O dólar norte-americano ultrapassou, nas ruas de Luanda, a barreira dos 300 kwanzas. E as ruas são, nesta altura, praticamente o único “banco” onde é possível para aceder a divisas.
U ma ronda feita hoje pela Lusa nas ruas de Luanda, onde dezenas de mulheres – conhecidas por ‘kinguilas’ – se dedicam a este negócio, confirmou que para comprar cada dólar são agora precisos entre 320 a 350 kwanzas (cerca de dois euros). Trata-se do valor mais alto na comercialização (venda) de dólares no mercado informal.
A forte subida de preço para comprar dólares no mercado informal, nos últimos dias, acompanha a desvalorização da moeda nacional realizada pelo Banco Nacional de Angola (BNA) na primeira semana de Janeiro.
O kwanza caiu assim para o valor mais baixo desde Setembro de 2001, desvalorizando 15% para cerca de 156 kwanzas (92 cêntimos de euro) por dólar, que acresce à quebra de 24% em 2015.
O mercado das ‘kinguilas’ está assim a transaccionar dólares ao dobro da taxa de câmbio oficial do país, enquanto as casas de câmbio praticamente não vendem dólares e o envio de remessas para o estrangeiro por transferência bancária apresenta vários constrangimentos, nomeadamente atrasos nas autorizações do BNA.
Na origem das dificuldades está a crise económica, financeira e cambial que afecta Angola, decorrente da quebra na cotação do barril de crude no mercado internacional, o que fez reduzir para menos de metade as receitas fiscais com a exportação de petróleo.
Em Novembro, o banco central começou a limitar o acesso aos dólares, restringindo o montante que disponibilizava aos bancos comerciais, em resultado da descida de mais de 65% no preço do petróleo desde Junho de 2014, o que reduziu drasticamente a disponibilidade da moeda norte-americana.
Sem dólares, os bancos comerciais começaram a limitar os levantamentos ao balcão, mesmo de contas em moeda estrangeira, tornado o mercado de rua como única alternativa.
E assim vão, ou ficam, os bancos
Os bancos angolanos acederam na última semana a 187 milhões de dólares (171 milhões de euros) em divisas vendidas pelo BNA, o melhor registo em várias semanas.
A informação consta do relatório semanal do banco central sobre a evolução dos mercados monetário e cambial relativamente à venda de divisas entre 11 e 15 de Janeiro.
Estas vendas foram de apenas 7,5 milhões de dólares (6,8 milhões de euros) na primeira semana de 2016 e de 135,1 milhões de dólares (123,8 milhões de euros) na última semana de 2015, valores mínimos de alguns meses.
As vendas neste período foram concretizadas a uma taxa de câmbio média de 156,388 kwanzas (92 cêntimos) por cada dólar, inalterada face à semana anterior.
Segundo o BNA, a venda de divisas na última semana “destinou-se fundamentalmente à cobertura de operações de natureza prioritária”, nomeadamente 122,2 milhões de dólares (112 milhões de euros) em leilão de preço para cobertura de necessidades gerais dos bancos comerciais.
Há ainda registo de 6,6 milhões de dólares (seis milhões de euros) em divisas para operações de viagens e remessas de dinheiro ao exterior do país, de natureza de ajuda familiar, e 58,2 milhões de dólares (53,3 milhões de euros) para cobertura de operações inferiores a 20.000 dólares (18.300 euros).
Angola enfrenta uma crise financeira e económica face à redução de receitas fiscais do petróleo, e por consequência cambial, devido à redução da entrada de divisas no país, necessárias para garantir as importações de máquinas, matéria-prima e alimentos.
Alguns bancos angolanos limitaram a venda de divisas a clientes a um máximo de 1.000 dólares (918 euros) por semana e bancos norte-americanos têm vindo a anunciar a suspensão de venda de dólares a Angola.
A falta de divisas, em função da procura, continua a dificultar, por exemplo, as necessidades dos cidadãos que precisam de fazer transferências para o pagamento de serviços médicos ou de educação no exterior do país ou que viajam para o estrangeiro.
Fonte: Lusa