Branquear os crimes

O Bureau Político do Comité Central do MPLA rendeu hoje, segundo a terminologia do regime, profunda homenagem aos protagonistas da luta de libertação nacional, da paz e do desenvolvimento de Angola, em especial – como não poderia deixar de ser – ao fundador da Nação deles, António Agostinho Neto.

Por Norberto Hossi

Em nota alusiva ao 17 de Setembro, Dia do Herói Nacional do MPLA, o Bureau Político rende tributo à “figura indelével do Presidente Agostinho Neto” e considera-o “maior herói da luta de libertação nacional”.

Quem diria, não é? Certamente que na óptica do regime, os milhares de assassinatos do massacre do 27 de Maio de 1977 fizeram parte da “luta de libertação nacional”.

Diz o MPLA Expressa que Agostinho Neto “soube liderar com bastante perspicácia” essa luta e deixou, como legado, a independência do país do jugo colonial português. Isto para já não falar da libertação de África, do fim da escravatura no mundo e da democratização da Coreia do Norte.

Na sua nota, o MPLA afirma que este feito de Agostinho Neto “orgulha os angolanos”. Em bom rigor, orgulhará muitos os que vivem à sombra do regime, sendo abusivo dizer que “orgulha os angolanos”. A não ser, talvez seja isso, que angolanos só sejam os que são deste MPLA.

Refere o MPLA que Agostinho Neto “projectou a revolução angolana na luta vitoriosa da humanidade inteira”, sendo “o símbolo de um combate que, ultrapassando fronteiras, colocou-o no patamar dos mais prestigiados líderes africanos da segunda metade do século XX”.

Modéstia. Agostinho Neto está com certeza também “no patamar dos mais prestigiados líderes” mundiais, não da segunda metade do século XX mas, é claro, de todos os tempos.

O regime considerou que, volvidos 37 anos da morte do fundador da Nação do MPLA, os seus ensinamentos continuam vivos na edificação de uma verdadeira Pátria de trabalhadores (do MPLA), através da diversificação da economia do país, mediante aumento da produção nacional, para a diminuição das importações e dos níveis de emprego e do rendimento das famílias.

O MPLA sublinha que, “como orientou” sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, continuador da obra de Agostinho Neto, os angolanos “devem trabalhar para fazer prosperar a Nação”… deles.

“Os órgãos da administração central e local devem lidar com os desafios do presente com os olhos postos no futuro e criar mecanismos para dar aos cidadãos as ferramentas que permitam a sua participação nos destinos da sua comunidade, num modelo de gestão autárquica futura, onde não sejam meros destinatários dos serviços públicos, mas dos seus verdadeiros agentes”, precisou o comunicado do MPLA.

Nesta perspectiva, o Bureau Político do Comité Central do MPLA encorajou os militantes, simpatizantes e amigos do partido (que calcula serem perto de 26 milhões) para o reforço do seu engajamento nas tarefas colectivas, no sentido da identificação dos problemas e das soluções para os actuais desafios, no quadro de uma democracia participativa.

“Convicto de que o mais importante é resolver os problemas do povo, o órgão impulsiona igualmente o Executivo a prosseguir e a redobrar as suas acções, visando atingir tal desiderato, com o envolvimento de todos os angolanos, pois só unidos vamos construir uma Angola melhor”, conclui a nota dos acólitos de sua majestade.

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