O director do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, Alves da Rocha, considera “positiva” a entrada do gigante norte-americano Goldman Sachs na emissão de dívida pública angolana, embora questione os motivos.
“F iquei surpreso pelo facto deste gigante financeiro americano ter aceitado dar o seu aval a um Governo onde a maior parte das suas acções é desprovida de transparência”, afirmou hoje à Lusa o economista Alves da Rocha.
Como o F8 noticiou, o Governo escolheu o Goldman Sachs para liderar um grupo de bancos internacionais que serão agentes em “representação da República de Angola” na emissão de dívida soberana.
“Em termos teóricos, e até mesmo técnicos, o seu envolvimento pode, na verdade, ser positivo para Angola. Mas fica-me sempre a dúvida sobre as verdadeiras razões”, questionou o economista e ex-quadro do Ministério do Planeamento.
Em causa está um despacho, de 30 de Janeiro, em que o Presidente José Eduardo dos Santos aprova a concessão de uma “carta-mandato” conferindo às instituições financeiras Goldman Sachs International, BNP Paribas e Industrial and Comercial Bank of China (ICBC) “autorização para actuarem como bancos agentes em representação da República de Angola nas emissões soberanas que o país vier a fazer.
Surge numa altura em que o Executivo está a rever o Orçamento Geral do Estado face à forte quebra das receitas fiscais petrolíferas, atribuindo ao Goldman Sachs o estatuto de “banco líder” deste grupo.
“Nós já trabalhamos com o Goldman Sachs há uns anos e portanto a Goldman Sachs conhece a economia angolana e a suas potencialidades. Nesse sentido não temos nenhuma preocupação”, disse, por seu turno, o secretário de Estado do Tesouro, Leonel Silva.
O governante esclareceu ainda que esta operação visa “captar recursos” para o Orçamento Geral do Estado de 2015, mas sem adiantar objectivos de financiamento a garantir.
“Vamos ver. Ainda não está discutido tudo. A Assembleia Nacional é soberana, pode definir para baixo ou para cima [os limites], portanto vamos aguardar”, apontou Leonel Silva.
Já para o director do CEIC, o envolvimento do Goldman Sachs constitui uma “espécie de assessoria”, mas que “vai custar muitos milhões de dólares”, o que pode ajudar a “explicar” o interesse do banco norte-americano no mercado angolano, numa altura em que o país cortou para metade a previsão das receitas fiscais petrolíferas de 2015.
A escolha do Goldman Sachs é justificada, no mesmo despacho presidencial, com a “estratégia do Governo no que concerne à diversificação das fontes de financiamento” visando a “prossecução de objectivos económicos e sociais de interesse público indispensáveis ao desenvolvimento nacional”.
“Em particular dos programas de investimento públicos e de outros programas e projectos de interesse nacional enquadrados no Plano Nacional de Desenvolvimento de Angola”, lê-se no despacho.