Mukanda para o meu amigo Lukamba Gato

Meu Caro Lukamba Gato. Em primeiro lugar aproveito esta oportunidade para te enviar um forte abraço e desejar tudo de bom para ti, a família, o teu partido.

Por Domingos Kambunji

Já se passaram mais de quatro décadas desde aquele tempo, que eu recordo com muito boas memórias, sem nunca ter saudade, porque não tenho tempo nem paciência para ter saudade, em que eras líder entre os nossos colegas de liceu. Eras um companheiro muito inteligente e amigo, sempre disponível para proteger os menos fortes contra as tentativas de “bullying” dos mal educados.

Também me recordo do dia em que me convidaste para ser militante da UNITA. Recebi também convites para ser militante do MPLA e da FNLA. Eu nunca tive paciência nem disciplina para ser militante de um partido, o que continua a acontecer hoje em dia, e sou incapaz de ser crente numa religião, apesar de verificar muitas virtudes e alguns defeitos em todas elas. Isso não significa que eu seja apolítico. Quanto à religião, sou agnóstico.

Li, com muita atenção, a tua opinião no Club-K sobre as eleição presidencial nos EUA e as tuas observações sobre o Donald Trump e sobre o Barack Obama. Sinceramente, fiquei estupefacto ao verificar os teus elogios a Trump e a atribuição da classificação de medíocre à performance de Obama como presidente. Discordo completamente da afirmação que fazes de que Trump foi vítima de diabolização por parte dos seus opositores.

Como poderá alguém atribuir uma classificação de medíocre ao desempenho de Obama quando ele foi capaz de reverter a recessão económica, proporcionar as condições para a criação de quinze milhões de empregos, diminuir o desemprego e aumentar o rendimento das famílias americanas, criar um sistema de saúde para vinte milhões de americanos que não tinham qualquer cobertura?

Não é por acaso que 56% dos norte-americanos (muitíssimos mais do que os votaram em Trump) fazem uma avaliação muito positiva do desempenho do presidente afro-americano. (Bem sei que o MPLA diz que o José Eduardo dos Santos tem a aprovação de “150% ou mais” dos angolanos, numa estratégia pacóvia e demagógica na tentativa de influenciar e gerir as mentalidades, através de sofismas e de mentiras infantis descaradas.)

As votações dos cidadãos norte-americanos foram muito objectivas e esclarecedoras: Hillary Clinton obteve a grande maioria dos votos dos eleitores com habilitações universitárias, das minorias de negros, latinos e asiáticos e das mulheres. Trump obteve a maioria dos votos dos homens e das pessoas com menos habilitações académicas.

Donald Trump não necessita da ajuda de ninguém para a diabolização da sua imagem. Ele consegue pintar esse retrato negativo através das suas palavras e dos seus actos.

Trump, em 1998, dizia que se algum dia “decidir concorrer à Presidência dos Estados Unidos fá-lo-ei como candidato pelo Partido Republicano. Os eleitores deste partido são os mais estúpidos do país. Eles acreditam em tudo o que a Fox News diz. Eu posso mentir e eles acreditam em tudo. Eu acredito que seria excelente”. Veio a acontecer!

Sabe-se hoje que Trump venceu porque muitos simpatizantes do Partido Democrata decidiram não participar na eleição, não porque tivesse crescido o número de simpatizantes e apoiantes do Partido Republicano. Mesmo assim, Hillary, apesar de não ter conquistado a maioria dos votos no colégio eleitoral, no total nacional, obteve muito mais votos do que o Trump.

Quantas vezes o Trump recorreu à bancarrota, mantendo na sua posse os bens adquiridos sem ter necessidade de pagar os bens e serviços ou pagando-os ao preço de lana caprina? Uma? Duas? Cinco? Seis bancarrotas? Um grande empresário não perde cerca de um bilião de dólares num investimento e não prospera à custa deste tipo de esquemas legais, muito pouco éticos! Foi através destes esquemas de bancarrota que o Trump conseguiu esquivar-se legalmente para não pagar impostos federais. Deste modo, que ele considera ser muito inteligente, o novo Presidente dos Estados Unidos conseguiu que as suas empresas não pagassem impostos federais para suportar as despesas do país com a construção de estradas, escolas, hospitais, forças armadas, etc.-

Lukamba Gato, o que poderemos dizer das opiniões que Trump emitiu acerca de mulheres e de pessoas com atrasos no desenvolvimento físico e de outro tipo? O que poderemos dizer da classificação que Trump faz das mulheres como se fossem objectos? Eu só poderei afirmar que sinto muito, muitíssimo nojo, um enorme desprezo, uma angustiante revolta.

Donald Trump diz lutar contra a deslocalização de empresas americanas na China e em outros países com mão de obra ao preço da chuva (como aquela chuva que que alaga e implanta lagos enormes em muitas ruas esburacadas de Luanda) e onde não são respeitados os direitos e a dignidade dos trabalhadores. Então porque é que Trump tem muitas das suas empresas localizadas nesses países? Um outro exemplo é o de, para as obras de construção de arranha-céus, Trump importar aço da China em vez de o comprar a empresas localizadas nos EUA, que empregam mão-de-obra norte-americana.

O slogan da campanha de Trump foi “Make America Great Again”. “América is Great” em universidades, investigação científica, hospitais, estradas, legislação e prática na defesa dos direitos humanos, etc.. Não acredito que tal aconteça se Trump levar avante o objectivo de diminuir os impostos dos mais ricos. Todos nós sabemos que isso é um enorme sofisma que, no passado, provocou o decréscimo dos rendimentos e o desemprego na classe media. Neste aspecto, um dos exemplos mais revoltantes e tristes é o do nepotismo do MPLA em Angola.

“Trump vai rodear-se dos experts mais competentes em todas as matérias sensíveis”. Não acredito nisso, Lukamba Gato, ao vê-lo rodeado pelo Rudy Giuliani, Chris Chistie (governador de New Jersey com baixa popularidade no Estado e condenado recentemente em Tribunal) ou pelo Newt Gingrich.

Hillary Clinton demonstrou ser mais popular do que Trump. Obteve a maioria dos votos em todo o territórios do EUA, mais de 200 mil votos do que Trump conquistou.

A eleição de Trump não demonstrou a veia conservadora dos americanos. Demonstrou, isso sim, de que se os simpatizantes e apoiantes do Partido Democrata fossem devidamente galvanizados para a participação eleitoral não iriamos assistir à tomada de posse de um presidente com valores éticos e morais tão dúbios.

Trump diz que é muito inteligente e, em termos de conflitos internacionais, sabe mais do que os generais. Esqueceu-se de dizer que sabe mais do que os generais, não dos EUA, sabe mais do que os generais do MPLA. Sabe certamente muitíssimo mais do que o general Bento Kangamba.

Ontem iniciaram-se manifestações em várias cidades dos EUA contra a eleição de Donald Trump. Os descendentes de Martin Luther King não vão permitir que Trump seja um clone do Putin porque, felizmente, nos EUA há o direito de manifestar a opinião.

Não é como acontece em Angola, onde os nossos conterrâneos estão subjugados pelo Putin Angolano, o José Eduardo dos Santos, com a ajuda dos seus braços no Ministério do Interror, o Ângelo Veiga Tavares e do Ministro da Injustiça e dos Direitos Desumanos, o Rui Mangueira.

Hoje, os dirigentes da nova União Soviética, do Czar Putin, vieram a público informar que tiveram em contacto muito próximo com os dirigentes da campanha de Trump…

Pode ser que no futuro próximo o povo norte-americano acorde. Pode ser que no futuro, que desejamos muito próximo, que o povo angolano acorde.

Com os meus melhores cumprimentos.

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