O Boletim Oficial do MPLA, também conhecido por Pravda de Angola ou, talvez, como Jornal de Angola (JA), escreve que a “verdade foi reposta” e que, lá no Comité Central (CC), são os primeiros. Mesmo em relação ao CC há dúvidas, mas se eles ficam satisfeitos, sejamos benevolentes.
Por Orlando Castro
D iz a voz do dono que “com base numa amostra de 2.000 entrevistados, com mais de 18 anos, foi possível chegar a uma conclusão esmagadora: o Jornal de Angola tem 54,7 por cento de audiência. Todos os semanários juntos chegam aos 47,5 por cento. A outra publicação diária da Empresa Edições Novembro, o “Jornal dos Desportos”, tem 31,1 por cento. No mesmo campo, “A Bola” fica apenas pelos 7,0 por cento”.
São boas notícias para os Jornalistas. Não para os mercenários que comandam o Boletim Oficial. Apesar de o JA ser um órgão do regime, porta-voz do MPLA, protegido pelo poder e amamentado luxuosamente pelo erário público, não vai além dos 54,7 por cento de audiência. Estão no bom caminho.
“Aos 2.000 entrevistados no estudo de opinião a que o Jornal de Angola teve acesso, foi feita esta pergunta directa: confia na Imprensa em Angola? A resposta não deixa dúvidas. Mais de 61 por cento dos inquiridos confiam. Apenas 20 por cento não confiam. Quem conhece os títulos publicados semanalmente, percebe a razão dos inquiridos que estão do lado da rejeição”, explica o Pravda do alto das copas arbóreas onde se formaram os seus dirigentes.
Continuando a citar o Boletim Oficial do regime, “o perfil dos entrevistados que manifestaram a aceitação e rejeição é de 51,7 por cento de homens e 48,3 por cento mulheres. A faixa etária é também muito jovem o que mostra a audiência da Imprensa entre a juventude angolana: segundo o estudo, 45,5 por cento têm entre 15 e 24 anos, 43,3 por cento estão na faixa dos 25 e 39 anos. Afinal, a juventude acredita na Imprensa e lê os jornais.”
Tivesse a sondagem auscultado os angolanos do zero aos 15 anos e os analfabetos, então a audiência do JA estaria certamente muito perto dos 80%. É obra.
“Os 54,7 por cento de audiência do Jornal de Angola ganham uma expressão mais elevada se for tomado em linha de conta que os entrevistados são residentes nos municípios de Luanda, Belas e Cazenga, áreas urbanas, mas também Quiçama, Icolo e Bengo, Viana e Cacuaco, áreas com uma grande componente rural, ainda que Viana e Cacuaco tenham agora centralidades urbanas. Os entrevistados são moradores também na Ingombota, Samba, Rangel, Sambizanga, Maianga e Kilamba Kiaxi. Nestes municípios estão os grandes consumidores da Imprensa angolana.”
Pois é. Mais uma vez a modéstia do órgão oficial marca pontos. Tivessem auscultado as zonas do país profundo (onde falta papel higiénico) ou até aquelas mais costeiras que usam o Pravda para embrulhar peixe (diz-se que não há melhor papel para qualquer dessas funções) e o resultado seria mais favorável.
“No que diz respeito aos hábitos de utilização, a sondagem revela que 89,2 por cento dos inquiridos vêem televisão, 60,3 por cento têm acesso à Internet, 52,4 por cento ouvem rádio e 36,3 por cento lêem jornais e revistas”, pormenoriza o absorvente JA. Por outras palavras, só 36,3 por cento dos militantes do MPLA são alfabetizados.
“Na Internet, o Jornal de Angola tem 7,5 por cento de audiência, ocupando o quarto lugar numa lista comandada pela “Google Angola”. O êxito das publicações da Edições Novembro é evidente”. Mais do que evidente. Por alguma razão o Boletim Oficial tem quase todos os seus serventes na lista de potenciais candidatos ao Prémio Pulitzer.
“Os entrevistadores fizeram esta pergunta ao universo de inquiridos: Confia na Imprensa e nos demais meios de comunicação social em Angola? A resposta – de acordo com o estudo realizado por altura do debate na Assembleia Nacional sobre o papel dos meios de comunicação social do Estado – contraria tudo ou quase tudo o que se tem dito e escrito sobre a credibilidade dos Media angolanos: 67 por cento confiam! Apenas 20 por cento não confiam. É um nível de confiança acima da média mundial, mesmo em países que se apresentam como os campeões da liberdade de imprensa, como os EUA, Reino Unido, França ou Alemanha.“
Acima da média mundial? Claro que sim. Ou não fossem a TPA, RNA e JA paradigmas do que melhor se faz em todo o mundo e arredores, mesmo considerando os seus camaradas da Coreia do Norte.
“O conhecimento público desta sondagem de opinião justifica os violentos ataques que este ano surgiram contra o Jornal de Angola, particularmente no último semestre. Numa conferência no Centro de Imprensa Aníbal de Melo, organizada pela União dos Jornalistas, um sociólogo colocou o líder de audiências em Angola ao mesmo nível do “Folha 8” (no estudo tem apenas 4,6 por cento) e afirmou que o Jornal de Angola não tem credibilidade nem respeita os princípios éticos e deontológicos. Opinião respeitável, mas que, pelos vistos, não tem qualquer adesão à realidade da influência dos “mass media” em Angola”, escreve o impoluto mercenário. Muito lhe custou escrever “Folha 8”, tal é a espinha (não a dorsal, que não têm) que há muito têm entalada numa garganta tão profunda quanto a Tundavala.
“Esta técnica do “palpite” enganador sobre o Jornal de Angola é repetida por alguns comentadores, políticos e até jornalistas, que alinhavam lugares comuns para depois tirarem conclusões que sirvam ambições e interesses pessoais. O Jornal de Angola é cada vez mais um diário nacional, cobrindo na divulgação e distribuição todas as províncias”, diz o Boletim Oficial, puxando os galões próprios de quem, repita-se, vive à custa do dinheiro roubado ao Povo. É, aliás, a prova de que qualquer analfabeto pode ser director do pasquim.
“Além dos ataques brutais desferidos contra o Jornal de Angola no último semestre deste ano e particularmente nos dois últimos meses, por figuras da oposição, merece referência especial a exibição no plenário da Assembleia Nacional, durante o debate, de um contrato individual de trabalho entre a Empresa Edições Novembro e um jornalista. O documento foi roubado e o deputado Raul Danda ousou exibi-lo na casa das leis. Ao fazê-lo violou gravemente a Lei. Mas a violação grosseira não mereceu a mínima inquietação dos seus colegas de bancada. O que revela conivência no crime. Já durante o CAN’2010, uma viatura da Edições Novembro foi alvejada durante o ataque à selecção do Togo em Cabinda e a solidariedade das associações de classe dos jornalistas foi em de forma silêncio”, conta e lamenta o Pravda, apelando à lágrima de comiseração por parte dos seus donos que, afinal, parecem querer fechar a torneira que ama…menta os grunhos do pasquim e cujos grunhidos já começam a chatear os próprios donos.
Diz o dito cujo que “um consumidor atento dos jornais angolanos facilmente conclui que a liberdade de expressão é uma realidade inquestionável. O mesmo acontece com a liberdade de imprensa. O que falta é mais trabalho sério e verdadeiramente profissional dos jornalistas. Em Angola não existe qualquer tipo de censura institucional, mas há casos evidentes de abuso de liberdade de imprensa, que fazem vítimas em todos os estratos sociais. Os principais alvos dessas acções criminosas são titulares de órgãos de soberania, que desenvolvem um serviço público e tem direito à dignidade e ao bom nome.”
Pois é. No caso do Boletim Oficial, bajulação ao poder é sinónimo de jornalismo e sabujice significa liberdade. Para quem, como é o caso, tem de se descalçar para contar até 12, até é uma forma de raciocínio quase típica de seres erectos. Quase.
“Aos 2.000 entrevistados na sondagem do IPOP foi feita outra pergunta directa: O que falta na comunicação social? As respostas são eloquentes: 17 por cento dizem que falta verdade. Mas cerca de 13 por cento responderam que não falta nada. Apenas 4,3 por cento dizem que falta profissionalismo. Mas quanto à liberdade de expressão, só 3,1 por cento (61 entrevistados em 2.000) dizem que falta. Os detractores da Imprensa têm outra surpresa: apenas 1,4 por cento dos entrevistados dizem que não há isenção na Imprensa. Quem trabalha a sério nos jornais sabe que este número está certo”, conclui o órgão oficial da direcção do MPLA. Muito bem. Foi, aliás, uma sondagem feita à e por medida, de modo a justificar junto do dono que os sipaios estão no bom caminho.
Cremos, contudo, que o Jornal de Angola tem saudades do tempo de partido único e de único pasquim. Mas, mesmo agora, podem aumentar substancialmente as suas audiências, sendo certo que delas depende a dourada vida dos seus mercenários dirigentes.
Vejam exemplos. Vladimir Putin, com a repressão e encarceramento dos oposicionistas e fuzilamento de jornalistas, tem um índice de popularidade superior a 80%. Saddam Hussein, Kadafi, Hitler só não passaram os 100% porque eram modestos. Tal como hoje acontece com Kim Jong-un. Portanto…