O regime angolano prendeu no domingo, 23 de Outubro, um grupo de mais de uma dezena de cidadãos da República Democrática do Congo, que se reunia no bairro Palanca, em Luanda, e que pretendia protestar contra a permanência de Joseph Kabila na presidência ou no governo de transição do país vizinho.
Por Pedrowski Teca
O Folha 8 obteve informações por intermédio de um dos participantes do mesmo encontro, que conseguiu escapar da detenção, revelando que seus companheiros foram levados para a unidade prisional sob tutela do Serviço de Migração e Estrangeiro (SME), localizada no bairro do Trinta, no município de Viana, Luanda.
O mesmo centro prisional alberga cidadãos estrangeiros presos, que posteriormente são deportados.
Segundo a nossa fonte, há cerca de dois anos que o mesmo grupo se reúne no bairro Palanca, no que chamam de “Parlamento a pé” (tradução directa de uma frase na língua francesa), com a finalidade de debaterem assuntos sobre o seu país de proveniência.
A fonte defende que tudo indica que estavam a ser monitorados e que havia elementos dos serviços de secretos de informação infiltrados ao grupo.
No domingo, 23 de Outubro, o dia em que planeavam fazer acertos finais para o protesto, o grupo foi surpreendido e detido por elementos da Polícia Nacional e dos Serviços de Investigação Criminal (SIC).
Eles planeavam manifestar-se na quarta-feira, 26, dia da 7ª reunião de Alto Nível do Mecanismo Regional de Supervisão do Acordo Quadro para a Paz, Segurança e Cooperação na República Democrática do Congo (RDC) e na Região dos Grandes Lagos, realizada no Centro de Convenções do Talatona, em Luanda.
O grupo dos cidadãos congoleses democratas pretendiam demonstrar a sua insatisfação diante dos presidentes que participaram nesta 7ª reunião, nomeadamente: o anfitrião José Eduardo dos Santos, da RDC, Joseph Kabila, do Congo, Denis Sassou Nguesso, da Zâmbia, Edgar Lungu, do Tchad, Idriss Deby, na qualidade de presidente em exercício da União África.
Este encontro é especificamente dos 12 países membros da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), mas infelizmente somente 5 compareceram em Luanda, com a finalidade de se resolver a situação da crise política na RDC, notando-se assim, a ausência dos presidentes do Quénia, Burundi, Suazilândia, Ruanda, África do Sul, Sudão, Tanzânia e do Uganda.
Marcaram também presença, a Presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Zuma, o enviado do secretário-geral da ONU para a região dos Grandes Lagos, Said Djinnit, e representantes de países membros do Conselho de Segurança da ONU.
Acordos de Luanda são vagos
A maior exigência dos partidos políticos da oposição da RDC é a não participação do presidente Joseph Kabila nas próximas eleições, sendo que o mesmo já cumpriu com os dois mandatos presidenciais garantidos pela Constituição daquele país, que terminam em Dezembro deste ano.
Esta crise política na RDC, começou em Janeiro de 2015, quando Joseph Kabila pretendia alterar a Constituição daquele país de forma a permiti-lo a concorrer a um terceiro mandato. Na altura, a oposição e o povo protestou contra tal medida.
Em Setembro último, Kabila teve pretensões de adiar a realização das eleições, alegando que o seu país não tinha capacidade financeira para realizar o registo eleitoral.
Etienne Tshisekedi, o principal opositor de Kabila, acuso-o de recorrer a esse expediente para se manter artificialmente no poder. A posição foi contestada com manifestações violentas que levaram a dezenas de mortes.
Portanto, nesta 7ª reunião de Alto Nível do Mecanismo Regional de Supervisão do Acordo Quadro para a Paz, Segurança e Cooperação na República Democrática do Congo (RDC) e na Região dos Grandes Lagos, sem a presença da oposição congolesa, acordou-se pela configuração de um governo de transição liderado por Joseph Kabila, mas que possa ter um primeiro-ministro indicado pela oposição, formando um governo inclusivo, isto é, tendo como ministros os representantes de várias sensibilidades da sociedade congolesa.
Antecipadamente, o recente acordo de Luanda vai por água abaixo porque, tal como o grupo detido em Luanda, a oposição congolesa liderada por Etienne Tshisekedi, pretende mostrar um “cartão vermelho” ao presidente Joseph Kabila, tão logo o seu mandato terminar, exigindo que o mesmo se retire completamente da liderança da República Democrática do Congo.