Quem vai decidir as eleições em Angola, previstas para 2017, nomeadamente a percentagem de votos que cada partido ou coligação terá, será mais uma vez a Casa Militar de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos. O Povo e os observadores serão – como sempre – meras figuras decorativas.
Por Orlando Castro
Não será assim, dirão os mais optimistas ou, melhor, os que constituem a minoria que consegue pensar com a cabeça e não, como a maioria, com a barriga… vazia. A mais de um ano de distância (as eleições estão previstas para Agosto de 2017), arriscamos o seguinte resultado: MPLA – 70 a 75%, UNITA – 15 a 20%, CASA-CE – 10 a 15%.
Os observadores internacionais, escolhidos a dedo, por medida e à medida, irão – é para isso que serão instalados nos melhores hotéis e com todas as mordomias – confirmar a democraticidade, transparência e honorabilidade do acto. Aliás, poderão mesmo escrever o respectivo relatório, a dizer isso mesmo, antes das eleições.
Para além de ficarem nos melhores hotéis (ninguém lhes paga para ir ao país profundo ou para indagarem sobre o que se passa do lado de lá da cortina… de ferro) e comerem do bom e do melhor (se não fosse para isso o que é que iriam lá fazer?), estarão sempre – honra lhes será feita – na primeira fila dos acontecimentos.
E vão estar na primeira fila para, como impolutos observadores, ver tudo o que se passará. Além disso essa localização estratégica permitirá que todos os vejam.
Trata-se, aliás, de uma manifestação de esperteza. Pelo contrário, os competentes na arte de ganhar eleições custe o que custar ficarão lá atrás. Não serão vistos, mas verão tudo o que se passa. E, mais do que isso, mais uma vez vão ver tudo bem antes das eleições. Muito antes.
De facto, e como será esperado pelo regime angolano, na primeira fila de observação está sempre a subserviência, colectiva ou individual.
Os que sabem tudo, esses estão na primeira fila. Cá atrás não estarão os observadores. E não estarão porque se o fizerem poderão, mesmo que involuntariamente, ver o que se passará de facto. E se virem… será uma chatice não relatar. Além disso, o grosso da fraude não se passa mas mesas de voto. Passa-se no centro (nevrálgico) do controlo informático, sob as ordens de especialistas nacionais e internacionais.
É por isto que os observadores eleitorais estarão sempre na primeira fila. Todos saberão quem eles são e ao que vão. Se calhar poderão passar despercebidos e, dessa forma, ver melhor a realidade. Mas não será para isso que eles lá vão estar.
E para um observador que se preze, o silêncio é uma regra de ouro. E se a isso conseguir juntar a cegueira, então é o diamante no cimo dos dólares. E em matéria de eleições o regime não esquece, pelo contrário, o trabalho dos acéfalos contratados nos mais diversos areópagos da política internacional
Como lhe compete (ou não sejam os donos dito tudo), o MPLA só dará luz verde aos observadores que entender. Os enviados da União Europeia, CPLP, UA e outros farão os trabalhos de casa e levarão já o dossier pronto. Em branco ficará apenas o espaço para coisas menores que, depois de escritas, ajudarão a embrulhar a fraude com as vestes da mais lídima transparência.
É claro que a fraude não se limitará ao acto do colocar o voto na urna. Começará antes, bem antes. Já começou, aliás. Tão antes que ninguém da oposição conseguirá a tempo e horas (como, aliás, estava previsto na lei) saber o que se passará com os cadernos eleitorais.
Por alguma razão as pessoas que o regime entenderá serem as mais credenciadas para as mesas e assembleias de voto voltarão a ser membros das diferentes estruturas do MPLA, mesmo que alguns apareçam rotulados como sendo indicados pelos partidos da oposição.
Aliás, quem decidirá as eleições, nomeadamente a percentagem de votos que cada partido ou coligação teria foi a Casa Militar do Presidente da República, com destaque para Hélder Vieira Dias, Kopelika e a sua equipa de generais.
Pela via informática/electrónica, já em rodagem e aperfeiçoada para evitar o que foi descoberto e denunciado nas últimas eleições, os resultados recebidos serão convertidos, reciclados, para desta vez não haver discrepância entre os resultados apurados in loco nas assembleias de apuramento e os divulgados pela CNE.
E, em muitos casos, a culpa nem é da CNE que, de facto, divulga os dados que recebe e que julga terem origem nos centros de escrutínio. Mas não. Os enviados desses centro vão parar ao comando “Kopelikiano” que os converte e reenvia para a CNE.
Seja como for, nada disto e do muito que continua no segredo dos deuses do MPLA, importa à comunidade internacional que, tal como os angolanos, voltará a ser comida de cebolada.