O sorteio realizado hoje pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), em cerimónia presenciada pelos mandatários das seis formações políticas que concorrem às eleições deste ano, mostrou mais uma coincidência (entenda-se esperteza despótica, fraude) do MPLA. Duas das bolas usadas no sorteio tinham um grama a mais. Ambas estavam destinadas ao MPLA.
Perante a constatação da irregularidade, que foi registada em acta, foi utilizada uma terceira bola pelo MPLA, esta sim com os 50 gramas regulamentares. Falhou assim a primeira tentativa de viciação pelo MPLA das regras eleitorais. Com 1 grama a mais a bola do regime seria, caso não fosse detectada a manigância, a primeira a sair e dessa forma seria o MPLA a ocupar o primeiro lugar no Boletim de Voto.
E, num contexto de um eleitorado substancialmente iletrado, seria muito fácil que em caso de dúvida o subconsciente leve os votantes a fazer a cruz no primeiro da lista. Também em matéria de propaganda, morreu a estratégia dos acólitos do MPLA dizerem simplesmente “votem no primeiro”.
Costuma dizer-se, embora isso não faça escola em Angola, que não basta ser sério, é preciso também parecer sério. Ora, no sorteio realizado hoje, a CNE não foi séria nem sequer se preocupou em parecer séria. Seria assim tão difícil arranjar bolas que tivessem todas rigorosamente o mesmo peso?
Claro que não. Mas, mais uma vez, nas pequenas acções se vêem as grandes organizações, a seriedade e transparência dos seus actos. A CNE falhou e, como poderá ser o caso, cesteiro que faz um cesto… faz um cento.
Perante este contratempo, a CNE teve de se render às evidências e, assim, o sorteio com bolas com o mesmo… peso, ditou que a UNITA vai figurar na primeira posição do boletim de voto nas eleições gerais de 23 de Agosto, seguindo-se a Aliança Nacional Patriótica (APN). A terceira posição é ocupada pelo PRS, seguido do MPLA, FNLA e CASA-CE.
Angola contará com 9.317.294 de eleitores nas eleições gerais de aAgosto, segundo dados oficiais que o Ministério da Administração do Território entregou à Comissão Nacional Eleitoral.
A Constituição angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90).
O cabeça-de-lista pelo círculo nacional do partido ou coligação de partidos mais votados é automaticamente eleito Presidente da República e chefe do executivo, conforme define a Constituição, moldes em que já decorreram as eleições de 2012.
Pela UNITA, a lista pelo círculo nacional é encabeçada por Isaías Samakuva, presidente do partido e que concorre desta forma à eleição, por via indirecta, para Presidente da República. Pela APN, a lista é liderada por Quintino Moreira, seguindo-se Benedito Daniel, líder e cabeça-de-lista do PRS.
João Lourenço, vice-presidente do MPLA e ministro da Defesa, lidera a lista, concorrendo assim à sucessão de José Eduardo dos Santos, chefe de Estado e que ao fim de 38 anos no poder já não vai a votos. Pela FNLA concorre, como cabeça-de-lista, o líder do partido, Lucas Ngonda, e pela CASA-CE, avança Abel Chivukuvuku, líder e cabeça-de-lista daquela coligação.