BRUSSSELS AIRLINES ABANDONA ANGOLA

A companhia aérea Brussels Airlines confirmou hoje que vai deixar de fazer voos directos entre Bruxelas e Luanda, e no sentido inverso, a partir do final deste mês, forçando os passageiros a fazerem escala na Alemanha.

Porta-voz da companhia aérea belga confirma que “todos os voos para Luanda vão ser consolidados dentro do Grupo Lufthansa; a Lufthansa continua a voar três vezes por semana, sem paragens, para Luanda, para permitir à Brussels Airlines operar sem paragens para Kinshasa”.

O porta-voz afirmou que, em Dezembro, foi decidida e anunciada esta alteração nos voos, que deixa os passageiros que embarcam em Luanda sem uma ligação directa para Bruxelas, obrigando a fazer uma escala em Frankfurt, e daí para Bruxelas.

“Foi decidido operar voos directos e diários [de Bruxelas] para Kinshasa a partir de Março de 2025”, apontou a porta-voz, referindo-se ao anúncio, em Dezembro do ano passado, da compra de mais um avião de longo curso.

“Até então, a capital congolesa era servida cinco vezes por semana com um voo directo e duas vezes por semana com uma paragem intermédia em Luanda”, diz a Brussels Airlines.

Com esse novo avião, “as rotas para Nairobi e Acra vão ser melhoradas para voos diário”, enquanto Banjul, Freetown e Conacri terão voos mais frequentes, e Dacar e Abidjan “serão servidos com mais voos directos, em vez de voos triangulares”.

Numa pesquisa feita no site da Brussels Airlines, o último voo directo entre Bruxelas e Luanda, com duração de 8 horas e 45 minutos, acontece no dia 25 de Março, com saída da capital belga às 10:30 e chegada às 19:15 a Luanda.

A partir do dia seguinte, há pelo menos uma paragem em Frankfurt, ou duas paragens, em Munique e em Frankfurt, o que aumenta a duração da viagem para 10 horas e 35 minutos ou 13 horas e 35 minutos, consoante se trate de uma ou duas escalas.

Contrariamente a um passado recente, após o advento da paz, alcançada no ano 2002, em que 22 companhias aéreas operavam para Angola, em 2023 o número reduziu-se para 10, por factores transcontinentais que transcendem a vontade do Executivo, em particular, e dos angolanos, em geral.

Será culpa de quem? De todos menos do… MPLA, obviamente

Só ao longo da última década, 15 operadoras desistiram de Angola como destino preferencial, por custos operacionais e ou estratégias comerciais, agravada pela pandemia da Covid-19, que afectou gravemente o sector da aviação civil, devido ao encerramento de fronteiras, contribuindo para a redução drástica da demanda e perdas financeiras.

Por exemplo, deixaram de voar para Angola a LAM (Linhas Aéreas de Moçambique), a Air Namíbia, a South African Airways, a Arik Air (Nigéria), a Kenya Airways, a Varig (Viação Aérea Rio-Grandense, do Brasil), a Ibéria (Espanha) e a Houston (Estados Unidos da América).

Para além destas companhias, e dentre outras motivações, cortaram também ligações com Luanda a British Airways (Reino Unido), a Aeroflot (Rússia), a KLM (Países Baixos/Holanda) e a China Airlines, esta última que usa, geralmente, aviões do tipo Boeing 777-300, B737-300 ou Boeing 787-8, Dreamliner, na sua maioria com frequências bissemanais ou trissemanais.

Segundo fonte aeroportuária, parte destas companhias começou a desistir ou a suspender, paulatinamente, as suas operações em Angola, com o espoletar da crise económica e financeira mundial, em 2014. Algumas chegaram a decretar falência técnica e a desfazer-se das suas frotas.

Em consequência, a TAAG assumiu a transportação de passageiros de e para alguns países, enquanto para outros, sobretudo para a Europa e Ásia, partilhou a operação com algumas companhias locais, com base em acordos de partilha (codeshare), tais como com a Cabo Verde Airlines, a Ibéria, a Brusseles Airlines e a Turkish Airlines.

Porém, hoje, fruto da intensa diplomacia dos últimos cinco anos (2017-2022) com a chegada ao país do novo representante de “deus”, o general de três estrelas João Lourenço, da recuperação económica mundial e de uma maior abertura ao investimento e ao empresariado estrangeiro, algumas companhias vão regressando, e outras de referência internacional colocaram, pela primeira vez, Angola nas suas rotas.

Dada também a, embora periclitante e embrionária, estabilidade político-militar e as oportunidades de negócio, três novas companhias passaram a frequentar o aeroporto angolano, nos últimos cinco anos, nomeadamente a Airlink (da África do Sul), a Turkish Airlines e a Qatar Airways, com voos directos regulares e ligações para outros pontos a partir de Luanda.

A par destas operadoras, voam, igualmente, para Angola a Ethiopian Airlines, a Royal Air Maroc, a TAP Air Portugal, a Lufthansa (Alemanha), a Air France, a Emirates (Emirados Árabes Unidos) e até agora a Brussels Airlines, que iniciou as operações para o país em 2002, suspendeu em 2019 e retornou em 2021.

Mas, para além destes aviões comerciais, o Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro recebia também, com regularidade, voos presidenciais e especiais, bem como, esporadicamente, humanitários, provenientes dos vários continentes, “encargos” que passaram entretanto para o Aeroporto Dr. António Agostinho Neto.

Desse grosso das 10 companhias que vêm para Angola, três são africanas, duas asiáticas e cinco europeias, sendo o continente berço o segundo mais representado, como sinal de resistência ao impacto e às consequências da crise económica e financeira mundial.

Em relação às 12 operadoras desistentes, cinco de África (LAM – Linhas Aéreas de Moçambique, Air Namíbia, South African Airways, Arik Air – Nigéria e Kenya Airways), quatro da Europa (Britsh Airways – Reino Unido, Aeroflot – Rússia, KLM – Países Baixos/Holanda e Ibéria – Espanha) e uma da Ásia (a China Airlines).

Da América, desistiram duas, nomeadamente a Varig e a Houston. Esta situação abriu um vazio de “aeronaves americanas” em Angola, que também não recebe voos provenientes de países da Oceânia, nem da Antárctida, enquanto continentes reconhecidos.

Curiosamente, a South African Airways (SAA) e a Air Namíbia deixaram de voar para Luanda, em 2020. A sul-africana, em Fevereiro, por problemas financeiros, depois de 30 anos de operação, e a namibiana, em Junho, alegadamente por falta de rentabilidade, 28 anos após o início da ligação Windhoek-Luanda, em 1992.

Já a LAM retirou-se do mercado angolano no dia 1 de Julho de 2016, por motivos financeiros e operacionais, numa altura em que o Governo de Moçambique se debatia com uma crise da dívida que afectava a economia local.

A Kenya Airways, que entrou na concorrência em 2010, viu-se forçada a retirar-se em 2020, devido a um processo de reestruturação e nacionalização, motivado pela Covid-19. Enquanto isso, a companhia nigeriana Arik Air (privada) cancelou os seus voos de Lagos para Luanda, no dia 30 de Março de 2014, ao cabo de quatro anos de operação.

Antes, na década de 1970, a Nigéria Airlines é que operava nesse percurso, mas, no princípio dos anos 80, suspendeu as suas actividades em Luanda, por razões técnicas.

A TAP (criada a 14 de Março de 1945) tornou-se na primeira companhia aérea internacional a operar em Angola, desde 31 de Dezembro de 1946, isto é, 29 anos antes de o país ter trocado o jugo colonial português pelo jugo colonial do MPLA, a 11 de Novembro de 1975, e nunca interrompeu a ligação Lisboa/Luanda.

As demais começaram a vir para Angola após o término (em 2002) do conflito armado de quase 30 anos: Brussels Airlines (2002), Lufthansa (2008), Emirates (2009), Royal Air Maroc (2012), Qatar Airways (2020), Turkish Airline (2021), AirLink (2021) e Air France, há 10 anos.

No sentido inverso, a Linhas Aéreas de Angola – TAAG, como anfitriã do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro e a marca nacional no que concerne à aviação civil, disponibilizou dezenas de destinos, entre domésticos e internacionais, incluindo os regionais, com uma intensidade operacional nunca antes vista.

Além-fronteiras, voa para Lisboa (Portugal), Madrid (Espanha), São Paulo (Brasil), Havana (Cuba), Cape Town, Johannesburgo e Durban (África do Sul), Accra (Ghana), Windhoek (Namíbia), Maputo (Moçambique), Kinshasa (República Democrática do Congo), Lagos (Nigéria) e São Tomé e Príncipe.

Domesticamente, à excepção do Sumbe (Cuanza-Sul), de Caxito (Bengo), N´dalatando (Cuanza-Norte), Malanje, chegou a 16 capitais provinciais do país, nomeadamente Saurimo (Lunda-Sul), Dundo (Lunda-Norte), Luena (Moxico), Moçâmedes (Namibe), Cuito (Bié), Ondjiva (Cunene), Lubango (Huíla), M´banza Kongo e Soyo (Zaire).

Ainda no panorama interno, a transportadora aérea angolana opera para Menongue (Cuando-Cubango), Negage (Uíge), Cabinda, Huambo e Catumbela (Benguela), para além de Luanda, a capital do país e única província que recebe voos internacionais.

Como outras “grandes” companhias do sector, a TAAG (oficialmente detentora de 21 aviões) também foi fortemente afectada pela Covid-19, que, em cerca de dois anos (de 2019 a 2021), originou o desaparecimento de pelo menos 400 companhias de aviação civil no mundo, entre oficiais de determinados Estados e privadas.

Apesar das restrições, manteve sempre activa rotas tradicionais como Luanda/Lisboa e Luanda/Brasil e, neste momento, está a recuperar os destinos da África Austral e Central, de tal modo que vem consolidando as ligações com as cidades de Accra (Ghana) e Madrid (Espanha), abertas recentemente.

Até 2027 previa atingir 30 aeronaves em pleno funcionamento, conforme o Plano de Aumento da Frota, e alcançar a cifra de três milhões de passageiros nesse período. Em 2022, a TAAG transportou pelo menos um milhão de passageiros, número 60 por cento superior ao de 2019.

Fundada em 1938 (não foi, portanto, fundada pelos que compraram o país em 1975) e sediada em Luanda, a companhia angolana é reconhecida globalmente e apresenta – segundo o departamento de propaganda do MPLA – um crescimento sustentado. Para além do transporte de passageiros, está voltada ao transporte de carga pelo interior e exterior, bem como a voos humanitários para as duas direcções.

Para além de seis aeronaves do tipo Airbus A220, que comprou à Air Lease Corporation (ALC), em Junho de 2022, em regime de ‘leasing’, a empresa está a negociar com outras construtoras e parceiros para a compra de mais aviões, com vista a reforçar a frota e a substituir os 737-700, por novos aparelhos em estudo.

Em 2023 a frota da TAAG era composta por 21 aeronaves (14 em pleno funcionamento e outras em revisão), designadamente seis Dash 8-Q400, sete Boeing 737-700, três Boeing 777-200 e cinco Boeing 777-300. E, a partir de Junho desse ano, começa a receber os AirBus A220-300, segundo o seu CEO, o espanhol (certamente por falta de angolanos competentes) Eduardo Fairen.

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