“Escolhido de Deus” aguarda beija-mão de Marcelo e Costa

O Presidente e o primeiro-ministro de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, respectivamente, visitarão oficialmente Angola “em breve”, disse hoje, em Lisboa, o chefe da diplomacia angolana.

Georges Chikoti falava aos jornalistas após a 14.ª Reunião Extraordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorreu hoje na capital portuguesa, indicou que as datas das visitas de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa serão tratadas pela via diplomática.

O chefe da diplomacia angolana, ladeado pelo homólogo português, Augusto Santos Silva, adiantou por outro lado que as relações políticas, diplomáticas e económicas são “boas”, factores que justificam as visitas de Marcelo e Costa a Angola.

“Sei que houve contactos entre Luanda e Lisboa e teremos, provavelmente nos próximos tempos, a visita do Presidente e do primeiro-ministro de Portugal a Angola. Caberá agora aos nossos dois ministérios trabalhar para que consigamos encontrar as datas”, sublinhou.

Por outro lado, Chikoti, que manteve uma reunião de trabalho “muito profunda” com Santos Silva à margem da reunião da CPLP, lembrou que o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, recebeu hoje, em Luanda, o antigo primeiro-ministro português António Guterres, candidato a secretário-geral das Nações Unidas que, disse, “honra toda a comunidade lusófona”.

“Comentámos isso durante a nossa reunião e achamos que seria uma boa oportunidade para podermos todos (os nove Estados membros da CPLP) apoiar esta candidatura”, afirmou.

O ministro das Relações Exteriores angolano também lembrou que os dois países já finalizaram o próximo programa de cooperação bilateral, com Santos Silva a afirmar que será assinado “quando for oportuno”.

“Estamos a trabalhar na intensificação das relações políticas, económicas e económicas e o papel de Angola na região, como país que lidera a Conferência Internacional sobre os Grandes Lagos, bem como na África Austral, que é muito importante. As relações são boas e deve melhorar”, sublinhou Santos Silva.

O ministro angolano disse ainda ter convidado o homólogo português a participar, na próxima segunda-feira, em Nova Iorque, numa “reunião aberta” no Conselho de Segurança da ONU, órgão que Angola preside ao longo do mês em curso, convite que foi aceite.

Afinal tudo está (mais ou menos) bem

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa são, reconheça-se, as pessoas indicadas para não só cimentarem como também alargarem as relações com o regime. Ambos sabem que – do ponto de vista oficial – Angola ainda é o MPLA, e que o MPLA ainda é Angola. Portanto… Siga a fanfarra.

Angola é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas. Mas o que é que isso importa a Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa? Importante é saber de facto que a filha do presidente (nunca eleito nominalmente e no poder desde 1979) soma e segue, mesmo quando se sabe que o regime é um dos mais corruptos do mundo. Ou será por isso mesmo?

Aliás, muitos dos angolanos (70% da população vive na miséria) que raramente sabem o que é uma refeição, poderão certamente alimentar-se com o facto de a filha do presidente vitalício ser também dona dos antigos colonizadores, para além de assistirem ao beija-mão de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa ao “querido líder”.

Os pobres em Angola estão todos os dias a aumentar e a diminuir. Aumentam porque o desemprego aumenta, diminuem porque vão morrendo. Mas a verdade é que esses angolanos não contam para Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, tal como não contam para António Guterres que cá veio pedir a bênção do “escolhido de Deus” para tentar chegar a secretário-geral da ONU.

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa sabem que o presidente angolano está no poder desde 1979 sem ter sido nominalmente eleito. Mas isso pouco ou nada importa… pelo menos por enquanto.

É claro que, segundo a bitola de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, há bons e maus ditadores. Muammar Kadhafi passou a ser mau e Eduardo dos Santos continua a ser bom. E que mais podem querer os bajuladores que enxameiam os areópagos políticos de Lisboa?

Portugal continua de cócoras perante o regime de Luanda, tal como estava em relação a Muammar Kadhafi que, citando José Sócrates, era “um líder carismático”. Talvez um dia Portugal chegue à conclusão que, afinal, Eduardo dos Santos também é um ditador.

Será que alguém vai perguntar a Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa o que pensam desse eufemismo a que se chama democracia em Angola?

Certo será que, nesta matéria, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa continuam a pensar da mesma forma que Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho ou Paulo Portas, para quem Angola nunca esteve tão bem, mesmo tendo 70% dos angolanos na miséria.

De facto, como há já alguns anos dizia Rafael Marques, os portugueses só estão mal informados porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco ortodoxos e muito menos humanitários. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa não escapam à regra.

Custa a crer, mas é verdade que os políticos, os empresários e os (supostos) jornalistas portugueses (há, é claro, excepções) fazem um esforço tremendo (se calhar bem remunerado) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas, as tais que estão no poder desde 1975.

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