O embaixador emérito da Finlândia, Mikko Pyhälä. defendeu hoje, em Coimbra (Portugal), que Amílcar Cabral e Nelson Mandela foram os maiores pensadores e dirigentes políticos de África.
M as o dirigente sul-africano não hesitava em afirmar que Amílcar Cabral tinha sido “o principal pensador e maior dirigente político do continente africano”, sublinhou o diplomata finlandês, que falava à margem da conferência “Entre a Finlândia e a Guiné. Mikko Pyhälä e Amílcar Cabral (1970-1971): Testemunho de um antigo dirigente da União Internacional de Estudantes (UIE)”.
A comparação entre os dois nomes da história africana não é, no entanto, “fácil nem, porventura, legítima”, sustentou o antigo embaixador finlandês, salientando que Mandela e Cabral “viveram realidades e em países muito diferentes”.
É “totalmente pacífico” que o fundador do Partido Africano da Independência (PAI), que esteve na “génese do PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde], organização de luta pela libertação destes dois países do colonialismo português”, foi “genial”, designadamente ao reconhecer “a importância da cultura na luta pela libertação”, defendeu o diplomata.
Amílcar Cabral foi “o líder mais brilhante das lutas africanas pela independência”, foi “o grande actor político e pensador”, sintetizou Mikko Pyhälä, concluindo que ele e Nelson Mandela “são gigantes”.
Pyhälä “visitou Conacri e as regiões libertadas pelo PAIGC em finais de 1970, integrando uma missão da UIE” e, mais tarde “teve um grande papel na organização da célebre visita de Cabral à Finlândia em 1971, que provocou uma reviravolta nas relações que este país mantinha com Portugal”, disse, na abertura da conferência, Julião Soares Sousa, historiador guineense e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20), entidade promotora da iniciativa.
Mikko Pyhälä foi também o primeiro estrangeiro a gravar as chamadas “canções da luta de libertação nacional”, recentemente reeditadas na Finlândia.
Embaixador designadamente em “vários países sul-americanos e asiáticos”, Pyhälä é autor de “diversas obras sobre Amílcar Cabral e a luta de libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde”.
A Guiné-Bissau foi “praticamente a única colónia africana que logrou conquistar a independência através da luta armada”, disse, durante a conferência, o diplomata finlandês, referindo as suas visitas àquele país e a Cabo Verde (antes e depois do 25 de Abril de 1974), entre outros momentos da luta destes povos pela independência, particularmente no plano diplomático.
Após grande disputa política interna, a Finlândia acabou, em 1972, por dar apoio humanitário aos movimentos de libertação africanos (à semelhança daquilo que, então, já faziam a Suécia e a Noruega), recordou.
Cabo Verde é hoje um país onde “a democracia está muito enraizada” e com assinalável “evolução económica e social”, afirmou Mikko Pyhälä, considerando a história mais recente do arquipélago “um monumento à sabedoria”.
Já a Guiné-Bissau “é um país pobre” e que, sobretudo nos últimos tempos, “tem sido vítima da máfia da droga”, mas “parece começar a tender para a normalização”, embora sejam “muitas e profundas as contradições” que o país tem de resolver, concluiu o diplomata.