O primeiro hipermercado “Candando”, projecto de retalho da empresária filha do rei de Angola, Isabel dos Santos, que envolve um investimento de 400 milhões de dólares em cinco anos, abre portas no próximo dia 10, em Luanda.
O grupo Contidis, que vai operar sob a marca “Candando” (abraço), foi apresentado em Setembro passado em Luanda, por Miguel Osório, ex-quadro superior da Sonae e agora administrador do projecto angolano, depois do fim da parceria de Isabel dos Santos com aquele grupo português do retalho.
Anteriormente tinha sido anunciada uma parceria entre a empresária angolana e o grupo Sonae para a introdução de uma rede de hipermercados em Angola.
Esta primeira loja terá uma área de 10.000 metros quadrados, inserindo-se no Shopping Avenida, em Talatona, nos arredores de Luanda, e cumprindo assim a previsão de abertura no primeiro semestre de 2016.
O grupo Contidis, detido a 100% por Isabel dos Santos, prevê abrir um total de dez lojas ao longo de cinco anos, num investimento de 400 milhões de dólares (348 milhões de euros), conforme anunciou anteriormente Miguel Osório. A meta, disse, passa por transformar esta rede no maior grupo de retalho de Angola.
Sobre os hipermercados “Candando”, o director executivo apontou a estimativa de criarem 750 empregos directos em Luanda.
A logística, com a instalação de uma base própria em Luanda, e o apoio e dinamização de uma rede de produtores nacionais são outros objectivos definidos.
As lojas do grupo serão “ancoradas” na venda dos produtos frescos e assim voltadas para a produção nacional, “aliando a distribuição moderna aos mercados tradicionais de Angola”, enfatizou o responsável.
A crise financeira, económica e cambial que afecta o país, fruto da forte quebra da cotação internacional do petróleo, “não abrandou” o projecto, sublinhou em Setembro Miguel Osório, garantindo que “há mercado” em Angola para a entrada desta nova marca.
Quem dá mais… compra tudo
Tal como o Folha 8 profusamente noticiou, Isabel dos Santos consumou o divórcio com o grupo Sonae. Mau grado ser a accionista maioritária, Isabel dos Santos comportava-se como única dona da empresa, exigindo que este negócio fosse desenvolvido à imagem e semelhança dos ditames do regime. Isto é, ao estilo “quero, posso e mando”.
Como a Sonae, apesar de várias tentativas, não conseguiu digerir as regras peculiares a quem, com a cobertura do seu pai, não olha a meios para atingir os (seus) fins, Isabel dos Santos chamou a si a criação de mais uma empresa exclusivamente sua e assim nasce a cadeia de hipermercados “Candando”.
Para a dirigir foi buscar Miguel Osório que, indiferente às regras éticas de reserva perante a entidade patronal em que trabalhava, a Sonae, abriu o jogo a Isabel dos Santos. A empresária agradeceu. E como nos negócios em geral, e nos com Angola em particular, não há ética nem reserva, ai está mais uma vitória para o clã Eduardo dos Santos.
Em Março de 2015, o presidente executivo da Sonae, Paulo Azevedo, disse nada ter a avançar sobre o projecto de retalho em Angola por aguardar ainda “qualquer confirmação ou desmentido formal” sobre a alegada saída de dois altos quadros para uma sociedade de Isabel dos Santos.
“Sobre Angola temos muito pouco para dizer porque não conseguimos, até agora, obter qualquer confirmação ou desmentido formal e não vamos estar a elaborar cenários sem o nosso parceiro nos dizer se assim é ou não”, afirmou Paulo Azevedo durante a apresentação das contas de 2014 da empresa, que decorreu no Porto.
Em causa estava o alegado mau estar criado na parceria entre a Sonae e a rainha Santa (Isabel dos Santos) para a construção de uma rede de hipermercados Continente no nosso país, na sequência da saída de dois quadros de topo da empresa portuguesa para trabalharem num grupo de retalho angolano daquela empresária.
“Para fazer os próximos passos que estavam combinados é preciso uma resposta. Não vou comentar cenários nem especular sobre o que não sabemos”, acrescentou Paulo Azevedo, escusando-se a avançar mais pormenores.
Já relativamente ao eventual impacto deste episódio na parceria entre a Sonae e Isabel dos Santos em Portugal, onde repartem o controlo da empresa de telecomunicações portuguesa Nos, o administrador executivo da Sonae, Ângelo Paupério, disse não ver “razões” para que esta ”não venha a continuar a funcionar”.
“A Nos é uma empresa cotada que tem todos os seus órgãos a funcionar. Já houve reuniões do Conselho de Administração depois deste problema ter vindo a público e não vejo razões para que, aí, a parceria não venha a continuar a funcionar”, sustentou quando questionado pelos jornalistas.
No dia 25 de Fevereiro de 2015 o jornal português Público noticiou que dois altos quadros da Sonae – Miguel Osório e João Seara – iriam trabalhar numa sociedade de Isabel dos Santos, mas desde então a Sonae vem afirmando não ter qualquer “confirmação ou desmentido formal” sobre o efectivo destino daqueles profissionais.
O diário citava uma nota interna enviada pela Sonae a um círculo restrito de colaboradores do segmento da distribuição a informar que ia encetar “todas as medidas legais possíveis” contra os dois quadros de topo “com acesso a informações internas relevantes”, em particular sobre o projecto de investimento da cadeia de hipermercados Continente em Angola.
Determinando que Miguel Osório e João Seara foram “suspensos ou demitidos”, o grupo português acusa-os de terem tomado “decisões de extrema gravidade e deslealdade” depois de se terem “comprometido a assumir funções noutro projecto em Angola”, num quadro de «ruptura com a Sonae e com os contratos e acordos em vigência”.