Kilamba: Estado transforma vítimas em criminosos

Kilamba: Estado transforma vítimas em criminosos - Folha 8

A situação está à beira da explosão. O governo deixou de respeitar o cidadão e faz da força uma permanente arma de humilhação e chantagem. Entre o colono português e a política deste MPLA/JES deixou de haver qualquer diferença e qualquer semelhança com a realidade, beneficia os portugueses.

O “MPLA e Eduardo dos Santos não são culpados! Nós somos os verdadeiros culpados desta situação ao acreditarmos num regime de corruptos e maldosos, dando-lhes o nosso voto e o nosso silêncio, quando deveríamos mobilizar-nos, em grandes manifestações de repúdio contra essa política de rapina do dinheiro do povo”, disse revoltado, Manuel Kandimba, que um dia acreditou ser proprietário de um apartamento na cidade do Kilamba.

“Comprei a casa, no Kilamba, paguei no banco na conta da Sonip e agora sou colocado no olho da rua, quando os culpados são os funcionários da empresa vendedora. Estes senhores estão a gozar demais com o povo e nós devemos dar um basta. Chega de humilhação o povo deve levantar-se, tal como os nossos pais fizeram no tempo colonial”, afirma José Cardoso.

Os gritos de revolta sobem de tom, depois da primeira onda de despejos de mais de 100 famílias de forma violenta, brutal e injusta da cidade do Kilamba, mesmo tendo pago de forma lícita as residências que então ocupavam. O recalcamento está nos corações, a contestação campeia e pelo que paira no ar, tudo poderá acontecer, continuando este braço de ferro. E porquê?

A Sonip – Sonangol Imobiliária e Propriedades, continua a sua estratégia de despejar mais umas centenas, desta vez serão mais de dois mil moradores, da cidade do Kilamba.

Um projecto elaborado e financiado por Pierre Falcone, o traficante de armas, condenado e preso em França por tráfico de armas a favor do regime de Angola e fuga ao fisco, a quem o Presidente da República. de forma inconstitucional, concedeu a nacionalidade e nomeando-o, inclusive, diplomata representante de Angola na UNESCO.

É caso único no mundo contemporâneo, um traficante de armas, condenado no seu país, ser nomeado embaixador de um outro Estado, com direito a passaporte diplomático. Tudo para fugir a justiça. Uma cópia fiel a Bob Denard, o celebre mercenário, que dava golpes de estado, por dá cá aquela palha, em África, por sinal, também cidadão francês.

Daí não espantar, que este empreendimento, tenha sido apresentado com pompa e circunstância pelo amigo e Presidente da República que, ao invés de servir, indistintamente, os angolanos carentes, como havia dito em público, está mais orientado para a mobilização de consciências, visando votos partidocratos, ao ponto do chefe supremo nunca ter estado interessado, no valor real das casas, base para recuperação de um investimento que o Estado teve de pagar, alegadamente, cerca de mil milhões de dólares a Pierre Falcone.

Como parece nunca ter estado em causa uma comercialização eficiente e profissional, para recuperar o capital investido, colocar à frente amadores era o melhor, numa mostragem de autêntico desrespeito pelos bens públicos e trapalhada, que se arrasta até aos dias de hoje.

Desta feita mais uma vez, o Presidente recorreu a empresa de petróleos, aquela que melhor alimenta a corrupção e tantas vezes vê desviado o seu objecto social, com fins inconfessos, por ser a escapatória ideal para esconder os milhões de dólares desviados com bênção presidencial.

E é num autêntico regabofe que uma empresa sem qualificação imobiliária demonstra, toma conta de um grande projecto, procedendo à comercialização de património, sem preocupação do seu real valor. Tanto assim é que o custo inicial estava em USD 60 mil, subiu para 80, 100 mil, acrescentados com a chuva de bilhetes partidocratas, para alojamento “do camarada X, militante do partido, num bom apartamento”, numa clara sensação de nunca ter estado em causa a recuperação do investimento.

E neste mar de indefinição, onde os chefes grandes, senhores das ordens superiores, roubam descaradamente o erário público, a raia miúda, não poderia ficar indiferente e, engendra, ela também, um esquema de enriquecimento ilícito, na lógica de, se o chefe rouba, com base no provérbio presidencial de “o cabrito comer onde está amarrado”, ela por maioria de razão poderia, também, ajudar a desbastar o capim.

Daí os “cabritinhos” terem escancarado as portas para a implantação de uma estratégia de continuidade da corrupção, que tudo indica não tem limites ao nível do regime e como não podia alojar cidadãos do partido no poder, através dos famosos “cartões das ordens superiores”, montam uma forma de vender património à margem das listas oficiais, “explorando” a fragilidade e necessidade dos cidadãos carentes de uma habitação, estabelecendo uma forma de pagamento em que deveria ser feito um depósito bancário, em nome da Sonip e outro em cash, aos diligentes “engenheiros”.

Os lesados, como se pode verificar, são terceiros de boa fé, que em qualquer situação de investigação não deveriam ver afectada a sua esfera jurídica. Mas o regime sabe o que isso significa? Sabe! Mas não parece estar preocupado na interpretação e cumprimento da lei, quando em causa está prejudicar o elo mais fraco, no caso, os populares de boa-fé, que, ingenuamente, acreditaram estar a negociar com pessoas de bem.

A verdade é que o projecto Kilamba mostra mais uma vez o desprezo que o regime tem pelo povo, protegendo os infractores. A SONILS, por exemplo, vendia casas por ordem presidencial, mau grado o seu objecto social ser tratar dos petróleos. Mas como a ordem veio de quem manda, toca a entrar na negociata. “Os seus agentes imitando os chefes viram uma oportunidade para enriquecer facilmente e começaram a fazer esquemas, chegando ao ponto de vender atrás da porta e, pois claro, lesando interesses de terceiros que estavam de boa-fé no negócio”, denunciou uma senhora recém despojada.
Perante os factos, repetimos, se este Estado/JES fosse uma pessoa de bem deveria fazer novos acordos com as pessoas e não, numa atitude musculada, expulsá-las como com o rótulo de criminosos quando, na verdade, eram vítimas.

Com os apartamentos vazios, independentemente de saber as verdadeiras razões pelas quais eles foram ocupados, a Presidência da República, sem uma prestação de contas, ordena que a Sonip transfira todos os processos, agora para a Imogestin, caricatamente, uma empresa cujo accionista maioritário é o MPLA, partido no poder, que assim passa a ser responsável pelas vendas das casas construídas pelo traficante de armas franco-angolano, Pierre Falcone.

Do ponto de vista oficial, mesmo que tenham sido comprados no pressuposto de que a venda era legal por estar a ser feita por funcionários habilitados por isso, vários apartamentos das centralidade do Kilamba (tal como no Zango e Cacuaco) não era possível terem sido ocupados ilegalmente.

No Kilamba, para além de compulsivamente despejados, os “ocupantes” enfrentam processos judiciais viciados “ab initio”, onde é notória a parcialidade das autoridades, que dizem, visar apenas um processo para reposição da legalidade.

Segundo Mateus Cristóvão, porta-voz da Sonangol, “muitas pessoas foram impedidas de entrar nos seus apartamentos porque foram ocupados ilegalmente, naturalmente o processo demorou algum tempo e o que está a decorrer é só o resultado desta acção de reposição da legalidade”.

Mateus Cristóvão diz ainda que “a Sonip apenas está a cumprir o seu papel, neste período de transferência para a Imogestin”.

Recorde-se que no princípio do ano a Polícia Nacional deteve uma rede de trabalhadores da Sonip, acusando-os de terem forjado contratos e facilitado a ocupação ilegal de mais de 100 apartamentos na Centralidade do Kilamba, cujos preços e modalidades implementados não foram revelados.

E se de facto os contratos eram forjados por trabalhadores da Sonip, que culpa têm as vítimas? Não deveria o Estado responsabilizar-se por essas malfeitorias já que os prevaricadores eram funcionários da Sonip/Presidência?

A Sonangol Imobiliária e Propriedades (Sonip) iniciou, em 2012, a venda de habitações nas centralidades do Kilamba, Cacuaco, Capari, Km 44 e Zango (Condomínio Vida Pacífica), por decisão e despacho presidencial. As vendas foram processadas em regime de renda resolúvel, com e sem capital inicial, num horizonte de 15 a 20 anos.

“As pessoas acreditaram no Presidente e neste projecto, mas afinal é sempre a mesma coisa. Fazem cambalacho, as pessoas acreditam, investem as suas economias e depois correm connosco como se fossemos bois, quando somos inocentes”, gritou bastante revoltada Maria Nzola acrescentando, “como este Governo não vê o que se passa nos outros países, nós temos de começar a reclamar, também, os nossos direitos, quer com manifestações, quer não votando mais neste regime, que dirige contra o povo pobre”.

Filomeno Morais vai mais longe ao acusar o Presidente da República de “ter uma política de gestão contra o povo, talvez por estar muitos anos no poder, os seus filhos serem bilionários e os familiares e amigos milionários estar se marimbando para o sofrimento e injustiças contra os cidadãos. Nós não temos um pai do país, temos um presidente do MPLA que apenas defende os interesses desse partido”.

Como se pode depreender os ânimos estão à flor da pele, mas ainda assim os despejos compulsivos vão continuar, nos próximos dias, numa lógica da política de arrogância, que só reconhece o povo em período eleitoral.

“O governo está a gozar com a paciência do povo, mas poderão um dia surpreender-se com a nossa resposta, e se esta começar no Kilamba, o rastilho poderá ser incontrolável. Eu, por exemplo estou farto e acho ter chegado a hora de perdermos o medo e enfrentarmos as armas de um regime que oprime o seu povo, todos os dias, para continuar a enriquecer descaradamente”, disse ao F8, Joaquim Jorge acrescentando estar disposto, inclusive “a voltar para a guerra se em causa estiver a necessidade de resgatar a dignidade da maioria dos angolanos”.

F8 sabe de fonte segura, estar na forja, mais uma acção de despejo compulsivo, contra cidadãos inocentes, cerca de 2000 (duas mil famílias), que foram burlados, por funcionários da Sonip, onde os nomes acusados são os de Marcos Adão Kilombo, que tinha como intermediário o jovem Pocota, a directora comercial Deolinda e Fernando Baltazar, que quando acareado na DNIC com o Marco, confirmou o nome dos verdadeiros mandantes, mas para surpresa geral, o Marcos Kilombo foi solto, enquanto Baltazar, como sempre o peixe miúdo, está detido, na Cadeia de São Paulo.

E como o regime só tem a linguagem da força, lá vão para o olho da rua, milhares de famílias, com a força das armas e canhões da Polícia e das Forças Armadas. E o objectivo está à vista, desocupar legítimos proprietários burlados para lá colocarem os amigos, compadres e outros correligionários, num processo recorrente.

“Vamos ver se o Kilamba e o povo vão continuar a ser os mesmos por muito mais tempo, vejam o que está a acontecer nos outros países. Se tivermos de morrer que assim seja, mas não podemos continuar a ser humilhados na nossa própria terra, sempre pelas mesmas pessoas”, alerta Paulo Mbuenji.

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