Aquela coisa a que chamam “Jornal de Angola” volta hoje a criticar, em editorial, o estado das relações com Portugal. Foi ontem e hoje repete-se, a bem do regime… que não dos angolanos. O Pravda exige um “esclarecimento urgente” de Lisboa e centra-se nas críticas assíduas do deputado socialista João Soares.
Por Orlando Castro
I ntitulado “Contornos de uma conspiração”, o texto visa directamente o socialista — referindo-se sempre ao “filho de Mário Soares” — (ontem criticava os que se referem a Isabel dos Santos como a filha do Presidente), recordando a sua condição de eleito pela Assembleia da República para o Conselho de Fiscalização do Sistema Serviços de Informações da República Portuguesa (CFSIRP), as suas críticas ao regime angolano e o caso dos vistos gold.
“A mesma personagem percorre os canais de televisão portugueses disparando insultos e calúnias contra titulares dos órgãos de soberania de Angola. Afirma reiteradamente que os investimentos angolanos em Portugal provêm de fundos roubados. Fala em ‘cleptocratas de Luanda’ com a maior desfaçatez. E nunca se esquece de lembrar a sua condição de membro do CFSIRP para chancelar as suas mentiras e calúnias”, aponta o editorial do jornal estatal angolano.
Consta que João Soares, mesmo estando longe dos jacarés do Bengo, para além de reforçar a sua segurança pessoal está a pensar refugiar-se na…. Jamba.
Acrescenta o pasquim, que um “deputado da Nação [portuguesa] que se entretém diariamente a chamar ladrões aos titulares dos órgãos de soberania em Angola” sem que “os seus pares” se “demarquem de tão graves crimes”, é “evidente que está mandatado para assim proceder”.
Ladrões? Consta que os ladrões que estão detidos nas cadeias de Portugal vão, também eles, intentar uma acção judicial contra João Soares por ofensa ao seu bom nome.
“E não venham dizer-nos que estamos perante o exercício da liberdade de expressão. Não façam de nós indigentes mentais. O filho de Mário Soares, deputado do Partido Socialista, está a exercer aquilo que ele considera ser o seu direito de conspiração contra Angola. Todos estes dislates ultrapassam o mero exercício do direito a emitir opiniões. A liberdade de expressão tem limites. E no caso do fiscalizador do SIS, esses limites são ainda mais estreitos”, enfatiza o editorial do Pravda, reflectindo o sipaio escriba a vontade manifestada pelo chefe do posto.
Defende o Avante do MPLA que, “sempre que o filho de Mário Soares fala em dinheiro ilegal exportado de Angola, de ladrões, de corruptos e cleptocratas”, a opinião pública portuguesa “acredita porque pensa que ele tem informações secretas fornecidas pelos serviços secretos que é suposto fiscalizar”.
Nada disso. A opinião pública portuguesa, como a angolana, acredita porque sabe que é verdade. Apenas por isso.
“Nós sabemos que não. Tudo o que ele diz são mentiras e calúnias. Todas as suas afirmações são peças da conspiração que o ministro do Interior [de Angola] agora [segunda-feira] denunciou. Disso não temos dúvidas”, lê-se num texto não assinado e que, originalmente, terá tido a impressão digital do autor, conseguida através das velhas técnicas coloniais usadas por quem não sabia assinar.
No segundo editorial consecutivo em que alude a estas “ameaças” ao “regime democrático” angolano e à interferência de sectores portugueses, o Avante do MPLA afirma que recentes “cumplicidades” tornadas públicas, nomeadamente com a Operação Labirinto e o envolvimento de responsáveis do Serviço de Informações de Segurança (SIS), “são inquietantes e exigem um esclarecimento urgente por parte das autoridades de Lisboa”.
“A Operação Labirinto em Portugal levou à detenção de altas figuras do Estado. Mas também trouxe à luz do dia uma situação insólita em qualquer parte do mundo, mesmo no país do filho de Mário Soares, da filha do senhor Gomes, deputada europeia do Partido Socialista, ou do filho do senhor Louçã, líder escondido do Bloco de Esquerda”, lê-se no mesmo texto.
Ao menos, o pasquim sabe quem são os pais dos visados. Isso, contudo, não acontece com os mercenários do Jornal de Angola, alguns recentemente saídos das copas das árvores directamente para as latrinas que guardam os restos da gamela do poder.
Face à alegada intervenção do SIS no caso dos vistos gold, recordada pelo jornal do MPLA, o editorial insurge-se: “Nós temos o direito de suspeitar que os mesmos serviços varrem o quintal dos amigos e atiram com o lixo para a porta de Angola, servindo-se do livre acesso do filho de Mário Soares a todos os canais de televisão portuguesa”.
Têm esse direito. Têm, aliás, direitos que negam aos outros. Mas isso é mesmo assim quando se vive numa espécie de socialismo de sanzala, como diria o ilustríssimo bajulador Artur Queiroz.
O editorial termina com uma garantia: “Uma coisa é certa: qualquer ataque contra o regime democrático está votado ao fracasso”.
Bem visto. Os sipaios do Pravda esquecem-se, contudo, que se o regime angolano é democrático, o “querido líder” Kim Jong-un é um paradigma da liberdade, da transparência e – é claro – da democracia.
Na verdade, como português e amigo de Angola, bem como dos outros povos africanos colonizados por Portugal, metem-me nojo e causam-me repulsa os artigos destes dois palhaços José Ribeiro e Filomeno Manaças. Passam o tempo a denegrir Portugal que não só alguns dos seus habitantes. Se o JA é um órgão oficioso do Governo, pois a sua acção só tem servido para empecilhar e não desanuviar as relações entre as duas nações e respectivos povos. O JA tem prestado um mau serviço à República de Angola. Urge corrigir a trajectória editorial deste órgão e torná-lo mais isento e informativo, ao invés de passar o tempo a bajular as autoridades de Luanda. Os cães ladram e a caravana passa. O relacionamento entre angolanos e portugueses é mais transcendente de que a titularidade efémera do poder. Estes passam e os angolanos ficam.