Frelimo debaixo de fogo

O ex-número dois da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo),  Raul Domingos, acusou a Frelimo de apostar na violência durante a campanha eleitoral, como forma de se manter no poder, porque sente que “o tapete do poder está a fugir-lhe”.

Em entrevista à Lusa, para um balanço do primeiro mês de 45 dias de campanha para as eleições gerais de 15 de Outubro, Domingos, igualmente líder do extraparlamentar Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), afirmou que as últimas semanas têm sido marcadas por violência física e psicológica alegadamente instigados pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), com o suposto propósito de inviabilizar o trabalho da oposição e assegurar a continuação do monopólio do poder.

“A Frelimo sente que o seu tempo no poder está a chegar ao fim, o tapete do poder está a fugir-lhe. São 39 anos de governação e o país está farto de ver os mesmos a acumular fracassos atrás de fracassos. O partido no poder está claramente a instigar à violência física e psicológica para inviabilizar a acção dos partidos da oposição”, afirmou Raul Domingos, cujo partido concorre às eleições legislativas e às assembleias provinciais.

Na opinião do negociador da Renamo no Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992, o suposto mutismo da liderança da Frelimo em relação aos actos de violência é uma prova de uma pretensa “autoria moral” da hierarquia da força política no poder em relação à instabilidade que tem caracterizado a campanha.

“Ou ficam calados ou se pronunciam com ambiguidades, sem uma condenação clara aos actos de campanha. São, pelo menos, autores morais dos actos de vandalismo que os militantes da Frelimo desencadeiam contra os simpatizantes da oposição”, afirmou o político, que não conseguiu ver a sua candidatura presidencial aceite pelo Conselho Constitucional.

Domingos acusou também a Frelimo de ter instruído os funcionários do Estado para “sabotarem” o trabalho político da oposição e inviabilizar a campanha dos mesmos.

“As caravanas dos partidos da oposição têm de fazer 200 quilómetros de carro o que se faz em 10 minutos de batelão, porque este avaria sempre que é para transportar a oposição. Está à vista de todos que há ordens para impossibilitar o trabalho da oposição”, enfatizou o ex-líder parlamentar da Renamo.

“A Frelimo está a transgredir manifestamente a legislação eleitoral, lançando mão de meios do Estado na campanha. Assiste-se a um saque de bens públicos para a campanha do partido no poder. Ainda vamos ver se estas eleições serão livres e transparentes, mas justas não serão, com certeza”, frisou Raul Domingos.

De acordo com o político, os partidos extraparlamentares estão a ser penalizados pela insuficiência de meios, uma vez que as forças com representação no parlamento contam com o financiamento atribuído pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e com a dotação orçamental canalizada pelo Governo por via dos assentos que detêm na Assembleia da República.

“A logística necessária para calcorrear o país é inacessível para os pequenos partidos. Estamos nisto porque somos pessoas de causas e sentimos que temos que mudar a arquitectura política do país, a partir da Assembleia da República. A actual legislatura mostrou que os que lá estão, estão para defender interesses de grupo e não os da maioria”, afirmou Raul Domingos.

Apesar da alegada desproporcionalidade de recursos supostamente a favor dos partidos com assento parlamentar, o líder do PDD manifestou optimismo quanto a um bom resultado, fundamentado, segundo disse, no alegado cansaço do eleitorado com as políticas da Frelimo.

Primeiro chefe da bancada parlamentar da Renamo na legislatura de 1994-1999, a primeira multipartidária na história da democracia moçambicana, Raul Domingos foi expulso do partido na sequência das eleições gerais de 1999, acusado de ter negociado favores pessoais com o Governo no processo negocial que visava restaurar a estabilidade ameaçada pela contestação pelo principal partido da oposição dos resultados eleitorais.

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