SEGUEM-SE UNITEL, BFA E STANDARD  BANK

As privatizações da Unitel, BFA e Standard Bank, através da venda de acções em Bolsa, deve avançar até ao fim do primeiro semestre de 2025, disse hoje o secretário de Estado para as Finanças e Tesouro de Angola, Ottoniel dos Santos. O passo seguinte será privatizar o próprio… MPLA?

Ottoniel dos Santos, que falava aos jornalistas em Luanda, após a admissão das negociações da Bolsa de Divida e Valores (Bodiva), que alienou 30% do seu capital, afirmou que o sucesso desta operação indica que as próximas deverão ser também positivas.

O secretário de Estado saudou a entrada da Bodiva em bolsa, depois de o Estado vender uma participação de 30%, contando actualmente com mais 1.869 accionistas, considerando que a abertura para o mercado desta sociedade “é a janela para que outras oportunidades, mesmo fora dos programas de privatizações, possam acontecer”.

“Estamos a falar de empresas puramente do sector privado, que acreditem no mercado como uma forma de financiar os seus projectos, e que possam, efectivamente, obter o capital necessário para continuar a operar e a prosperar na nossa economia”, complementou.

Ottoniel dos Santos adiantou que a reacção do mercado ficou muito acima do esperado com a procura a ficar quase oito vezes acima da oferta, o que considerou um sinal de que o mercado já percebe que este activo tem capacidade de gerar receitas e que poderá ajudar a criar condições para que outros activos possam entrar e terem a mesma procura.

Na calha para a entrada em bolsa estão três pesos pesados angolanos: a Unitel, do sector das telecomunicações, o Banco de Fomento Angola (BFA) e o Standard Bank, do sector financeiro, que deve acontecer até ao primeiro semestre de 2025.

“Nós temos em carteira a conclusão do projecto de privatização de empresas via mercado de capitais. Temos ainda no nosso portfólio três grandes activos para privatizar em Bolsa (…) Acreditamos que, com o resultado da Bodiva, essas vendas, pela sua capilaridade, conhecimento e também atractividade, poderão ser também um sucesso bastante positivo”, disse, adiantando que a previsão é finalizar estes projectos durante o primeiro semestre de 2025.

Sobre o preço a que serão vendidos os activos que fazem parte do programa de privatizações, sublinhou que “é apurado de acordo com valores determinísticos que resultam exactamente daquilo que é a sua operação” e quando chegar a hora de iniciar o processo de privatização destes activos, este preço será definido.

Em Junho de 2019, o Governo anunciou que mais de 190 empresas públicas, 32 delas de referência nacional, seriam privatizadas via Bolsa de Valores para aumentar os níveis de eficiência. Essa dos níveis de eficiência teve piada. Lá foram os mesmos de sempre (do regime do MPLA) e o capital estrangeiro – mesmo que abutre – abocanhar a carne e deixar-nos os ossos… se não servirem para fazer farinha.

Em Maio de 2018, o Governo previa privatizar 74 empresas públicas a médio prazo, sobretudo do sector industrial. A informação constava do prospecto da emissão de ‘eurobonds’ de 3.000 milhões de dólares (2.500 milhões de euros), a 10 e 30 anos e com juros acima dos 8,2% ao ano. Mudam-se (aumentam) as dívidas, muda-se o número de empresas. É o MPLA ao seu melhor estilo.

Em Outubro de 2018, a Economist Intelligence Unit (EIU) defendia que o processo de privatizações em Angola teria de ser bem gerido e alertava para a “crescente preocupação” sobre as ligações entre os destinatários das vendas das empresas e três dos mais altos dignitários do país: o Presidente da República (João Lourenço), o Presidente do MPLA (João Lourenço) e o Titular do Poder Executivo (João Lourenço).

Segundo o, na altura, coordenador adjunto da comissão técnica de privatizações do Ministério das Finanças, Patrício Vilares, o processo de privatizações das empresas públicas já estava em curso e obedecia a normas e critérios com base na lei.

De acordo com Patrício Vilares, que falava à margem da 6ª reunião Ordinária da Comissão Económica do Conselho de Ministros, o programa de privatizações visava a “melhoria do tecido produtivo”, envolvendo as empresas com maior impacto na economia para lhes dar “condições de maior competitividade e dinamização para o sector público”. Seriam privatizadas empresas dos sectores da agricultura, indústria, turismo, transportes, telecomunicações, finanças e mineiro.

A Comissão Económica do Governo aprovou o programa de privatizações, documento que identificava as empresas públicas ou de domínio público a serem privatizadas no âmbito da redução da intervenção do Estado na economia como produtor directo de bens e serviços, e da promoção de condições favoráveis à iniciativa privada, ao investimento estrangeiro e à aquisição de “know-how” em competências específicas.

Como estaria Angola a reagir à crise económica e financeira se a Sonangol já tivesse sido privatizada e, por isso, deixasse de estar sob a alçada (mesmo que incorrecta) do Estado? Seria possível, se esta empresa estratégica fosse de estrangeiros (mesmo que tendo sipaios do regime como administradores), amortecer o impacto da crise, garantindo algum poder negocial, nomeadamente a nível de empréstimos?

Privatizar uma empresa estratégica como a Sonangol seria (será, é) como privatizar as Forças Armadas, perdendo um dos principais factores da nossa independência económica e financeira, no caso.

Só por ingenuidade, sejamos optimistas, se poderá pensar que os nossos principais responsáveis políticos, a começar pelo Presidente da República, não alinharão nesta estratégia ultraliberal e, por isso, suicida. Privatizar a Sonangol é passar o nosso centro de decisão económico para estranhos e, inclusive, para fora do próprio país.

No caso de uma empresa, da empresa das empresas (a verdadeira galinha dos ovos de ouro, segundo João Lourenço), é seguir a estratégia dos que, do ponto de vista estritamente da rentabilidade comercial, e por isso apátrida, preparam as empresas com a única finalidade de as alienar, criando mais-valias, nada preocupados com quem é o comprador, para onde vai o centro de decisão, que consequências tratará para a economia nacional, para o seu tecido social, para a independência do próprio país.

A crise económica e financeira que Angola atravessa há alguns anos, não só exige como justifica que o Estado mantenha em seu poder empresas e entidades que são estratégicas e que deveriam ser inalienáveis. Estão a funcionar mal? Ponham-se a funcionar bem. Têm altos custos? Têm. Mas são custos que não podem implicar a venda da nossa identidade. E essa identidade só se mantém se, por exemplo, a Sonangol continuar a ser do Estado, continuar (ou voltar) a ser uma empresa âncora.

Angola (mesmo com a bélica oposição do MPLA) precisa de travar esta intenção antes que seja demasiado tarde. Não se trata de uma empresa como muitas outras que o Estado quer, e bem, privatizar. A Sonangol é… Angola. E Angola não está à venda (embora às vezes pareça) nem em fase de privatização. Ou será que está?

Numa longa análise ao processo de privatizações em curso em Angola, a unidade de análise económica da revista britânica ‘The Economist’ alertou para a necessidade de o processo ser bem gerido, sob pena de afastar os potenciais interessados.

“É importante que quaisquer vendas sejam bem geridas, entregando o melhor valor, e que as transferências sejam transparentes para evitar enriquecimentos ilícitos de uma elite bem relacionada politicamente”, avisaram os analistas sobre as privatizações esperadas, totais ou parciais, de empresas como a petrolífera Sonangol, a transportadora aérea TAAG ou a Angola Telecom.

“Vender empresas ou activos nacionais vai ajudar a obter o tão necessário financiamento para o Governo cortar os custos dos salários e reduzir as vulnerabilidades”, e deve também “ajudar o mercado, aumentando a concorrência e melhorando os padrões dos serviços, mas coloca um risco de aumento da instabilidade laboral se as reestruturações afectaram empregos e benefícios”, alertava-se na análise ao programa de privatizações angolano.

Angola introduziu em 1994 a nova legislação sobre privatizações, para aumentar a eficiência, produtividade e competitividade da indústria do país, nacionalizada a custo zero pelo MPLA após a independência de Portugal, proclamada a 11 de Novembro de 1975.

Entre 2001 e 2005, o Governo chegou a identificar 102 empresas para privatização total ou parcial, processo que não chegou a ser concluído.

Folha 8 com Lusa

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