A crise na Venezuela vista de Luanda

Hugo Chávez, depois da sua última aparição nos EUA, discursando na ONU, no desempenho do papel de comediante matarruano, resolveu visitar algumas comunidades nova-iorquinas.

Por Domingos Kambunji

Num gesto de altruísmo boçal e megalomania, ofereceu combustíveis aos habitantes dessas comunidades, dizendo estar a ajudar os pobres da América no aquecimento dos lares, durante o rigoroso Inverno. As pessoas minimamente bem formadas riram-se, às gargalhadas, e a única resposta foi: que ofereça mais, não é necessário agradecer.

Os estados do Norte dos EUA têm programas para ajudarem a custear as despesas com aquecimento, no Inverno, nos lares em que residem cidadãos com menores rendimentos. O sistema do Wellfare americano não tem paralelo em todo o mundo. As leis e as práticas para protecção de crianças e idosos são as mais avançadas do planeta.

Esse gesto do Chávez fez-nos lembrar a ajuda que prestamos às crianças que não sabem apertar os atacadores dos sapatos, o que não as impede de poderem continuar a brincar. Nós oferecemos-lhes ajuda e elas, depois de assistidas, nada nada dizem. Num gesto de galhofa, quando concluímos a ajuda, dizemos sempre: “muito obrigado”. As crianças, com um sorriso da cara, respondem, simpaticamente: “não tem de quê”.

Numa futura crónica, o João Melo talvez surja a tentar identificar as principais causas que contribuíram para a actual crise económica e social na Venezuela. Abrirá a crónica dizendo que aquilo é golpe. Depois dirá que a Venezuela está a atravessar uma crise muito profunda por ter sido obrigado a doar petróleo a Cuba, país hermano, e a ajudar a aquecer os lares dos nova-iorquinos pobres, que não necessitavam de ajuda.

(Quem não é capaz de se ajudar a si próprio, não poderá ajudar os outros?).

Em seguida, o João Galináceo Infantil, deturpado, sub-vice-chefe da bancada paralamentar da maioria do MPLA, jurista, jornalista, bajulador, constitucionalista, politólogo, professor universitário… publicará um longo artigo, no jornal do José Ribeiro, explicando os motivos porque a Venezuela está na situação em que está. Já estamos a imaginar o conteúdo e a lógica desse artigo:

“E sou deturpado na Assembleia Nacional de Angola, sub-vice-chefe da bancada paralamentar da maioria, jurista, jornalista, constitucionalista, politólogo, professor universitário…; os angolanos não devem comer bifes caros, devem comer só bifes de atum; os EUA ficam situados a Norte do México e a Sul do Canadá; a Venezuela está situada na América Latina, não faz fronteira com a Austrália; o Eusébio e o Mantorras jogaram no Benfica, em Portugal; fica assim demonstrado, como verificou Hugo Chávez e pode testemunhar Sua Excelência o Senhor Presidente Nicholas Apodrecido, que os invernos rigorosos em New York são da responsabilidade dos partidos da oposição, em Angola, que votam sempre contra as imposições do MPLA, e o nosso partido nunca participou na guerra civil”! (…)

Os analfabetos e os mais desprevenidos, em Angola, irão ficar muito sensibilizados com a elevada eloquência e com os profundos conhecimentos dos Joãos, em geografia política, económica e social, e não só. Esse será o mote para acreditarem que todos os argumentos joaninos que explicam a actual crise no país de José Eduardo dos Santos são verdadeiros e ficarão muito chocados pelo facto da Dilma e do Nicholas Apodrecido (herdeiro do Chávez) estarem prestes a levar um valente pontapé no sítio onde as costas mudam de nome.

Esses angolanos também ficarão muito ofendidos por estarem a desmascarar os kapangas do poder feudal angolano com as revelações dos “Panamá Papers”, e pelo facto de, em Portugal, não respeitarem os caprichos da Isabel dos Santos e terem constituído arguido, num caso de corrupção, o vice-presidente Manel Vilsente.

Nós somos muito mais pacíficos. Desejamos que os Joãos continuem as suas carreiras de comediantes, afastados dos cargos em que se decidem os destinos dos angolanos.

Nota final: se o João Galináceo Infantil quiser adicionar aos seus os nossos títulos académicos e profissionais, que o faça. Não nos incomodaremos com isso. Não necessitamos deles para as avaliações anuais de desemprenho profissional. Os nossos avaliadores também não.

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