A projecção mais recente do Instituto Nacional de Estatística indica que Angola terá, em 2017, 28.359.634 de habitantes. Hoje ficou a saber-se que foram vacinadas 20,6 milhões de pessoas contra a febre-amarela no âmbito do combate à epidemia da doença, que surgiu em Luanda em Dezembro de 2015 tendo depois alastrado a todo o país e provocado pelo menos 381 óbitos.
Os números foram revelados hoje, em Luanda, pelo Director Nacional de Saúde Pública, Miguel dos Santos de Oliveira, no balanço da sétima fase da campanha de vacinação contra a doença, que arrancou a 9 de Junho, para chegar a mais 2,7 milhões de habitantes, não abrangidos durante as campanhas anteriores.
De acordo com o responsável, já foram vacinados contra a febre-amarela, até ao momento, 20.677.025 pessoas em 118 municípios e distritos de todo país.
Angola enfrentou uma epidemia de febre-amarela entre Dezembro de 2015 e Junho de 2016, um dos mais graves do género a nível mundial, com 884 casos confirmados laboratorialmente de um total de 4.436 casos suspeitos e 381 óbitos.
A sétima fase da campanha de vacinação previa a mobilização de três milhões de doses de vacina e outros meios logísticos suficientes para 930 equipas, para vacinar diariamente perto de 330 pessoas.
Miguel dos Santos de Oliveira anunciou ainda que a oitava fase da campanha de vacinação arranca a 12 de Julho e vai abranger as populações da Chibia, Chicomba, Quilengues e Cacula, na província da Huíla, e Nzeto e Tomboco, no Zaire, prevendo imunizar 641.900 pessoas.
A meta das autoridades de saúde angolanas é chegar a 26 milhões de pessoas com idade superior a seis meses vacinadas contra a febre-amarela, segundo o Ministério da Saúde de Angola.
Recorde-se que o Governo declarou, em Dezembro do ano passado, o fim da pior epidemia de febre-amarela do mundo em uma geração, depois de uma campanha de vacinação de 25 milhões de pessoas apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) graças à qual não surgiu nenhum caso novo em seis meses.
Ainda nesse mês, o Governo revelou que – segundo as suas contas – o número de crianças angolanas que morrem antes dos cinco anos é de 44 por cada mil nados vivos, uma redução significativa comparativamente aos últimos cinco anos, quando as taxas apontavam para 115 por cada mil. A Organização Mundial de Saúde situava a taxa em 156 e não em 115. Mas o que é que isso interessa?
O importante é repetir até à exaustão uma mentira conveniente. É o que se passa também quando o mesmo governo diz que Angola é aquilo que não é: uma democracia e um Estado de Direito.
No caso da saúde até nem custa mentir. Desde logo porque os que morrem integram esse “exército” de 20 milhões de pobres de cidadão escravos que, embora nascidos em Angola e vivendo em Angola, não são angolanos.
Recorde-se que o surto de febre-amarela teve início em 2015 e que mais de 15 milhões de angolanos e 10 milhões de congoleses foram vacinados durante a campanha coordenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Num comunicado intitulado “O fim da epidemia de febre-amarela em Angola”, o Ministério da Saúde em Luanda disse que a campanha de vacinação deteve o avanço da doença.
Em Setembro do ano passado, a OMS referiu que o surto estava sob controlo, mas que era cedo demais para dizer que havia sido completamente erradicado, já que havia mais de 6 mil casos suspeitos da doença transmitida por mosquitos.
As campanhas de vacinação de então esgotaram o stock global de 6 milhões de doses duas vezes em 2016, obrigando os médicos a administrar um quinto de uma dose normal, táctica que a OMS dizia proporcionar ao menos uma protecção temporária.
O risco de ocorrência de surtos globais aumentou nos últimos anos devido à urbanização e à mobilidade crescente da população, e foi particularmente agudo por causa do evento climático El Niño, que multiplicou a quantidade de mosquitos.
Febre da (nossa) vergonha
O director executivo da Aliança Mundial de Vacinas (GAVI) considerou no dia 3 de Maio de 2017, em Luanda, o surto de febre-amarela registado em Angola, em 2016, com 381 mortos, “um sinal forte da ausência de uma rede de imunização forte”. Que chatice. Mais uma organização a dizer que o regime do MPLA só está interessado no próprio umbigo.
Seth Berkley que iniciou nesse dia uma visita de dois dias a Angola intervinha num encontro de trabalho que manteve com o grupo técnico de imunização do Ministério da Saúde, onde esteve presente o titular da pasta, Luís Gomes Sambo.
“Na minha perspectiva, uma maior prioridade deverá incidir-se sobre os cuidados primários da saúde”, referiu o director executivo da GAVI, que se deslocou também ao Ministério das Finanças para um encontro com o ministro Archer Mangueira.
Para Seth Berkley, com a criação de uma rede de cuidados primários de saúde, “Angola estará em condições de prevenir várias outras doenças”.
“Não somente as doenças infecciosas, como as doenças não infecciosas. Eu penso que o surto da febre-amarela foi na verdade um forte sinal da ausência de uma rede de imunização forte”, frisou.
O responsável reiterou o apoio que pretendem dar ao Governo angolano, manifestando o desejo de saber em que termos pode ser prestada esta ajuda no que diz respeito aos cuidados primários de saúde.
Por sua vez, o ministro Luís Gomes Sambo admitiu que a cobertura de imunização no país ainda não é satisfatória, contudo, decorre um processo de intensificação de vacinação de rotina sobretudo para as crianças menores de um ano, para a prevenção da mortalidade infantil e de epidemias.
O governante angolano referiu que a situação sanitária do país caracteriza-se pela predominância de doenças transmissíveis como a malária, a principal causa de morte em Angola, o HIV/SIDA, com um índice de prevalência de 2%, e a tuberculose, que disse ser “preocupante”.
“Também temos a preocupação crescente das doenças não transmissíveis, as doenças crónicas estão a aumentar no nosso país, e os investimentos do Estado têm sido bastante importantes para esta componente da situação epidemiológica do país”, acrescentou.
Na sua intervenção, Luís Gomes Sambo sublinhou que Angola passa por um período de reforma macroeconómica que decorre da baixa do preço do barril do petróleo no mercado internacional, que teve um forte impacto negativo na economia angolana e nas receitas do Estado, em particular no sector da saúde.
Mas será que a crise na cotação do petróleo já dura há 42 anos, tantos são os anos que o MPLA está no governo?
O titular da pasta da Saúde referiu que está a ser revisto o sistema de financiamento do sector, a partir de um diagnóstico, que está em fase de conclusão, através das contas nacionais de saúde, para se analisar a “forma mais eficiente”, para a utilização dos recursos financeiros do Estado e de alguns parceiros.
“A população também terá um papel importante no financiamento dos cuidados da saúde, mas isso deve ser feito de forma a garantirmos a protecção social, sobretudo, da população mais pobre”, disse.
A GAVI, criada em 2000, integra Governos de países em desenvolvimento e de países doadores, a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Banco Mundial, a indústria de vacinas em países industrializados e países em desenvolvimento, a sociedade civil, a Fundação Bill & Melinda Gates e outros organismos privados.
Recorde-se que, em Agosto de 2016, o Ministério da Saúde informou que a nova campanha de vacinação em curso contra a febre-amarela vacinara já 81% da população alvo, em 22 municípios de 12 das 18 províncias de Angola.
Um comunicado do Ministério da Saúde de Angola, distribuído à imprensa no dia 29 de Agosto de 2016, referia que a nova campanha de vacinação, iniciada no dia 15 desse mês poderia estender-se por mais 15 dias, apesar da cobertura de 81% em dez dias.
O documento destacava a adesão da população à campanha, salientando que as equipas de vacinação estavam a vacinar diariamente em média mais de 150 mil pessoas.
A campanha que abrangia as províncias de Cabinda, Benguela, Cuanza Sul, Huambo, Cuando Cubango, Huíla, Lunda Norte, Lunda Sul, Malange, Uíge e Zaire, e ia permitir aumentar a cobertura de 51 para 73 municípios, elevando igualmente a população imunizada de 13 milhões para mais de 16 milhões.
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