A descida do preço do barril do petróleo para níveis próximos dos fixados no orçamento rectificativo 40 dólares está a fazer tremer os alicerces da estabilidade económica de Angola e pode colocar o país, no último trimestre deste ano, à beira de uma recessão técnica.
O alerta, da autoria do reputado economista Alves da Rocha, coincide com a baixa para 3,5%, contra os 4,7% inicialmente previstos, da perspectiva de crescimento económico de Angola para este ano.
Se, no passado, as receitas não petrolíferas atingiam os 700 milhões de dólares mensais, hoje o país não arrecada mais do que 450 milhões de dólares.
A diminuição das importações devida à escassez de divisas, a tentativa de generalização da política de quotas por parte da ministra do Comércio, Rosa Pacavira, e o excesso de burocracia no licenciamento das mercadorias são apontados como as causas deste retrocesso.
Também as receitas resultantes dos impostos petrolíferos sofreram uma queda brutal, passando de 1800 milhões de dólares por mês no ano passado para os atuais 900 milhões de dólares.
“E não nos esqueçamos que os EUA, ao atingirem pela segunda vez em 80 anos, um recorde de reservas acumuladas, vão cada vez mais prescindir do petróleo angolano”, advertiu, sob anonimato, um administrador do Banco de Negócios Internacional (BNI).
Com a economia atolada de desequilíbrios e fraquezas estruturais, o Governo viu-se obrigado a iniciar a redução dos subsídios aos combustíveis, mas este esforço não foi suficiente para impedir o agravamento do défice orçamental, que este ano deverá atingir os 7,8% do PIB cerca de 10 mil milhões de dólares.
“Ainda não nos convencemos de que a ‘fábrica’ dos dólares, o petróleo, está paralisada…”, ironiza Joaquim Venâncio, quadro do Banco Caixa Totta.
Sem dinheiro nos cofres, o governador do Banco Nacional de Angola, José Pedro de Morais, tem em cima da secretária uma lista de espera de operações licenciadas avaliadas em 1200 milhões de dólares para aquisição, no exterior, de matéria-prima, medicamentos e produtos para a cesta básica.
Empresas de prestação de serviços na área dos petróleos como a Falcoil do empresário António Mosquito, accionista maioritário da Soares da Costa, e outras detidas por influentes figuras da nomenclatura do regime registam agora mais de seis meses de atraso no pagamento dos ordenados dos seus funcionários.
Uma boa parte destas empresas, segundo apurou o Expresso, está falida. “Quiseram ficar ricos à pressa mas, sem os pés assentes no chão, revelaram sempre não ter a mínima noção do peso dos investimentos na indústria petrolífera”, disse Gervásio Loureiro, geofísico reformado da Sonangol.
Saída de médicos cubanos preocupa
No Dondo, a 180 quilómetros de Luanda, instalou-se o desespero depois da saída da maioria dos médicos cubanos, que prestavam assistência às populações locais, por sucessivas falhas no pagamento dos seus contratos.
Em unidades orçamentais como os hospitais, perante a ruptura de material, de higiene e de medicamentos, a falta de recursos financeiros está a obrigar as pessoas a levarem alimentação e alguns remédios para acudir a familiares ali internados.
Os restaurantes registam quebras de consumo superiores a 30%, a crise de tesouraria provocada pela falta de pagamento por parte do Estado está a dar origem ao encerramento, todos os dias, de muitas pequenas e médias empresas.
O desemprego resultante desta situação, ao ganhar o efeito de uma perigosa bola de neve, ameaça acentuar as desigualdades sociais e começa agora a pôr em causa os frágeis alicerces da estabilidade política.
A criminalidade começa a assumir proporções assustadoras num só dia mais de 80 jovens foram detidos, acusados de envolvimento em crimes de assalto à mão armada.
Fonte: Expresso