, à margem de uma visita que fez à Festa do Outono, que decorre este fim-de-semana, em Serralves, no Porto, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que “ninguém discutiu, nem a nível internacional, nem a nível interno, que tenha havido uma força vencedora” em Angola.
Ninguém discutiu? A nível internacional Marcelo Rebelo de Sousa deve estar a referir-se aos observadores eleitorais da União Europeia. Ah! O MPLA não deixou entrar observadores da UE. E certamente foi esses que o Presidente português auscultou… A nível interno de Angola, deve estar a referir-se ao MPLA mas também ao MPLA e ainda ao MPLA!
Quanto a instituições internas, Marcelo Rebelo de Sousa deve estar a respaldar-se na Comissão Nacional Eleitoral e no Tribunal Constitucional, voluntariamente esquecendo-se que ambos foram, são e serão sucursais do MPLA.
Mostrando que para ele o corredor de fundo e o fundo do corredor são a mesma coisa, Marcelo Rebelo de Sousa diz –mentindo deliberada e conscientemente – que tendo sido “respeitada a lei eleitoral e a Constituição” angolana, “há um presidente eleito, e o Presidente da República de Portugal, uma vez convidado, vai à posse do novo Presidente da República de Angola, pensando nas relações fundamentais que existem entre milhares e milhares de portugueses que estão em Angola e também alguns milhares de angolanos que estão em Portugal”.
Como aqui escreveu Paulo de Morais (Presidente da Frente Cívica), João Lourenço torna-se a partir de terça-feira “o principal responsável pela dívida de cerca de cinco mil milhões de dólares que Angola deve a Portugal”. Será que Marcelo Rebelo de Sousa vai falar deste assunto com o seu homólogo angolano, tanto mais que em questão está uma dívida a Portugal? Claro que não. Aliás, de joelhos apenas se escuta – não se fala.
“(…) Facto é que, até hoje, o dinheiro não chegou a Portugal. E, neste momento, é o Estado português que está comprometido com garantias de 3,5 mil milhões de euros na sequência do processo de salvação da banca, designado de “resolução”, que dividiu o ex-BES português em BES e Novo Banco”, recorda Paulo de Morais.