No que ao regime de Angola respeita, o actual Governo português é uma reedição, mais ou menos maquilhada, do anterior que, por sua vez, era cópia do anterior… e por aí fora.
Por Orlando Castro
A ssim, o governo de António Costa admitiu hoje que existem portugueses com salários em atraso em Angola, assegurando que continuará a procurar mitigar os impactos negativos da queda do preço do petróleo nas empresas portuguesas e a dialogar com as autoridades angolanas.
Nada mais, nada menos, do que a estratégia seguida – para não se recuar muito tempo – por José Sócrates, Passos Coelho e Cavaco Silva. Ou seja, um diálogo bajulador, servil e canino.
Numa resposta ao PCP (partido irmão gémeo do MPLA e que apoia o actual executivo português), o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares afirma que “é certo que no actual contexto existem cidadãos nacionais (e também de outras nacionalidades) que vivem e trabalham em Angola e que se vêem confrontados com salários em atraso e/ou se deparam com dificuldades na realização de transferências de salários para Portugal”.
Foi preciso chegar ao governo para este rapaz, Pedro Nuno Santos, descobrir tal coisa. Mas como, ao contrário do que era esperado, a inteligência não abunda para os lados do PS, fiquemos com a esperança de que este também irmão do MPLA (na Internacional Socialista) aprende alguma coisa, mesmo que não vá além de Marrocos.
Pedro Nuno Santos respondia assim ao grupo parlamentar do PCP, que no início de Dezembro questionava o Governo sobre a situação de dezenas de milhares de trabalhadores portugueses (no sector da construção) que estão a trabalhar em Angola alegadamente com salários em atraso.
Os comunistas citavam afirmações do presidente do Sindicato da Construção, que dizia que existiam “cerca de 80.000 trabalhadores portugueses com salários em atraso em Angola”, pedindo “informações exactas” ao Governo sobre essa situação.
“De acordo com a informação prestada pelos nossos representantes diplomáticos e consulares em Angola, na área da construção civil, globalmente, as 15 maiores empresas portuguesas em Angola empregam entre cerca de 5.000 e 6.000 cidadãos nacionais”, lê-se na resposta do Governo.
O executivo afirma que, “para apoiar esses trabalhadores, continuará, à semelhança do que tem vindo a fazer, a procurar mitigar os reflexos negativos que esta baixa do preço do petróleo tem sobre empresas e cidadãos portugueses que investem, exportam ou trabalham em Angola”.
Nesse contexto, sublinha, “prosseguirá, pelos meios próprios, o diálogo franco e estreito com as autoridades angolanas”.
Nem mais. “Diálogo franco e estreito com as autoridades angolanas”.
José Eduardo dos Santos, um presidente que está no poder há 36 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito, continua a gozar à farta com a rapaziada que tem o poder em Lisboa. Perdeu um velho amigo, José Sócrates, mas encontrou na dupla Passos Coelho/Paulo Portas novos amigos que continuaram a abrir as portas (e outras coisas) que existiam e as que não existiam à entrada triunfal do seu clã.
E, afinal, António Costa nada mais é que uma reedição dos anteriores amigalhaços de José Eduardo dos Santos. São, de facto, fuba do mesmo saco. O “querido líder” sabe disso e goza à brava. Faz bem. Se eles se ajoelham… têm de rezar.
Ao que parece, tal como José Sócrates, também António Costa não está interessado em que o MPLA alguma vez deixe de ser dono de Angola. O processo de bajulação continua a bem, dizem, de uma diplomacia económica que – neste caso – se está nas tintas para os portugueses e para os angolanos.
Embora já não tendo, como no tempo de José Sócrates, tantos ditadores para idolatrar, o governo de António Costa continua a querer dar-se bem com os que existem, sobretudo com aqueles que têm dinheiro para ajudar a flutuar as ocidentais praias lusitanas.
Tal como Passos Coelho e Paulo Portas, António Costa acredita que o importante para Portugal são os poucos que têm milhões e não, claro, os milhões que têm pouco… ou nada. E tem razão. São esses poucos que poderão ajudar a flutuar o país, bem como a branquear os BPN, BES, BANIF etc.. Prorroga-se, portanto, o prazo de validade do estatuto de protectorado que Angola concedeu a Portugal.
E se Paulo Portas dizia que as relações com Angola eram excelentes, é porque eram mesmo. É por isso que o actual governo socialista quer ir mais além. E quer ficar na história por ser no seu consulado que se firmará a Oferta Pública de Aquisição lançada por Angola (que não pelos angolanos) sobre Portugal.
As relações são tão excelente como os 68% (68 em cada 100) de angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome.
Tão excelentes como o facto de 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Tão excelentes como Angola ser um dos países mais corruptos do mundo.
Tão excelentes como a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, ser o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Tão excelentes como o facto de 80% do Produto Interno Bruto ser produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada ser subtraída do erário público e estar concentrada em menos de 0,5% de uma população.
Tão excelentes como a certeza de que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, estar limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Corroborando a velha estratégia de bajulação socialista, social-democrata e democrata-cristã ao regime angolano, os portugueses continuam agora a assistir a novos episódios da mesma bajulação, embora com diferentes protagonistas.
Parafraseando José Sócrates, não basta ser ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros para saber contar até doze sem ter de se descalçar… Mas, é claro, ser do governo é suficiente para, por ajuste directo, entregar ao dono de Angola tudo o que ele quiser. Espera-se, aliás, que queira tudo e mais alguma coisa.