QUEM BAJULA SEMPRE ALCANÇA…

O general João Lourenço, Presidente do MPLA que, por inerência, também é Presidente da República, para além de Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas vai condecorar mais 697 personalidades no âmbito das celebrações dos 50 anos da data em que o MPLA comprou (ao desbarato) Angola a Portugal.

Esta será a segunda cerimónia de entrega das medalhas comemorativas dos tais 50 anos em que, segundo o general João Lourenço, o MPLA fez mais do que os portugueses em 500. São duas as categorias: a classe Independência, que reconhece o contributo de figuras históricas assim referidas pelos donos do reino e que se distinguiram na luta contra o colonialismo e na fundação do Estado angolano, e a classe Paz e Desenvolvimento, que distingue o papel de cidadãos na consolidação da paz e na construção do país.

Entre os homenageados na classe Independência, destacam-se o escritor Pepetela (Artur Pestana), que foi também guerrilheiro do MPLA e activo colaborador de Agostinho Neto nos massacres de 27 de Maio de 1977, o cantor Bonga, uma das vozes mais conhecidas de Angola; o arcebispo emérito de Lubango e mediador no processo de paz, Zacarias Kamwenho; o músico Waldemar Bastos (já falecido), que viveu em Portugal e projectou a música angolana a nível internacional; e Luandino Vieira, escritor que foi também perseguido pelo regime colonial.

Na classe Paz e Desenvolvimento, vão ser distinguidas personalidades da cultura, desporto e sociedade civil, incluindo José Eduardo Agualusa, escritor internacionalmente premiado; Paulo Flores, um dos cantores mais populares de Angola; o (mais ou menos) activista dos direitos humanos Rafael Marques de Morais; Pedro Mantorras, antigo futebolista do Benfica; Eduardo Paim, conhecido como “pai” da kizomba; e Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro.

Ainda não existe data marcada para a entrega das condecorações. Mas, como em tudo, será quando o rei-general João Lourenço entender.

Esta segunda ronda de homenagens – com 252 distinguidos na Classe Independência e 445 na Classe Paz e Desenvolvimento – surge meses depois de uma primeira cerimónia controversa, marcada pela exclusão de Jonas Savimbi (UNITA) e Holden Roberto (FNLA), figuras centrais na luta pela independência do país e, por isso, consideradas pelo MPLA como “terroristas”.

A primeira cerimónia ficou marcada pela ausência de alguns dos condecorados, entre os quais o ex-presidente da UNITA, Isaías Samakuva, os nacionalistas José Samuel Chiwale, Ernesto Mulato e Miraldina Jamba, também da UNITA, e a antiga primeira-dama, Maria Eugénia Neto.

O ciclo de condecorações vai prosseguir nos próximos meses, com novas cerimónias previstas até ao final de 2025.

As medalhas pretendem – diz a propaganda do re(i)gime – reconhecer os feitos daqueles que, “em circunstâncias difíceis e perigosas, sem esperar por qualquer tipo de vantagem imediata ou recompensa, levaram a cabo acções que contribuíram não só para o derrube do colonialismo, do regime do ‘apartheid’ e para a consolidação da independência e soberania nacional, como também para o alcance e manutenção da paz e da reconciliação nacional, da reconstrução nacional, da diversificação da economia, da criação de emprego e bem-estar social” para todos. Ou seja, em síntese, todos os que ajudaram o MPLA a – segundo diz – fazer mais em 50 anos do que os portugueses em 500.

Dos primeiros 247 cidadãos, 99 seriam agraciados no âmbito da Classe Independência e 148 na Classe Paz e Desenvolvimento, segundo uma publicação na página da presidência do reino.

“Vamos comemorar com alegria, júbilo e com os olhos virados para o desenvolvimento económico e social do país, depois de termos definitivamente ultrapassado a guerra prolongada contra inimigos externos e construído a paz e a reconciliação nacional entre nós, os filhos da mesma pátria, Angola”, salientou o general de três estrelas João Lourenço, a propósito das celebrações dos 50 anos de Angola como país independente e “livre de qualquer tipo de opressão colonial, da escravatura e da humilhação”.

“Para alcançarmos este importante marco da nossa história, foi determinante a entrega total, o sacrifício extremo e a perda de vidas de milhares de filhas e filhos de Angola em todas as frentes da luta, nomeadamente na frente política, diplomática, cultural e militar”, sublinhou.

Sem direito a condecoração ficam todos aqueles que afirmam que:

– 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças e que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico;

– apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos;

– 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos, que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos;

– em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder;

– Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres.

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