História de Angola não é (só) a história do MPLA

História de Angola não é (só) a história do MPLA - Folha 8

Membros da sociedade civil na província do Bié manifestaram a necessidade de continuar a divulgação do verdadeiro percurso histórico do país, antes e depois da Independência, com vista a fortalecer o espírito patriótico da nova geração.

Em declarações à Angop, o jovem Bértil Miranda Afonso defendeu a necessidade de se recordar sempre a história do país, para os mais jovens.

Já o jurista Aldino Gil enalteceu a iniciativa do Movimento Nacional Espontâneo, sublinhando que elucidar sobre os acontecimentos históricos constitui acto patriótico, recomendando a realização de mais evento que retratem a vida do país, assim como da vida do Titular do Poder Executivo, o Presidente José Eduardo dos Santos.

O jovem Lucas Mandavela (professor), apelou à inclusão de mais temas sobre a História de Angola, no curriculum escolar, para que os estudantes possam interagir directamente com o passado do país.

Lembre-se que, sob iniciativa do Movimento Nacional Espontâneo, 120 jovens, interpretaram e retrataram o percurso histórico de Angola, isto é, desde a luta Armada de Libertação Nacional, morte do primeiro presidente António Agostinho Neto, em 1979, e consequente sucessão pelo Presidente José Eduardo dos Santos.

Por outras palavras, há pelo menos duas histórias de Angola. A oficial, que grosso modo corresponde à história do MPLA, e uma outra que – nem sempre correcta – falado que de facto se passou.

Os jovens por exemplo, poderiam cruzar-se com uma parte da História de Angola ao ler o livro “Cruzei-me com a História”, de Samuel Chiwale, ex-Comandante Geral da UNITA, a par do livro de Alcides Sakala, “Memórias de um guerrilheiro”.

Sobre o presidente fundador da UNITA, mesmo que tendo sido vítima de algumas das suas injustiças, Samuel Chiwale diz: “O Dr. Savimbi era um verdadeiro fenómeno: um intelectual de mente clara e pensamento profundo. A juntar a isso estava a sua capacidade de, diante de alguém, traçar mentalmente o seu perfil e, em função disso, recorrer ao argumento apropriado para o convencer. Diante de pessoas com esta dimensão, pouco podemos fazer a não ser segui-las. Foi isso que se passou comigo” (Página 60).

Foi, aliás, isso que se passou com milhões de angolanos.

É claro que nem todos os que privaram com Jonas Savimbi, até mesmo alguns dos que com ele fundaram a UNITA, resistiram à força centrípeta dos dólares do MPLA, como recorda Samuel Chiwale: “Miguel N’Zau Puna e Tony da Costa Fernandes haviam sido comprados pelo MPLA por uns míseros milhões de dólares”, (Página 279).

Inclusive muitos dos ilustres portugueses fazedores de opinião sobre Angola, mesmo que sejam militares de alta patente, deveriam ler esta obra da Samuel Chiwale. É que, cada vez mais, a tese de que o MPLA foi o único a dar o corpo e a alma na luta contra o colonialismo português cai por terra.

Se calhar, dos três envolvidos (MPLA, UNITA e FNLA) o partido a quem foi entregue pelos camaradas de Lisboa o Governo de Angola, em 11 de Novembro de 1975, foi o que menos fez pela libertação do país.

Samuel Chiwale desmonta o mais batido argumento do MPLA e dos comunistas portugueses quanto à suposta colaboração da UNITA com a PIDE-DGS. Mas, de facto, só o tempo clarificará uma das mais nojentas estratégias dos donos do então poder em Lisboa.

Co-fundador da UNITA juntamente com o líder histórico Jonas Savimbi, Chiwale afirma mesmo que, antes da independência, nas áreas de maior implantação do movimento do “Galo Negro” – nomeadamente Bié, Malange, Kuando-Kubango e Lundas – “ninguém ouvia falar do MPLA”, identificando como movimento independentista apenas a UNITA.

Chiwale reclama que a o movimento tinha “células clandestinas” em todas as capitais de distrito antes da independência, que tinham como missão “inocular os jovens” e mobilizá-los para a luta na clandestinidade.

A História de Angola precisa de todos estes tijolos. Destes e de outros que tardam em aparecer, eventualmente porque nem tudo foi digno na UNITA, nomeadamente quanto ao processo de traição que levou à morte de Jonas Savimbi, protagonizado por ex-altos quadros militares do Galo Negro e, mais uma vez, com o apoio de cérebros portugueses pagos com dólares do MPLA.

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