Gravidade (política) invertida (II)

Comparações fúteis e, de falsidade em falsidade, surge a pérola de que “Angola está a lidar com a crise melhor do que outros países. Exemplos disso são a baixa progressiva dos preços dos bens essenciais, da inflação e da taxa de juros; a recuperação da actividade das empresas e dos níveis de emprego”.

Por William Tonet

Haja coração, para tanto desencontro com o país real, onde os preços dos bens essenciais aumentam todos os dias, a taxa de juros está em espiral e não existe recuperação das empresas e do emprego, pelo contrário.

Mais grave, justificar o atraso da recuperação económica com o facto de “em 2002, Angola e o Cambodja eram os países do Mundo que tinham mais minas antipessoais e antitanque. Falou-se, na altura, em cerca de dois milhões de minas implantadas, é tentar esconder a incompetência na gestão da coisa pública.

O Presidente dos angolanos do MPLA, foi, mais uma vez, fiel aos princípios da órbitra partidocrata, que sem ciência e visão futura, limita-se, bajuladoramente, a bater palmas, lá onde elas não carecem, como nesta vulgaridade.

“Não podemos falar do nosso país como se estivéssemos a falar de Portugal, de Cabo Verde ou do Senegal. A nossa história não é igual, nem parecida com a dos outros”. Esta foi a maior verdade do discurso.

Na realidade, Portugal, Cabo Verde e Senegal não têm os recursos naturais, em exploração, caso do petróleo e diamantes, como Angola e, ainda assim conseguiram gerir os parcos recursos financeiros, com base em boas práticas de governação, que lhes permite gerir a crise melhor que o regime angolano.

Em Portugal, Cabo Verde e Senegal, honra seja feita, a José Eduardo dos Santos, não existem tantos gatunos institucionais e corruptos por metro quadrado como em Angola, por isso o próprio presidente rematou: “O nosso povo está consciente desse facto e sabe o que quer e como construir o seu futuro”, logo um futuro só possível, com um BASTA através de uma mudança positiva de regime, para acabar com a concentração monárquica da riqueza de todos os angolanos, numa só família e partido político, clique neocolonial que exclui a maioria dos cidadãos, aumentando a pobreza e a exclusão social, para níveis alarmantes.

O TPE (Titular do Poder Executivo) não tem noção de despesas públicas, pelo contrário, aumenta-as, quando, nesta altura, a política de contenção deveria ser a opção. Uma gestão responsável, inteligente e patriótica levaria à redução dos ministérios e secretárias de Estado, à limitação das viagens ao exterior de ministros e directores nacionais, levando-os quando fosse caso disso a viajarem em económica.

Só esta falta de visão e irresponsabilidade, faz com que não se baixem os impostos das mercadorias e bens importação, não revogue o decreto de importação de viaturas com mais de três anos e não incentive a venda entre 10 a 20 mil dólares mês aos pequenos e médios empreendedores.

Todos os dias, o regime aumenta os níveis de criminalidade. Ele é o principal fomentador, ao destruir mercados populares, espancar e matar zungueiras e ambulantes. O maior gerador foi a selvática e inoportuna destruição do armazéns e mercado do Roque Santeiro, que gerava emprego directo e indirecto a mais de 10 mil pessoas, garantindo sobrevivência e escolaridade a um universo calculado de mais de 28 mil pessoas.

Mais grave ainda é um Presidente da República, sem exemplos a dar, vir a terreiro falar de transparência eleitoral, quando mantém no seu gabinete, toda a máquina de registo e controlo eleitoral, que deveria estar na alçada da CNE (Comissão Nacional Eleitoral). Ademais, nenhum promotor de golpes de Estado, de ditadores que violam e alteram constituições, para se perpetuarem no poder, casos do Congo Brazzaville, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, enviando tropas ao arrepio da Constituição e do Parlamento, pode apontar o dedo aos Estados Unidos da América, quando faz precisamente igual, contribuindo para a instabilidade política desses países.

Só assim se justifica a ladainha de continuar a investir na Defesa e Segurança, em detrimento de sectores sociais. Pese nada de novo e contundente ser dito, lá se ouviam palmas. Palmas, de alguns eufóricos deputados do MPLA, não de todos, reconheçamos, face à retórica vazia de um discurso sem perspectiva, sem norte e distante do gemer e sentir das dificuldades reais dos povos de Angola e não só. Foi na realidade o discurso mais cínico, vazio e instigador de ódios e descontentamentos, pronunciados por José Eduardo dos Santos.

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