O Governo de José Eduardo dos Santos está a negociar com o Banco Mundial um empréstimo de 500 milhões de dólares para equilibrar o orçamento, a somar a mais 500 milhões já contratados com o Goldman Sachs e Gemcorp Capital, noticiou hoje o “Financial Times”.
S egundo o jornal, o Governo está a negociar um empréstimo de concessão – a juros muito abaixo dos praticados pela banca comercial – no valor de 500 milhões de dólares, elevando para mil milhões de dólares o montante de empréstimos contraídos nas últimas semanas.
A informação é avançada ao jornal britânico pelo responsável do Banco Mundial pelo acompanhamento de Angola, Souleymane Coulibaly, que afirma que “o principal é dar algum alívio de curto prazo por causa da abrupta redução de receitas”.
O Governo de Angola “está a analisar as prioridades, onde cortar na despesa, para garantir que o elemento social é, de alguma forma, protegido, mas o programa de reformas que vai ser sustentado no apoio orçamental é para fortalecer a gestão orçamental a médio prazo”, diz o economista do Banco Mundial que acompanha Angola a partir dos Camarões.
A informação do jornal britânico surge no dia anterior à aprovação do Orçamento do Estado rectificativo, que deverá ser ratificado na sexta-feira em Luanda, esperando-se uma diminuição para menos de metade do preço do barril – de 81 para 40 dólares -, o que representa um corte de 14 mil milhões de dólares nas receitas, e fortes cortes e adiamentos na despesa, nomeadamente nas obras públicas.
O petróleo vale 98% das exportações de Angola e foi responsável, em 2013, por 76% das receitas fiscais, sendo portanto um factor incontornável na elaboração do plano de despesas e receitas do país.
O objectivo maior do empréstimo que deverá ser concedido é assegurar que “os pobres e os vulneráveis” são protegidos dos cortes orçamentais, o que representa um universo de 24 milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia, o que ilustra bem as “gigantescas disparidades que existem entre as elites e o povo”, escreve o “Financial Times”.
Os críticos, escreve o jornal, dizem que o Presidente de Angola, “que está no poder há 36 anos, lidera um regime de desperdício, nepotismo e corrupção, e de usar os petrodólares para enriquecer uma ‘troupe’ ligada ao poder, mas Souleymane Coulibaly diz que o Banco Mundial tem ‘medidas mitigantes’ para contrariar potenciais preocupações” sobre esse tema.
“Angola não é o primeiro país a ter o rumor ou a realidade da corrupção”, disse o economista ao FT, concluindo que “o objectivo mais importante do Banco Mundial é interagir com eles porque são um parceiro valioso – são a terceira maior economia de África”.