O arcebispo católico da província do Huambo, Dom José de Queirós Alves, afirma que a ética é fundamental para edificação de sociedade fraterna. Tem razão. Mas só tem se a ética existir.
Por Orlando Castro
D iscursando no encerramento do XIII Congresso Nacional do Instituto de Ciências Religiosas de Angola, o prelado disse que a ética é um valor que faz com que as pessoas sejam verdadeiramente humanas e se envolvam na construção de comunidade solidária, onde se respeitam os valores morais e cívicos.
“Angola está num momento de grande evolução na sua transformação, nos aspectos da indústria, economia e estruturação social, mas carece de uma dimensão social dos seus cidadãos para que possa crescer harmoniosamente. Isso só é possível através da ética”, realçou.
O arcebispo do Huambo disse ser importante a formação humana para o alcance dos verdadeiros fundamentos que dão estabilidade aos valores humanos.
Acrescentou ainda que o país precisa de pessoas estruturalmente formadas, com capacidades para orientarem as diferentes estruturas sociais para levar os destinos de Angola para um caminho cada vez mais justo, onde todos os angolanos se comprometam a consolidar a paz e juntos participar nos projectos que possam prosperar a nação angolana.
“Não basta que nas escolas tenhamos a educação moral e cívica, mas devemos aspirar que as mesmas promovam o crescimento religioso dos cidadãos, pois é inútil ficarmos simplesmente nos aspectos humanos”, sublinhou.
Em Julho de 2012, ano de contagem de votos (eleições são algo diferente) o arcebispo do Huambo disse, falando à população de Chilata, município do Longonjo, que o povo angolano tem muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade.
“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.
Dom José de Queirós Alves pediu aos crentes e à população em geral para pacificarem os espíritos, amor ao próximo e o perdão para a construção de famílias e sociedades fortes e firmes.
Dom José de Queirós Alves, ao contrário do que é divulgado pelos pasquins do regime, tem dito muitas outras coisas.
”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, Dom José de Queirós Alves, em conversa com o Procurador-Geral da República, João Maria Moreira de Sousa.
Dom José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.
O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.
Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (tudo continua na mesma), Dom José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.
Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.
Dom Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.