Depois de um tempo em obras ditas de reestruturação e a pedido daqueles que sempre que ouvem falar de liberdade puxam da pistola, o Semanário Angolense foi assassinado. Os donos disto tudo não brincam em serviço.
Por Orlando Castro
C omo revela a Voz da América, o antigo director de Informação, Agostinho Rodrigues, confirma o encerramento do Angolense, mas diz desconhecer quem são os novos proprietários do espólio nem que destino terá.
Outro jornalista que fica no desemprego com o encerramento do jornal é Makuta Nkondo, que conta como soube da notícia: “Dois dias antes do Natal comunicaram-nos o fecho definitivo do jornal, com o formato actual, e pagaram-nos três meses de salários contra os demais que nos deviam e sem o décimo terceiro”.
Makuta Nkondo disse à VOA que o salário base de um jornalista no jornal era de 48 mil cuanzas, o equivalente a 480 dólares, e não houve qualquer negociação para efeitos de indemnização.
O jornalista acredita que esta é mais uma medida para silenciar a imprensa no país. E é mesmo. Aliás, corresponde à suprema estratégia do regime, que pretende uniformizar a forma de os angolanos pensarem. E como os jornalistas (não confundir com os sipaios e mercenários que trabalham em meios de comunicação social) pensam, a melhor forma de os reeducar é pelo desemprego ou, ainda, por os levar a chocar com algumas balas perdidas.
Makuta Nkondo diz: “Significa que neste momento o único jornal privado e independente que sobrou é o Folha 8, de William Tonet. O MPLA pretende impor-nos o Jornal de Angola, que eu considero de Pravda, a Radio Nacional de Angola, que é a rádio Moscovo, e a TPA, autêntica televisão soviética”.
Segundo Nkondo, “os ditos privados como a rádio Despertar, da UNITA, e rádio Eclésia, da Igreja Católica, fazem a mesma coisa com listas de pessoas proibidas de falar, como eu próprio que estou proibido de falar na Despertar e na Eclésia”.
Por sua vez, Teixeira Cândido, porta-voz do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, diz que o foram apanhados de surpresa.
“Não acredito que alguém compre um título para extingui-lo um ano depois, isto deixa o Sindicato surpreso e estupefacto com isto de comprarem jornal e depois guardar na gaveta, não é uma situação normal”, considera Teixeira Cândido, para quem “de certo modo é um ambiente de intranquilidade para a classe jornalística e para o próprio jornalismo”.
Um dos directores do referido jornal, Joaquim Maciel, assegurou à VOA que não conhece quem são os novos donos e nem sabe que futuro reserva a publicação reestruturada.
A verdade é que o regime gizou, nos últimos anos, uma estratégia para “assassinar” a imprensa privada, cuja pujança assentava em títulos de vários proprietários. Pensava-se então que Angola caminhava para a democracia e para ser um Estado de Direito.
Preocupado com a diversidade de opinião, muitas descomprometidas com as amarras do poder, o governo/MPLA nada mais fez do que estabelecer uma OPAC (Oferta Pública de Aquisição Coerciva) sobre os meios de comunicação sociais privados.
Ou seja, Semanário Angolense (com uma cláusula, impedindo os seus jornalistas de voltarem a escrever, durante um longo período); A Capital; Agora; Independente e Factual (ambos ligados a agentes da Segurança de Estado); Angolense; Novo Jornal; Continente.
Com a aquisição destes órgãos e o controlo absoluto, total e inequívoco dos meios de comunicação sociais públicos: Rádio Nacional, Jornal de Angola, Televisão de Angola (canal II e TPA Internacional, entregues sem concurso público a dois filhos do Presidente da República, Tchizé dos Santos, também deputada, e Zédu dos Santos) e ANGOP – Agência de Notícias, o regime deixou de ter na imprensa um elemento fiscalizador e de denúncia, porquanto agora tudo é a voz do dono.
Nesta selva a única excepção é o Folha 8, alvo de todas as perseguições e chantagens, destacando-se os 98 processos judiciais conhecidos contra o nosso director, William Tonet. Conhecidos porque deverão haver muitos outros, assinados em branco, prontos a saltarem da gaveta dos donos do país.
Com esta estratégia que contraria a Lei de Imprensa e das sociedades comerciais, que proíbem a existência de monopólios, foram criados, com um toque de mágica, vários grupos empresariais de homens do poder, sem qualquer capital financeiro, mas munidos apenas de capital partidocrata, como arma bastante para escancarar as portas do Banco Espirito Santo e de lá tirarem os milhões de dólares para corromper jornalistas e adquirir os seus jornais.
Milhões esses que também se estenderam a Portugal, onde são cada vez mais as empresas de comunicação social que estão nas mãos de homens do regime e que, como outras, também ajudam a branquear o que for necessário.
Todos nos recordamos que uma legião de gestores e jornalistas portugueses, foram então desembarcando por cá para dirigir as novas pérolas dos dirigentes angolanos, com salários chorudos, nunca antes praticados no mercado, tudo visando matar a liberdade de imprensa e de expressão e assim amordaçar a incipiente democracia.
Porquê os Jornalistas? Porque a verdade é incómoda.
Em Angola, mas não só, apesar da guerra que o Governo-regime move aos Jornalistas, não faltam ministros, deputados e políticos em geral (todos de pistola no bolso) a dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado. Sagrado sim desde que não toque nos interesses instalados, desde que só diga a verdade oficial.
No tempo em que existiam Jornalistas, dizia-se que se o jornalistas não procura saber o que se passa é um imbecil, e que se sabe o que se passa e se cala é um criminoso.
Hoje, o “jornalista” que não procura saber o que se passa é inteligente, e o que sabe o que se passa e se cala é um óptimo assessor, deputado, administrador ou até ministro.