O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, acusou hoje a Frelimo, partido no poder desde a independência, de ter uma “agenda escondida” para o matar, acusando as forças de defesa e segurança de bombardeamentos no local onde se encontra escondido.
“A Frelimo tem uma outra agenda escondida. Continua a atacar-nos aqui (na Gorongosa) com bombardeamentos. A Frelimo sempre acreditou que a ofensiva contra a Gorongosa pode resultar na morte ou captura de Afonso Dhlakama”, disse o líder da Renamo, em entrevista ao semanário Canal de Moçambique, divulgada hoje.
Segundo Dhlakama, o partido no poder pretende a sua eliminação física para poder negociar a restauração da paz no país com a principal oposição política numa situação de fragilidade.
Desde sempre a Frelimo tentou “imitar a solução angolana”. Ou seja, matar o líder da Renamo, tal como o MPLA fez com Jonas Savimbi, presidente da UNITA.
“De três em três dias, lançam roquetes, o famoso B11, e disparam para a serra (da Gorongosa), a serra é grande. Eles chamam “ofensiva para capturar o Dhlakama ou matá-lo”, afirmou o líder do principal partido de oposição.
O líder da Renamo declarou que o partido vai reiterar, nas negociações com o Governo, a exigência de governar nas seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014 e a nomeação de oficiais do braço armado do movimento para cargos de comando nas forças de defesa e segurança moçambicanas.
“A agenda da Renamo (nas negociações) é curta. Apenas inscrevemos dois pontos: primeiro, é a governação das seis províncias. A governação das nossas seis províncias, começando ainda este ano de 2016. O segundo é sobre a matéria de defesa e segurança. Nesse ponto, queremos a integração em postos de destaque”, afirmou Afonso Dhlakama.
Dhlakama manifestou abertura para negociar o desarmamento do braço armado da Renamo, exigida pelo Governo moçambicano.
A comunicação social moçambicana tem noticiado nos últimos dias que o Governo quer envolver o antigo Presidente tanzaniano Jakaya Kikwete, a Fundação Faith, de Tony Blair, e a Fundação Global Leadership, do ex-subsecretário de Estado norte-americano Chester Crocker, na mediação da paz em Moçambique.
Segundo a imprensa, Maputo está a preparar os convites às três entidades, que se poderão juntar à União Europeia, Igreja Católica e África do Sul, propostos pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), para mediarem as negociações com o Governo, destinadas à restauração da estabilidade política e militar no país.
O Governo moçambicano anunciou recentemente que já enviou os convites às três entidades propostas pela Renamo, não se conhecendo ainda as respectivas respostas.
O chefe de Estado moçambicano e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, indicaram em Junho terem chegado, por telefone, a um consenso sobre a participação de mediadores internacionais nas negociações para o fim dos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e o braço armado da oposição.
Apesar de as duas partes terem reatado as negociações, os ataques de supostos homens armados da Renamo a veículos civis e militares em vários troços do centro do país não têm cessado e o movimento acusa as Forças de Defesa e Segurança de intensificarem os bombardeamentos na serra da Gorongosa, onde se presume encontrar-se Afonso Dhlakama.
O principal partido de oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
Solução “made in” MPLA
“M anter a paz será através da imitação do modelo angolano, como o [Presidente moçambicano] Filipe Nyusi fez saber, quando manifestou a sua admiração pela solução angolana?”, questionou José Cruz, deputado e relator da bancada da Renamo, numa pergunta do seu grupo parlamentar ao Governo.
Recorde-se que na sua visita a Angola, o presidente Filipe Nyusi apontou Angola como exemplo pelo facto de o principal partido da oposição não estar armado, uma situação que não se verifica em Moçambique, dado que a Renamo mantém um contingente armado desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992.
A Renamo repete as acusações de que o Governo pretende eliminar o líder do movimento, tal como aconteceu com Jonas Savimbi, líder da UNITA, que morreu em combate em Fevereiro de 2002, num cerco montado por alguns dos seus antigos generais.
“O Governo declarou guerra ao anunciar o desarmamento da Renamo e tem vindo a adquirir armamento numa estratégia que inclui a morte de Afonso Dhlakama”, frisou o relator da bancada da Renamo.
Por seu turno, o deputado e porta-voz da Renamo, António Muchanga, afirmou que o Governo moçambicano viu-se obrigado a recuar na intenção de desarmar o movimento devido ao que definiu como derrota que as forças de defesa e segurança moçambicanas têm vindo a sofrer na perseguição aos homens armados da oposição.
O país vive uma situação de incerteza devido à recusa da Renamo de aceitar os resultados das eleições gerais de Outubro de 2014 e às suas ameaças de governar a força nas províncias onde reivindica a vitória no escrutínio, caso a Frelimo mantenha a rejeição da exigência da principal força da oposição de criação de províncias autónomas.
Recorde-se que o anterior presidente moçambicano, Armando Guebuza, defendeu no dia 4 de Outubro de 2014 a desmilitarização urgente da Renamo e pediu às confissões religiosas para ajudarem na “implementação efectiva” do acordo de paz.
O apelo de Armando Guebuza foi feito num comício realizado na Praça da Paz, em Maputo, por ocasião do 22º Aniversário do Acordo de Roma, que pôs fim à guerra civil de 16 anos entre o Governo e a Renamo.
Armando Guebuza sublinhou que a sua aspiração é “um desafio que tem subjacente o processo de desmilitarização, desmobilização e reintegração das forças residuais da Renamo, por um lado, na vida civil, em actividades económicas e sociais, e, por outro lado, nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique e na Polícia da República de Moçambique, para que este partido político se conforme com os ditames da Constituição da República de Moçambique”.