Por cada mil nados vivos em Angola, morrem 156 crianças até aos cinco anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). É mentira, disse hoje, em Luanda, o ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo, ao revelar que – segundo as suas contas – a taxa de mortalidade infantil passou nos últimos cinco anos de 115 (não 156 como diz a OMS) para 44 por cada mil nascidos vivos.
Por Orlando Castro
Tudo leva a crer que o ministro não sabe o que diz e, claramente, não diz o que sabe. São os custos de ser membro de um governo que se julga detentor da verdade e, por isso, formata o pensamento dos seus ministros e similares.
Segundo a OMS, Angola (pensamos que só existe uma) aparece na cauda da tabela da mortalidade infantil mundial e foi o país com a segunda mais baixa esperança de vida em 2015.
Segundo o relatório da OMS, por cada 1.000 nados vivos morrem em Angola 156,9 crianças até aos cinco anos, apresentando por isso a mais alta taxa de mortalidade mundial em 2015.
Além disso, em cada 100.000 nados vivos em Angola morrem 477 mães, neste caso distante da Serra Leoa, onde para a mesma proporção morrem 1.360 mulheres.
Aquela organização das Nações Unidas (Luís Gomes Sambo foi director Regional da OMS para África numa época em que pensava pela sua própria cabeça) referiu igualmente que a esperança média de vida à nascença em Angola cifrou-se nos 52,4 anos, apenas à frente da Serra Leoa, com 50,1 anos.
Contudo, em Março passado, na apresentação dos resultados definitivos do recenseamento da população angolana, realizado em 2014, o Instituto Nacional de Estatística de Angola anunciou que a esperança média de vida no país passou a estar fixada em 60,2 anos.
Esse recenseamento concluiu que as mulheres angolanas aspiram agora a viver até aos 63 anos e os homens até aos 57,5 anos, num universo de 25,7 milhões de habitantes.
Já para a OMS, essa esperança de vida foi em 2015 de 54 anos nas mulheres e de 50,9 anos nos homens, para um universo de 25,022 milhões de habitantes.
Segundo o relatório estatístico da OMS, em Angola, a expectativa de uma vida saudável à nascença é de apenas 45,8 anos, igualmente uma das mais baixas do mundo.
A OMS refere que perto de metade da população angolana (49%) tinha acesso a fontes de água potável em 2015, o segundo pior registo em 47 países africanos, enquanto o acesso a saneamento abrange 52%, a 11.ª posição no mesmo grupo.
O relatório estima ainda que cada angolano com mais de 15 anos terá consumido o equivalente a 7,6 litros de álcool em 2015. E acrescenta que a cada 1.000 angolanos não infectadas por HIV, com idades entre os 15 e os 49 anos, surgiram em 2014 uma média de 2,1 novos casos da doença. Em 2014, segundo a OMS, em cada 100.000 angolanos, 370 tinham tuberculose.
A verdade da mentira do regime
Os dados referidos foram apresentados pelo titular da Saúde no final da Sessão Extraordinária do Conselho de Ministros, encontro que, sob orientação do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, tomou conhecimento do Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde referente a 2015/2016.
De acordo com o governante, estes indicadores representam uma tendência positiva no domínio da saúde em Angola e que o mesmo relatório traz outras informações ligadas à saúde que fazem crer que a taxa de mortalidade materna terá também melhorado.
Por seu lado, o Director Nacional do Instituto Nacional de Estatística, Camilo Ceitas, que também participou na reunião do Conselho de Ministros, revelou que a instituição que dirige em coordenação com o Ministério da Saúde e com apoio de parceiros como a OMS, Unicef e Banco Mundial levaram a cabo o inquérito de Indicadores Múltiplos deste sector 2015/2016.
Disse que os objectivos do aludido inquérito foram basicamente obter informação sobre o sector da saúde, concretamente sobre a mulher, criança e o agregado familiar, considerado os mais importantes dos sistemas de estatísticas, não só em Angola mas também em África.
Segundo Camilo Ceitas, Angola, ao contrário do que se diz, já não é o país com maior taxa de mortalidade infantil no mundo.
“Angola está neste momento situada na quarta posição a nível da SADC e a nível do continente africano nos décimo ou décimo segundo lugar”, explicou Camilo Ceitas, que considerou “redução extraordinária” a verificada no índice de mortalidade infantil no país, que agora depois do conflito armado está a recuperar todo o seu sistema sanitário e social.
Ao que parece, tanto Gomes Sambo como Camilo Ceitas (bem como José Eduardo dos Santos) têm razão em desmentir a Organização Mundial de Saúde. Isto porque o levantamento, exaustivo e pormenorizado, feito pelo Instituto Nacional de Estatística refere-se exclusivamente aos angolanos de primeira, não abarcando – portanto – os 20 milhões de pobres que embora nascidos em Angola, que embora vivam em Angola, não são… angolanos.
Provavelmente a próxima análise estatística às questões de saúde irá colocar o país como um dos melhores do mundo. Basta para isso que, por determinação superior do ministro da Saúde (em conformidade com as ordens superiores) se analise apenas o que se passa a nível do clã familiar de José Eduardo dos Santos.
isseazar!