A indumentária de um rei nu

O Presidente Eduardo dos Santos defendeu hoje, em Luanda, a concertação mundial como solução para os actuais problemas da humanidade, em especial a queda dos preços das matérias-primas, como o petróleo.

J osé Eduardo dos Santos discursava na habitual cerimónia de cumprimentos de ano novo do corpo diplomático acreditado em Angola, em que não participou o novo embaixador de Portugal, João Caetano da Silva, por não estar ainda acreditado no país.

De acordo com José Eduardo dos Santos, a baixa dos preços das matérias-primas, em particular do preço do petróleo no mercado internacional, constitui hoje “um dos factores recentes que mais afecta, negativamente, os esforços de recuperação dos países subdesenvolvidos e de desenvolvimento médio”.

Ao descrever a situação do país, o Presidente (no poder há 36 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito) disse que Angola (independente há 40 anos) permanece estável do ponto de vista político e social, mas no plano económico, atravessa hoje desafios maiores devido à incerteza dos preços das matérias-primas no mercado internacional.

A nível regional, o Presidente lembrou que Angola cumpriu com grande empenho o seu mandato de dois anos como presidente da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, contribuindo para a resolução ou início de solução dos conflitos que afectam vários países.

Acrescentou que Angola assume em Março deste ano a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e tudo fará, no que estiver a seu alcance, para que corresponda às expectativas depositadas ao país, na gestão dos assuntos que constam na agenda da ONU.

O Chefe de Estado angolano sublinhou que o mundo atravessa um período de crise económica e financeira, agravada pela proliferação de conflitos e guerras locais e sub-regionais, de que decorre, consequências humanitárias e materiais graves.

Segundo José Eduardo dos Santos, é urgente uma solução abrangente e inclusiva para se pôr fim a esses conflitos, nomeadamente os do Médio Oriente e a intensificação do terrorismo, para se viabilizar a estabilidade de toda a região e remover a causa principal do aumento do número de refugiados que afluem o continente europeu.

“Por outro lado, os conflitos candentes que continuam a existir em África são a principal preocupação dos povos deste continente, tanto as Nações Unidas como a União Africana devem continuar a dedicar especial atenção às crises na Líbia, Mali, República Centro-africana, Sudão, Sudão do Sul, Somália e Burundi”, frisou o Presidente angolano.
E em Angola?

O país (que existe masque Eduardo dos Santos não conhece) tem estado a viver momentos difíceis, que deveriam apelar a uma maior ponderação, inteligência e o sentido patriótico da tribo político-partidária, a começar por aquela que está no poder há 40 anos, o MPLA.

Mas, afinal, no MPLA (sob a liderança de Eduardo dos Santos) nada se perde, tudo se transforma para… pior. Acreditando, com ingenuidade (não é o nosso caso), na filantropia de Eduardo dos Santos, esperava-se mais do bureau político do MPLA, quando paira no ar o cheiro nauseabundo, da “porcaria jurídica”, de órgãos governamentais do regime.

Basta recordar o massacre do Monte Sumi, onde as forças policiais e militares, assassinaram a sangue frio, mais de 700 cidadãos cristãos desarmados, as prisões arbitrárias de Marcos Mavungo e Arão Tempo, em Cabinda, acusados de pretenderem organizar uma manifestação e dos 15+2 jovens presos políticos, em Luanda, acusados de tentativa de golpe de Estado e derrube do Presidente José Eduardo dos Santos.

Em todos casos, as provas são tão falíveis que ninguém acredita, salvo, no delírio acusatório, porquanto o mais contundente é a presunção, a possível intenção e o famoso acto preparatório.

Ingenuamente, acreditámos que haveria uma inversão, uma fuga em frente, ou ainda “leninisticamente” falando, “um passo em frente e dois atrás”, por parte dos dirigentes do MPLA, face à pressão e condenação da comunidade internacional e a colagem da figura de José Eduardo dos Santos à lista dos mais déspotas ditadores mundiais.

Ledo engano o nosso. O regime vangloria-se de fazer de todos nós uns matumbos. É certo que o poder, quando de génese ditatorial, não é compatível com a inteligência, desde logo porque põe a razão da força acima da força da razão.

Na sua cega política de arrogância, o MPLA continua a dar tiros nos próprios pés, reduzindo a sua canina subserviência à bajulação do líder, sejam quais forem as arbitrariedades que este cometa. E têm sido muitas.

Aos olhos da comunidade nacional e internacional, José Eduardo dos Santos, hoje é visto, como dos mais cruéis e insensíveis ditadores. Tanto é assim que quando um bispo português, que viveu no tempo da ditadura, o compara a Salazar, deveria impelir o MPLA a um aturado estudo, para saber onde tem falhado, pois é um poço lamacento que não enobrece, quem nele se chafurda.

São 40 anos de independência. Mas o MPLA continua dependente. Blinda-se nos bajuladores e assalariados estrangeiros, da pior estirpe, únicos que conseguem descortinar algum mérito em José Eduardo dos Santos, rotulando-o como arquitecto de uma paz, que partilha sozinho…, como se o país fosse uma coutada privada.

Os demais cidadãos têm dele a pior imagem, daí o fácil carimbo, de discriminador, arrogante, presunçoso, injusto e apoiante de práticas de tortura, espancamento, prisões arbitrárias, assassinatos e de corrupção institucional.

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