Como a ditadura em Angola actua contra os seus críticos

Muitos dos jovens activistas cívicos independentes (vulgo revolucionários ou abreviadamente revús) envolveram-se em política há 4 anos, de maneira inocente, convictos da força de expressão do sofrimento que nos é imposto pela ditadura de José Eduardo dos Santos.

Por Pedro Teca

T emos contestado a ditadura violenta, sangrenta e assassina do MPLA, simplesmente com as nossas vozes e no pacifismo absoluto, na crença de que um dia as nossas lamentações farão eco na consciência do ditador e da ditadura, e irá forçá-lo a concretizar reformas ou mudanças profundas que possam florir justiça, liberdade, enfim, a democracia para o nosso povo.

Desde o princípio, nutrimos a teoria de um mundo melhor e embarcamos numa revolução de maneira apaixonada, acreditando que mesmo intencionados a derrubar o nosso oponente, nesta guerra a regra não era do “vale tudo”, e que o nosso adversário, a ditadura de José Eduardo dos Santos, tinha a consciência e humanidade de enxergar que somos apenas um grupo de miúdos, que de forma pacífica e legítima reivindica mudanças e reformas necessárias para a nossa Pátria Angola.

Estávamos enganados, pois para José Eduardo dos Santos, nós não sofremos, não estamos desempregados, temos bons sistemas de saúde e educação, temos um país justo e democrático mas em contrapartida, o líder do MPLA diz que “somos ingratos e frustrados que não se saíram bem na vida académica e consequentemente profissional”.

Não importa quantas licenciaturas, mestrados ou doutoramentos tiveres, para José Eduardo dos Santos e o MPLA, se não fores a favor da ditadura, “és contra”, “és frustrado”, “és fracassado”, “és confusionista”, “és incapacitado”, “és indisciplinado”, “és ingrato”, “és incompetente”, não és patriota, “és um inimigo a ser aniquilado”.

Para José Eduardo dos Santos, não importa o quanto sofremos, pois se reclamamos, somos considerados inimigos da Pátria, jovens da UNITA, agentes dos imperialistas que querem desestabilizar Angola e delapidar as riquezas dos angolanos.

Para José Eduardo dos Santos, não importa a crise em que vivemos, o país está estável e quem ousa criticar é inimigo da paz e da estabilidade em Angola.

Para o líder do MPLA, não existe tolerância ou lugar para os críticos e opositores, por a ditadura ser a única que tem armas, exército e toda força de inteligência do Estado de Angola, as críticas que não devem ser permitidas por, alegadamente, levarem o país a uma nova guerra.

Portanto, na nossa ingenuidade, ignoramos que o MPLA e José Eduardo dos Santos fazem o jogo do “vale tudo”, onde por exercício de cidadania, o cidadão é intimidado, perseguido, caluniado, difamado, espancado, sequestrado, detido, julgado arbitrariamente, condenado injustamente, preso politicamente, ou assassinado barbaramente.

São políticas que a ditadura de José Eduardo dos Santos executa para a manutenção no poder à todo o custo.

Desenvolvimento: Quando um cidadão ou um grupo de cidadãos manifesta-se crítico em relação a ditadura, não se constitui automaticamente em uma ameaça, mas para o regime, sim, por considerar que as críticas influenciam e mobilizam seguidores junto do povo.

Por mais que a pessoa crítica ao regime seja intelectual e famosa, se as suas acções não mobilizam pessoas, este não é uma ameaça e é habitualmente tolerado até certo ponto, para legitimar a falsa ideia da existência de democracia em Angola.

1 – ADVERTÊNCIAS:

No momento em que um indivíduo ou grupo for visto como crítico, é abordado, aconselhado e desencorajado para não mais continuar a tomar tais posições.

O que mais mata o florir da democracia em Angola é o medo imposto pela ditadura.

As advertências ou censuras, na maioria dos casos, surgem do interior do próprio indivíduo (auto-censura), de familiares, amigos ou de pessoas conhecidas e, somente vêm de pessoas estranhas em casos de impactos maiores das acções críticas.

2 – INTIMIDAÇÃO:

A intimidação surge quando se nota uma certa resistência ou desacato aos conselhos, sendo ainda um método para medir a força e coragem da pessoa visada.
A intimidação acarreta pontos sensíveis e fundamentais na vida do indivíduo, como: a família, a relação amorosa, a vida académica, a carreira profissional, etc.
A intimidação não surge apenas de agentes da ditadura, que ameaçam tirar o emprego, dificultar a tua empresa, inviabilizar os teus estudos, tirar a sua vida ou outras formas de chantagem…, mas face as dificuldades impostas e inerentes, subrepticiamente, surgem, também, por parte de familiares, que tiram a mesada, expulsam-te de casa (como foi o caso do meu irmão Adolfo Campos e doutros revús), recusam-se a continuar a pagar os estudos, és desempregado, etc., etc..

3 – SUBORNO:

Se o indivíduo não é intimidável, então passa-se para a fase do suborno, com a ditadura a investigar e estudar os pontos fracos do alvo, bem como das suas insuficiências. Desta feita, surgem propostas de emprego, bolsa de estudo e outras oportunidades, na condição do indivíduo parar de criticar a ditadura.

Por exemplo: O jovem infiltrado entre os revús, no período de 2011 e 2012, Benilson Tukayano, muito antes de ser descoberto e ter levado à morte dois activistas, Isaías Cassule e Alves Kamulingue, tivera feito a proposta de emprego na Sonangol para os revús, solicitando, para isso curriculum vitae dos interessados, dizendo que um tio seu é que fez a proposta. Segundo, em vésperas de uma manifestação que organizamos em 2013, surgiu um senhor que pediu que abortássemos a manifestação, e que todo revú que domina francês ou inglês poderia ganhar emprego na Sonangol, com um salário mensal entre 15 a 18 mil dólares.

Tendo em conta as dificuldades das pessoas, muitos se têm vendido a ditadura.

4 – PERSEGUIÇÃO E ACTUAÇÃO:

Após várias tentativas dos métodos anteriores, a resistência do indivíduo, forçou a ditadura a usar não só a força, como outros métodos, impondo ao perseguido vários entraves no caminho, com as armadilhas de costume, incluindo agressões, invasões ao domicílio, infiltração nos sistemas de informação, no seio familiar, de amizade ou de vizinhança, etc..

Nesta fase, a ditadura aproveita-se de qualquer oportunidade para neutralizar e aniquilar o seu alvo.

Passados 4 anos de resistência e luta, a ditadura chegou ao extremo de uma maneira mais abrangente, prendendo 15 dos 17 revús, que actualmente, estão em fase de julgamento, na 14.ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda.

Importa rememorar, ter sido nesta fase, que os Serviços de Inteligência e Segurança de Estado, a Polícia Nacional, a serviço do MPLA e de José Eduardo dos Santos, assassinaram os revús: Cassule e Kamulingue, um morto à tiro e outro por asfixia e atirado aos jacarés no rio Dande, província do Bengo, a cerca de 70 Km da capital, Luanda.

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