Bajulação portuguesa é suficiente para o MPLA?

O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, diz que foram as “relações intensas” entre Portugal e Angola que o levaram também a felicitar o presidente angolano eleito mesmo antes de os resultados finais estarem publicados.

Recuemos, entretanto, a 2012, ano também eleitoral em Angola. Marcelo Rebelo de Sousa disse, então como opinador-mor do reino, umas coisas interessantes sobre o nosso país que é sempre bom recordar.

Marcelo disse que grupos económicos angolanos queriam comprar a comunicação social portuguesa porque estavam a pensar nas suas estratégias na sucessão do presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

Marcelo Rebelo de Sousa, bem como os porta-microfones que ampliam a sua voz, sabiam já que esses grupos (todos ligados ao “querido líder” Eduardo dos Santos) não queriam comprar o que já tinham comprado.

O antigo presidente do PSD, no seu espaço de antena privativo na TVI, disse que José Eduardo dos Santos ainda era o homem mais poderoso em Angola, embora – na sua opinião – tenha criado grupos que se autonomizaram e que hoje (2012) já pensavam na sucessão.

Marcelo sabia que Eduardo dos Santos foi, é e continuará a ser o homem mais poderoso de Angola, tal como sabe que não há grupos que se desviem um milímetro da estratégia de perpetuação no poder do partido lá está há 42 anos. Todos os grupos de envergadura internacional que existem são geridos pelo presidente de Angola, mesmo que os nomes dos conselhos de administração digam Isabel dos Santos, Manuel Vicente ou Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”.

Marcelo disse então que tinham falhado as negociações para a compra do grupo de comunicação social de Joaquim Oliveira (JN, DN e TSF, entre outros). Ele sabia que poderiam ter falhado de jure, mas que não falharam de facto. Há muito que os donos de Angola, mesmo antes dos casos do Sol e do diário i, já eram donos (sócios executivos, se preferirem) desse mesmo universo fabril de produção de textos de linha branca.

Ao defender a tese de que esses “grupos começam a posicionar-se para a sucessão de José Eduardo Santos”, e que “no futuro esses grupos vão digladiar-se com estratégias diferentes, nomeadamente em Portugal”, Marcelo Rebelo de Sousa estava a prestar um impagável serviço ao dono não só de Angola como do MPLA.

Com a vitória mais do que garantida nas eleições desse ano, Eduardo dos Santos aproveitou para pôr ainda mais a casa em ordem. Ou seja, os que eventualmente tinham essas estratégias diferentes levaram pela medida grossa. E, certamente, o “querido líder” não se esqueceu de agradecer a ajudinha de Marcelo Rebelo de Sousa.

Agora, Marcelo Rebelo de Sousa (que já se encontra em Luanda) afirmou que a sua presença em Luanda, para a cerimónia de investidura do Presidente eleito de Angola, João Lourenço, é uma reafirmação da fraternidade entre os povos e os Estados de Portugal e Angola.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, trata-se de um momento “particularmente simbólico”, que fundamentalmente traduz o “sentimento forte de milhões de portugueses em relação a milhões de angolanos, sabendo que é recíproco”.

Estará o Presidente português a referir-se aos nossos 20 milhões de angolanos pobres? Estará a lembrar-se que o MPLA colocou o país nos primeiros lugares do ranking dos mais corruptos do mundo? Estará a cogitar no facto de Angola liderar o índice mundial de mortalidade infantil?

Questionado pelos jornalistas, o presidente português explicou a felicitação antecipada que fez a João Lourenço, ainda antes dos resultados eleitorais em Angola estarem fechados, e que motivou sérias críticas por parte da oposição angolana.

“O nosso relacionamento é mais intenso do que os relacionamentos dos outros Estados e, portanto, isso explica o porquê de, naturalmente, sermos dos primeiros ou mesmo os primeiros, atentos como estávamos ao que se passava, a exprimir aquilo que entendíamos que era muito importante: a felicitação ao presidente eleito e a reafirmação de um relacionamento fraternal entre povos e Estados”, frisou.

Por outras palavras, o Presidente português quis assumir a liderança do ranking dos países mais bajuladores e mais servis, certo que estava que – provavelmente até muito antes das eleições – o MPLA comeria de cebolada a oposição. Assim, não sendo sério nem sequer se preocupou em parecer sério.

A nível pessoal, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que é também grande a sua expectativa, por se tratar de “uma amizade muito grande”.

Durante a sua estada em Angola, o chefe de Estado português tem programado, para hoje, um passeio na marginal de Luanda, uma visita à escola portuguesa e à Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. Na terça-feira, além de participar na cerimónia de posse pela manhã, Marcelo Rebelo de Sousa terá encontros bilaterais e com a comunidade portuguesa.

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