O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que é preciso um “esclarecimento tão transparente quanto possível” sobre a alegada interferência directa do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, nos negócios entre a empresária angolana Isabel dos Santos e o sector bancário.
“N ão temos boa memória dos tempos em que os governos e os primeiros-ministros se envolviam em processos societários que não respeitam ao Estado, respeitam aos privados, e era muito importante que houvesse um cabal esclarecimento dessa matéria”, disse Passos Coelho.
Para o líder do PSD, ex-primeiro-ministro e até há pouco tempo bajulador-mor do reino e do regime de José Eduardo dos Santos, é preciso que os governos “salvaguardem a sua independência e a sua isenção de processos que não estão sob a sua alçada directa” e, por isso, espera que haja um “esclarecimento cabal desta matéria”.
O Expresso noticiou que António Costa e a empresária angolana, para ultrapassar o impasse no BPI, reuniram-se em Lisboa e terão conciliado posições com o grupo financeiro espanhol La Caixa, com a filha do Presidente de Angola a vender a sua participação no BPI aos espanhóis e o BPI a ceder as suas acções do banco angolano BFA a capitais angolanos.
Já ontem o vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Leitão Amaro, anunciou um pedido de esclarecimento e referiu que vão ser formuladas oito perguntas ao Governo socialista sobre as alegadas interferências nos negócios entre a empresária angolana Isabel dos Santos e o sector bancário.
Fazem muito bem. Esclareçam isso e, já agora, também expliquem como foi lavrado o terreno, durante o governo anterior (PSD/CDS), para que a filha do presidente Eduardo dos Santos (nunca nominalmente leito e no poder desde 1979) semeasse tostões e colhesse milhões. Ou como foi possível nesse mesmo tempo a Isabelinha dos Santos ter, directa ou indirectamente, tantas lavandarias em Portugal.
“Aquilo que não é comum, e eu seguramente nunca o fiz no passado, é haver notícia pública de que haja uma intervenção directa do primeiro-ministro em assuntos que não são matéria de Governo”, frisou Passos Coelho.
Das duas uma. Ou Passos Coelho pensa, erradamente, que o regime do paizinho de Isabel dos Santos não tem memória ou, e talvez os portugueses gostassem de saber disso, não pensa regressar ao Governo nos anos mais próximos.
Certo é que, como sabe o regime angolano e todos quantos se interessam por Angola, Passos Coelho enquanto primeiro-ministro bajulava Eduardo dos Santos às segundas, quartas e sextas. Enquanto líder do PSD fazia isso às terças, quintas e sábados. Ao domingo encarregava o sipaio Paulo Portas dessa tarefa.
O líder social-democrata defendeu que o Governo deve seguir com atenção a situação do sistema financeiro mas, frisou, esta não é matéria em que o “Governo se deva envolver”.
“E como houve notícias e esta última não foi a única mas foi aquela que deu de forma mais detalhada ideia de que o próprio primeiro-ministro teria autorizado operações que são operações de natureza privada, seja relativamente ao BPI ou ao BCP, nós estranhamos porque o Governo e o primeiro-ministro não têm nenhuma competência directa nestas matérias e não é bom que tenham”, sustentou.
Com a bênção de Marcelo… tudo continuará bem
Cero é, no meio desta palhaçada “made in Portugal, o Presidente da República e o primeiro-ministro, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, respectivamente, um dia destes estarão por cá a beijar a mão do rei José Eduardo dos Santos.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa são, reconheça-se, as pessoas indicadas para não só cimentarem como também alargarem as relações com o regime. Ambos sabem que – do ponto de vista oficial – Angola ainda é o MPLA, e que o MPLA ainda é Angola. Portanto… Siga a fanfarra.
Angola é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas. Mas o que é que isso importa a Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa? Importante é saber, na linha do que fizeram José Sócrates e Passos Coelho, que a filha do presidente Eduardo dos soma e segue, mesmo quando se sabe que o regime é um dos mais corruptos do mundo. Ou será por isso mesmo?
Aliás, muitos dos angolanos (70% da população vive na miséria) que raramente sabem o que é uma refeição, poderão certamente alimentar-se com o facto de a filha do presidente vitalício ser também dona dos antigos colonizadores, para além de assistirem ao beija-mão de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa ao “querido líder”.
Os pobres em Angola estão todos os dias a aumentar e a diminuir. Aumentam porque o desemprego aumenta, diminuem por que vão morrendo. Mas a verdade é que esses angolanos não contam para Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, tal como não contam para António Guterres que cá veio pedir a bênção do “escolhido de Deus” para tentar chegar a secretário-geral da ONU.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa sabem, como sabia Sócrates e Coelho, que o presidente angolano está no poder desde 1979 sem ter sido nominalmente eleito. Mas isso pouco ou nada importa… pelo menos por enquanto.
É claro que, segundo a bitola de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, tal como era paradigma de Cavaco Silva, há bons e maus ditadores. Muammar Kadhafi passou a ser mau e Eduardo dos Santos continua a ser bom. E que mais podem querer os bajuladores que enxameiam os areópagos políticos de Lisboa?
Portugal continua de cócoras perante o regime de Luanda, tal como estava em relação a Muammar Kadhafi que, citando José Sócrates, era “um líder carismático”. Talvez um dia Portugal chegue à conclusão que, afinal, Eduardo dos Santos também é um ditador.
Será que alguém vai perguntar a Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa o que pensam desse eufemismo a que se chama democracia em Angola?
Certo será que, nesta matéria, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa continuam a pensar da mesma forma que Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho ou Paulo Portas, para quem Angola nunca esteve tão bem, mesmo tendo 70% dos angolanos na miséria.