Mais de 40 estudantes de diversas nacionalidades, do curso de licenciatura na área de línguas, literaturas e culturas estrangeiras da Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade Roma Tre, estão inscritos no primeiro seminário de introdução à cultura e literatura angolana, ministrado nessa academia europeia.
O curso, de 6 créditos, que teve o seu início este mês, irá decorrer até ao dia 08 de Maio, totalizando 30 horas lectivas, estando a ser ministrado, a pedido da Universidade de Roma Tre, pelo Professor Mestre António Quino e decorre no âmbito das actividades da cátedra Agostinho Neto.
De acordo com o docente angolano, o seminário tem quatro objectivos devidamente definidos, nomeadamente “dar a conhecer elementos da história da literatura angolana e das principais obras e autores; enquadrar os escritores angolanos em períodos temporais e socioculturais; reconhecer e distinguir o estilo individual e o estilo epocal e desenvolver métodos e técnicas de trabalho individual, de grupo e em grupo, que contribuam para a construção e desenvolvimento da aprendizagem da Cultura e Literatura Angolanas”.
No seu primeiro contacto com os estudantes, António Quino disse que ficou impressionado pela manifesta vontade desses em conhecerem a cultura e literatura angolanas.
“Fiquei satisfeito pois, se tudo correr bem, poderemos futuramente ter um forte núcleo de investigadores, tradutores e leitores aqui na Itália, recuperando uma relação cultural que já foi muito boa no passado. Só para termos uma ideia, o curso está a ser ministrado em português e uma boa maioria dos estudantes inscritos têm um fraco domínio da língua, mas foram vencidos pela curiosidade e vontade de conhecer esta Angola que precisa de se dar mais a conhecer, em particular a sua literatura”, acrescentou.
Ao início do seminário, juntou-se uma oferta à Biblioteca da Universidade por parte da União dos Escritores Angolanos (UEA) de mais de 25 títulos de autores angolanos. Segundo o secretário Geral da UEA, António do Carmo Neto, é preciso alimentar o estudo e consumo das obras e autores angolanos no público internacional.
“Não faz sentido levar o estudo da literatura à academia se não criarmos condições para os potenciais investigadores terem acesso aos livros. Daí será um passo para incentivarem o consumo e recomendarem a sua leitura”, referiu.
A primeira etapa desse curso, coordenada pelo Professor italiano Giorgio de Marchis, foi marcada por uma teleconferência com o escritor e docente angolano, Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos “Pepetela”, em que os alunos tiveram a oportunidade de colocar questões várias, em particular sobre o seu livro traduzido recentemente em italiano e disponível nas livrarias de Roma, designadamente “James Bunda – Agente Secreto”.
De recordar que o seminário é resultado da materialização do acordo tripartido que instituiu, a 24 de Março de 2014, uma cátedra na Universidade de Roma Tre com o nome do Poeta-Presidente, Agostinho Neto, e está destinada exclusivamente à divulgação e à promoção da Literatura e Cultura angolanas. Na ocasião, subscreveram o acordo a escritora Maria Eugénia Neto, na qualidade de presidente da Fundação Dr. António Agostinho Neto (FAAN), o professor Giuseppe Grilli, director do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas Estrangeiras da referida Universidade, e o escritor Carmo Neto, secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (UEA).
Carmo Neto referiu que o Acordo de Cooperação com a prestigiada Universitá degli Studi Roma Tre (Universidade de Roma Tre) tem a sua valência, pois a mesma possui uma experiência didáctica inovadora no panorama do sistema universitário romano, incentivando o processo de internacionalização e potencializando o intercâmbio para pesquisa com enfoque para as línguas, literaturas e culturas estrangeiras.
“Dessa forma, pensamos que criamos bases para uma maior divulgação da nossa literatura num país como a Itália, uma potência turística mundial, que em média recebe mais de 37 milhões de turistas por ano. Além da produção de antologias, tradução de obras, ir às Universidades transmitir aquilo que se produz e se produziu em termos literários vai certamente elevar o nome de Angola e dos seus escritores”, ajuntou.
No seguimento do pensamento do actual número um da UEA, o professor Giorgio de Marchis fez a seguinte afirmação: “A antologia do conto angolano, traduzida em Itália, inaugurou uma fase, pois foi a primeira vez que uma obra literária angolana chegou a Roma sem ser por intermédio de Lisboa. Portanto, foi uma ligação directa entre Luanda e Roma, e penso que esse é uma estratégia a elogiar”, finalizou.
O acordo de cooperação é válido por três anos renováveis e comporta a mobilidade de membros das duas instituições; o intercâmbio de material científico e cultural; e a participação comum nos programas promovidos pela Comissão Europeia ou por instituições e fundações, bem como na coordenação de propostas encaminhadas à aquisição de recursos financeiros para a realização de estruturas ou para o desenvolvimento de projectos de pesquisa e/ou formação.