Cidadãos nacionais e estrangeiros, vivos ou falecidos, que contribuíram (segundo a análise do MPLA) de modo distinto para o alcance da independência nacional, vão ser condecorados com medalhas comemorativas, no âmbito 50° aniversário da independência nacional.
A Proposta de Lei que cria a medalha comemorativa desta efeméride foi apreciada durante a 11.ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, orientada pelo Presidente da República, general João Lourenço, admitindo-se que haja desde já unanimidade quanto à condecoração do Presidente do MPLA, do Titular do Poder Executivo e do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas…
De acordo com o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, as medalhas deverão ser distribuídas em três classes diferentes.
A primeira, designada Classe de Honra, será destinada a Chefes de Estado e de Governo, e outros dignatários que tiveram alguma participação relevante no processo de independência nacional.
Para a segunda classe, definiu-me a Medalha de Independência e Paz para reconhecer os feitos dos diferentes segmentos da sociedade que contribuíram para a independência e conquista da paz.
Em terceira classe está a Medalha de Desenvolvimento para reconhecer todos os segmentos da sociedade, que de modo distinto têm ajudado o general João Lourenço a concretizar a sua tese de que o MPLA fez mais em 50 anos do que Portugal em 500.
“Estamos a falar essencialmente em três momentos. É o momento pré-independência, pós-independência até ao alcance da paz, e todos os momentos dos 50 anos nos mais diferentes segmentos”, sublinhou.
“A expectativa é que, sendo, provavelmente, um número elevado de cidadãos, uma vez aprovada a lei pela Assembleia Nacional, ao longo do próximo ano deverão ser realizadas mais de uma sessão de condecorações”, explicou.
As condecorações de Estado são, em muitos países, por vezes, actos de soberania republicana, noutros, apenas de soberana vaidade umbilical, característica que no MPLA reflecte um enorme orgasmo. Os momentos graduam e enquadram as outorgas.
Recorde-se que, em 2019, os 70 condecorados foram merecedores do galardão. Assim, ditou a soberania do outorgante, que reúne todos os poderes do Estado. Colheu apoios e críticas…
Mas, reconheçamos, não pode o general dos generais, o Presidente dos Presidentes, o Titular dos Titulares do Poder Executivo nestes anos de proprietário do Reino condecorar todo mundo e ao mesmo tempo.
Em 2019 auguramos ver emergir a magistratura de líder, de estadista, com a condecoração, a título póstumo, num gesto de conciliação, rumo a uma verdadeira reconciliação, a Álvaro Holden Roberto, líder da guerrilha mais paradigmática (FNLA) contra as tropas coloniais e pai da data da independência nacional.
Em 1974, durante as negociações dos Acordos do Alvor, em Portugal, entre o MFA (Movimento das Forças Armadas), a FNLA; o MPLA e a UNITA, foi dele a proposta, consagrada, da independência ser proclamada no dia 11 de Novembro de 1975.
Jonas Savimbi fundador da UNITA, único movimento de libertação, que durante o período colonial, tinha toda direcção, no interior de Angola.
Assim estariam, condecorados, pela primeira vez, os três pais guerrilheiros, da luta pela independência de Angola, já que Agostinho Neto/MPLA, tem sido oficialmente apontado como o único dos únicos e putativo canonizado.
Mereceria ainda igual distinção o quarto Movimento de Libertação; o MFA (Movimento das Forças Armadas) de Portugal, por terem sido eles, militares da Revolução dos Cravos, que no dia 25 de Abril de 1974, pôs fim ao fascismo que escravizava os povos de Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Cabinda, ex-colónias portuguesas.
Essa seria (continuamos a ser ingénuos apesar de em 2025 o Folha 8 assinalar 30 anos de vida) a esperança que um país deposita, quando tem um líder de Estado, imparcial, reconciliador, justo e convictamente democrático.
Reconhecer os momentos e actores na História de um povo e país é a mais sublime magistratura intelectual, daí que não seria displicente, nova introspecção no mosaico libertário e condecorar, um homem inocente, barbaramente assassinado, ao ser queimado vivo, numa fogueira, na Frente Leste, em 1968, a mando de Agostinho Neto, que o acusava de feitiçaria e tentativa de golpe a direcção do movimento, em Brazzaville, o célebre comandante Paganini, herói da guerrilha do MPLA.
Dinho Chingunji, da UNITA, assassinado a mando de Savimbi, tão referenciado na contra propaganda do MPLA, quando em causa pretende descredibilizar o adversário. Infelizmente, quanto aos excessos dos três, na guerrilha, todos têm rabos-de-palha.
Esperávamos, também, a sensibilidade retroactiva do Presidente para condecorar o pai (Adelino António dos Santos), daquela menina destroçada, Ulika dos Santos, que o abordou em Lisboa, no 24.11.18 e, apenas, quis ler ao “comandante” Lourenço, um poema do progenitor.
E ao passar os nomes tentamos um “reset” no “disco duro mental” do Presidente da República, para se colocar nas vestes de chefe de Estado, e nessa condição estender o tapete vermelho, a título póstumo, a Alves Bernardo Nito Alves, José Van Dúnem, em representação de todos quantos pereceram e sofrem pelas acções canibalescas e arbitrariedades da polícia política de Neto, no 27 de Maio de 1977.
E, assumimos que de forma egoísta, pensámos o Presidente iria (vai?) condecorar, nem que fosse um jovem que esteve no hastear da bandeira da República Popular e Angola, na madrugada de 11 de Novembro e logo nos vieram à mente os nomes dos briosos soldados: Mário Rosa, Mariano de Almeida, Toninho Van Dúnem, dentre outros, que engalanaram aquele momento solene e que seria acalentador, nos 50 anos da data, esse reconhecimento.