ESTIMATIVAS DIZEM O QUE O CLIENTE QUER

A consultora Oxford Economics estima que a inflação em Angola desça dos 28%, em 2024, para 19,2% durante o próximo ano, com a moeda nacional a desvalorizar-se para 927,4 kwanzas por dólar em 2025. Como habitualmente há previsões para todos os gostos e, é claro, as consultoras também fazem estudos e estimativas por encomenda, regra geral formatadas de acordo com os interesses do cliente.

Os analistas desta consultora britânica dizem que “a inflação em Angola vai continuar a cair em 2025, graças ao efeito de base favorável e à ausência de pressão dos preços internacionais do petróleo, mas o enfraquecimento da moeda angolana no segundo semestre de 2024, para mais de 900 kwanzas por dólar, vai abrandar o ritmo de descida da inflação no próximo ano”.

Num comentário aos mais recentes números da inflação em Angola, enviado aos seus clientes, a Oxford Economics escreve que “a taxa de câmbio médio da moeda angolana deverá piorar para 927,4 kwanzas por dólar em 2025, o que manterá a inflação sob pressão”.

A inflação em Angola situou-se em 28,41% em Novembro, mantendo a desaceleração em termos homólogos pelo quarto mês consecutivo, mas voltou a aumentar em termos mensais com uma variação de 1,61%, um incremento de 0,06 pontos percentuais.

Segundo a Folha de Informação Rápida (FIR) do Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN), divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística, a classe “saúde” foi a que mais contribuiu para o aumento mensal de preços, com uma variação de 2,43%.

A variação homóloga fixou-se em 28,41%, com um acréscimo de 10,22 pontos percentuais em relação à observada em Novembro de 2023, mas mantendo a tendência de desaceleração face aos 29,17% registados em Outubro.

No dia 19 de Novembro, o Banco Nacional de Angola (BNA) estimou que o crescimento económico do país vá atingir 4% no final do ano, enquanto a inflação deverá continuar a baixar fixando-se em torno dos 27%.

O governador do BNA, Manuel Tiago Dias, disse que “tendo em conta, por um lado, a dinâmica do PIB (Produto Interno Bruto) e, por outro lado, a informação resultante do acompanhamento da actividade económica nacional, o Banco Nacional de Angola estima que o crescimento económico no final do ano venha a situar-se em torno de 4%”.

De acordo com as contas nacionais divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística, o PIB angolano cresceu 4,3% no primeiro semestre de 2024, animado fundamentalmente pelo desempenho positivo dos sectores petrolífero (4,6%) diamantífero (33,3%), transporte e armazenagem (17,2%) e electricidade e água (8,7%).

“As condições prevalecentes na economia, marcadas pela disponibilidade de uma maior oferta de produtos de alto consumo, associadas às condições monetárias adequadas e à relativa estabilidade da taxa de câmbio, têm contribuído para a desaceleração da inflação”, destacou.

O CPM decidiu, contudo, manter a principal taxa directora (taxa BNA) em 19,5%, a taxa de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez em 20,5% e a taxa de juros da facilidade permanente de absorção de liquidez em 18,5%, apesar da trajectória descendente da inflação, sustentando que o seu nível se mantém elevado “exigindo a manutenção de uma política monetária prudente”.

Manuel Tiago Dias destacou que a condução da política monetária em 2024 “tem ocorrido num contexto macroeconómico desafiante” com “irregularidade na oferta de bens, eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis, os ajustes dos preços de comunicação, transporte e educação, assim como a persistente subida de preços da classe de saúde,”, levando à estimativa de que a inflação no final do ano se situe em torno de 27%.

O ‘stock’ de crédito à economia em moeda nacional atingiu 5,5 bilhões de kwanzas em Outubro, um aumento de 2,6% face ao mês de Setembro e uma variação acumulada de cerca de 20% desde o início do ano, ou seja, 909 mil milhões de kwanzas em termos absolutos.

No sector externo, o saldo de conta de bens atingiu em Outubro 1,6 mil milhões de dólares, representando um total de 19,2 mil milhões de dólares em termos acumulados, o que corresponde a um aumento relativo de 7,4%, ou seja, 1,3 mil milhões de dólares face ao período homólogo de 2023.

A melhoria do “superavit” da conta de bens em termos homólogos deveu-se ao efeito combinado da redução das importações em 8,8% e do aumento das receitas de exportação em 0,7%.

O stock das reservas internacionais em Outubro fixou-se em 14,75 mil milhões de dólares, correspondendo a um grau de cobertura de 7,84 meses de importação de bens e serviços.

O governador do BNA salientou que a redução das reservas internacionais comparativamente ao mês anterior deveu-se à venda de 250 milhões de dólares ao mercado pelo Banco Nacional de Angola, perspectivando uma recuperação do nível das reservas internacionais que elevaria o stock em torno de 15 mil milhões de dólares no final do ano.

A próxima reunião do Comité de Política Monetária realizar-se-á em Luanda nos dias 20 e 21 de Janeiro de 2025.

Em Abril, considerando as projecções para este ano, o BNA mantinha a previsão de uma taxa de inflação à volta de 19%, tendo em conta a evolução dos preços de 20% no ano passado, assim como as condições prevalecentes, principalmente no mês de Março, “quando o Comité de Política Monetária do BNA se reuniu e olhou para os diversos indicadores”, acabando por manter, “para já”, a perspectiva de inflação de 19%.

Manuel Tiago Dias referiu que nessa reunião do Comité de Política Monetária foi efectuada uma alteração às principais taxas de juro, fixando a taxa da facilidade de cedência de liquidez em 19,5%, a taxa da facilidade de absorção de liquidez em 17,5% e a taxa directora (conhecida como taxa BNA) em 18,5%.

Relativamente às Reuniões de Primavera do FMI e do Banco Mundial, o governador disse que as expectativas da participação angolana giraram em torno da “missão principal, que tem a ver com a estabilidade dos preços na economia”.

A “estabilidade do sistema financeiro angolano” esteve também no foco da presença da delegação de Angola, em Washington, onde esteve também a ministra das Finanças, Vera Daves.

Os responsáveis angolanos tiveram diversos encontros “quer com parceiros internacionais, quer com parceiros bilaterais” (os parceiros bilaterais não são internacionais?), e centraram-se na troca de experiências e informações, referiu o governador do Banco Nacional de Angola.

A grande desvalorização da moeda nacional angolana, o kwanza, deve-se ao facto da economia angolana não ter “fundamentos” para suportar a moeda e não haver produção interna para atender à procura, disseram economistas angolanos.

Folha 8 com Lusa

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