Importamos 80% dos combustíveis vendidos em 2015

Angola comprou mais de 6,241 milhões de toneladas de produtos refinados em 2015, mas a reduzida capacidade de refinação nacional obrigou a concessionária do regime Sonangol a importar cerca de 80% desse total.

Os dados, compilados pela agência Lusa, constam da versão final do relatório e contas da petrolífera angolana e indicam que o consumo de combustíveis por Angola caiu 5% em 2015, na mesma proporção da importação de produtos refinados, essencialmente gasolina e gasóleo, face a 2014.

Contudo, os dados da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) referem que o país comercializou directamente no mercado interno 4,864 milhões de toneladas de produtos refinados, enquanto 1,3 milhões de toneladas foram vendidas ao mercado externo.

Para este volume de necessidades, a refinaria de Luanda apenas produziu 1,134 milhões de toneladas de combustíveis, ainda assim um aumento de 11%, tendo em conta a produção de 2014, indica o mesmo relatório.

Angola é actualmente o maior produtor de petróleo de África, com 1,7 milhões de barris por dia, mas depende da operação da única refinaria do país em funcionamento.

Construída em 1955, a refinaria de Luanda tem uma capacidade actual de 65.000 barris de petróleo por dia, operando a cerca de 70% da sua capacidade e com custos de produção superior à gasolina e gasóleo importados, segundo um relatório sobre os subsídios do Estado angolano ao preço dos combustíveis, elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2014.

No relatório da Sonangol, a empresa do regime recorda que para garantir o aumento da capacidade de refinação interna está em curso o projecto de construção da refinaria do Lobito, com capacidade para processar 200.000 barris de petróleo por dia e conclusão prevista para 2018.

O documento refere que estão concluídas as infra-estruturas públicas de suporte, nomeadamente, a estrada de transporte de carga pesada e o terminal marítimo, “restando por concluir o projecto de captação de água”.

O Governo deixou de comparticipar o gasóleo desde 1 de Janeiro de 2015, passando ao regime de preço livre, tal como acontecia desde Abril de 2015 com a gasolina.

A decisão foi divulgada a 31 de Dezembro de 2015 pelo Ministério das Finanças, em comunicado sobre o ajuste no gasóleo, produto que passa a “pertencer ao regime de preços livres, cessando assim a obrigação do Estado com a subvenção de preços”.

A decisão foi então justificada com a conjuntura internacional, devido à quebra na cotação internacional do barril de crude.

Estas alterações – quarto aumento de preços em menos de dois anos – foram então implementadas pela Sonangol, com o litro de gasóleo a passar a custar 135 kwanzas, face aos anteriores 90 kwanzas (de 50 para 74 cêntimos).

Em simultâneo, o preço do litro de gasolina – que está em regime de preço livre – passa a custar 160 kwanzas, contra os anteriores 115 kwanzas (de 63 para 87 cêntimos).

Estas subvenções, que em 2013 foram de 700 mil milhões de kwanzas (cerca de cinco mil milhões de euros), serviam para manter os preços dos combustíveis artificialmente baixos.

Crude tem um intenso cheiro chinês

Recorde-se a este propósito que um consórcio de empresas angolanas e chinesas reveliu no dia 8 de Julho de 2015 que iria investir 12,4 mil milhões de euros na construção de uma refinaria na província do Bengo.

A refinaria, denominada “Prince de Kinkakala”, instalada no município do Ambriz, terá capacidade de refinação de 400 mil barris de derivados de petróleo por dia, integrando o consórcio a Sonangol, com uma quota de 40%.

Os restantes 60% do capital social do consórcio promotor são detidos pela empresa privada angolana do sector petrolífero GPM Internacional Services e por um grupo de empresas chinesas.

De acordo com informação daquela empresa angolana, a construção da refinaria, avaliada em 1,7 biliões de kwanzas (12,4 mil milhões de euros) arrancou a 28 de Agosto de 2015 e estará pronta em 2017, devendo mobilizar nesta fase 24.000 trabalhadores.

Prevê ainda a construção de uma central eléctrica com capacidade para produção de 200 megawatts, uma cidade universitária e um complexo hospitalar de referência, gerando 12.000 postos de trabalho directos.

Este empreendimento obrigará ainda a deslocar as populações de duas comunidades do município do Ambriz para complexos habitacionais com um total de 1.000 fogos.

As três novas refinarias angolanas envolvem empresas chinesas e a sua construção permitirá eliminar a necessidade de importação de combustíveis refinados.

É por estas e por outras que, cá no Folha 8, continuamos a cometer o crime contra a segurança do Estado que se chama: Pensar. E, neste caso, pensamos que a colonização chinesa continua a somar pontos.

Um exemplo. A Câmara de Comércio Chinesa em Angola, no âmbito da sua estratégia siamesa de unir ou assimilar mais um país irmão, mesmo que à revelia dos seus habitantes, criou em Luanda algo que fazia falta como pão para a boca dos sessenta e tal por cento de angolanos que passam fome: um centro de serviços para assistência legal e apoio logístico às cada vez mais empresas e cidadãos chineses estabelecidos no nosso país. Uma espécie de filial neo-colonial.

“Actualmente há pelo menos 500 empresas chinesas a operar em Angola e mais de 100 mil expatriados chineses que trabalham em projectos de reconstrução do pós-guerra, dando um notável contributo para o desenvolvimento socio-económico do país africano”, afirma a agência noticiosa Nova China. 100 mil? Os chineses não são, nesta matéria, grade coisa. Facturam por cima e pagam por baixo.

A criação do centro de serviços é justificada, como se isso fosse necessário perante a constatação diária de todos nós, pelos “imensos desafios e dificuldades” resultantes da falta de conhecimento da legislação angolana e das “diferenças culturais” entre os dois países, segundo o secretário-geral da Câmara de Comércio, Zhao Hongbing.

Em matéria de “diferenças culturais”, pelo andar da carruagem “made in China” tudo leva a crer que não tardará muito e os angolanos já estarão assimilados e prontos a ombrear com os seus camaradas da pátria de Mao Tsé-Tung, bem como a ler “O Livro Vermelho” na versão em mplaês.

A nova estrutura, que cooperará com a Embaixada da China em Luanda, ajuda as empresas e cidadãos chineses na obtenção e renovação de vistos, registo de negócios e arbitragem em disputas comerciais. Por outras palavras, vai ajudar a acelerar a colonização chinesa, tal como é desejo de Pequim e perante a permissividade do nosso regime, parte dele formatado pelos mesmos ideais chineses.

“Vai ainda, entre outros aspectos, garantir assistência aos expatriados chineses com dificuldades financeiras”, acrescenta a organização. De facto, o proletariado chinês também precisa de ajuda, sabido que é que funciona como carne para canhão dos grandes interesses do capitalismo comunista chinês.

Angola, assinala a agência noticiosa Nova China, “expulsa anualmente milhares de imigrantes ilegais, na sua maioria provenientes dos países vizinhos e que vêm à procura de oportunidades de emprego”. É verdade. Mas, convenhamos, os chineses não vêm à procura de emprego, pelo contrário. Tiram é o emprego que deveria ser dos nossos cidadãos, mas essa é também uma história conhecida que não tira o sono às autoridades angolanas.

Os dois países estabeleceram em 2010 uma parceria estratégica, que começou na passagem à prática do princípio “oil for money” (petróleo por dinheiro), em que às linhas de crédito chinesas correspondem as exportações de petróleo angolano. Um bom negócio para as duas partes, diz o governo. Mau, afirmam os autóctones que, contudo, nada contam para as contas do regime.

Por alguma razão a China é actualmente, e assim continuará por muitos anos, destino de cerca de metade das exportações de crude angolano.

Os efeitos desta parceria estratégica são evidenciados pelo enorme crescimento das trocas comerciais bilaterais, que aumentaram mais de dois mil por cento entre 2002 e 2012, tornando Angola no segundo país lusófono com relações comerciais mais intensas com a China.

A China concedeu a Angola, com o fim da guerra civil em 2002, apoio financeiro para a reconstrução do país, destruído por um conflito fratricida de cerca de quatro décadas, compensando assim a falhada intenção do Governo angolano de realizar uma conferência internacional de doadores.

Inicialmente baseada em empréstimos monetários, pagos com o petróleo angolano, a cooperação bilateral entre os dois países ficou rapidamente marcada pela presença em Angola de várias empresas chinesas, a investirem nos projectos de reconstrução e de desenvolvimento, sobretudo no sector da construção de edifícios, estradas, pontes, escolas, instalação de fábricas e em outros sectores sociais e económicos.

Apesar do número avançado pela China relativamente a cidadãos chineses ser apenas de 100 mil, as autoridades estimam que residam em Angola, na realidade, cerca de 260 mil chineses, maioritariamente trabalhadores de empresas chinesas da construção civil.

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