O MPLA É DELE E ANGOLA É DO MPLA

O dono de Angola, general João Lourenço, presidente do MPLA, partido no poder há 49 anos, chefe de Estado, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, disse hoje que no jogo da política vence quem se submete à organização e disciplina do colectivo, lembrando que estão longe as eleições gerais e internas.

João Lourenço disse na abertura da reunião do Comité Central do MPLA que “a política é um jogo e como em qualquer jogo, competição, só vencem as equipas cujo jogadores ou atletas se submetem à organização e disciplina do colectivo, e respeitam as regras do jogo e orientação da equipa técnica”.

Sem referir nomes, o líder do MPLA realçou ainda que “ninguém começa o jogo sem ouvir o apito do árbitro, ninguém inicia a corrida de atletismo sem ouvir o tiro de partida, sob pena de ser desqualificado e prejudicar a equipa”.

João Lourenço considerou que, em plena competição, não se podem deixar distrair “por agendas” que distraem do foco da necessidade de cumprir com o Programa de Desenvolvimento Nacional, de diversificação da economia, aumentar a produção nacional, garantir maior oferta de bens e de serviços, e aumentar as exportações e a oferta de postos de trabalho.

“Todo o nosso saber, talento e energias devem estar concentrados na busca de melhores soluções para resolvermos os problemas do povo angolano, não se vislumbram eleições gerais no país para breve, por não ser o tempo estabelecido pela Constituição, igualmente não se vislumbram eleições no partido por não ter chegado o momento estabelecido pelos nossos estatutos”, frisou.

Nos últimos meses, têm sido avançadas intenções de candidatos à presidência do MPLA, como as do general Higino Carneiro, quando João Lourenço está (em teoria) impedido pela Constituição angolana de concorrer a um terceiro mandato como Presidente da República.

Sobre os 50 anos de independência de Angola, que se assinalam no dia 11 de Novembro de 2025, mote para a realização de um congresso extraordinário do MPLA em Dezembro deste ano, João Lourenço sublinhou que o país deve orgulhar-se da sua história. Por alguma razão o dono do país que o MPLA fez mais em 50 anos do que Portugal em 500 e até já consegue (tanto quanto parece) plantar as couves com a raiz para… baixo.

Segundo João Lourenço, nos últimos anos Angola vem melhorando a sua reputação e granjeando prestígio na arena internacional, graças à sua dinâmica de diplomacia, mas sobretudo pelas reformas realizadas em diversos domínios da vida política, económica e social do país. Os 20 milhões de pobres e as cinco milhões de criança que estão fora do sistema de ensino são, aliás, bons exemplos desse sucesso.

O Comité Central do MPLA, órgão competente para convocar o congresso extraordinário, que não é electivo, e decidir a sua agenda, está reunido para analisar e aprovar as bases gerais do congresso e as comissões de trabalho.

Quem assiste às avulsas intervenções do Presidente João Lourenço, na maioria das vezes, não tem como não se emocionar, pensando estar na presença de um ex-militante de base, vindo do Longonjo ou do exterior do país. Não é o caso. Não foi o caso com Eduardo dos Santos. As boas intenções estão lá todas, por regra no papel que suporta as suas intervenções. E por lá ficam.

A corrupção, embora na sua génese social seja um cancro gerado e multiplicado pelo MPLA, obriga (dada a sua dimensão) a que a solução passe por todos.

A corrupção é (também) uma questão jurídica que deve ser combatida com leis e não com visões partidocratas, cuja eficácia morre na cumplicidade interna, toda ela sedimentada ao longo de 49 anos de manifesta e total impunidade.

No actual contexto, tudo é difuso, tudo confunde, porquanto, paradoxalmente, o partido líder da bagunça institucional, desde 11 de Novembro de 1975, tentou e conseguiu crucificar uma pessoa, José Eduardo dos Santos, ou um grupo, filhos e próximos, antes idolatrados até à exaustão (até mesmo pelo próprio João Lourenço), para agora permitir à nova autoridade isentar-se de qualquer responsabilidade no desvario e descaracterização do Estado, atolado numa profunda falência técnica e financeira.

Seria bom que os novos actores assumissem, em uníssono, os malefícios da “acumulação primitiva do capital” e da privatização partidocrata da economia, reconhecendo, por exemplo, a forma ilícita da aquisição de património imobiliário do Estado, bem como a percentagem de cerca de 2 dólares por barril de petróleo exportado, a favor do MPLA (e, convenhamos, MPLA há só um), colocando-o como um dos partidos mais ricos, financeira e patrimonialmente, em África e no mundo.

Uma mudança séria poderia e deveria passar por um verdadeiro “Pacto de Regime, com a participação de todas as forças vivas do país, unidas numa espécie de Assembleia Constituinte (que Angola nunca teve), para elaboração de novas normas jurídico constitucionais e legais e não o abocanhar exclusivo do MPLA, dando a sensação de competência, quando os 49 anos de poder ininterrupto, mostram precisamente o contrário.

Essa tendência é perigosa e impossível de resultar numa transfusão de sangue perfeita, por não haver virgens inocentes no reino governativo.

Todos foram ao pote do mel, todos, absolutamente todos, com a diferença de uns terem abocanhado mais do que outros. E tanto assim é que a prova mais evidente é a de ninguém, absolutamente ninguém, integrante do Executivo, incluindo o Titular, ter apresentado publicamente o património móvel, imóvel e financeiro e a forma como o adquiriu.

E quando assim é, fica provado ser o MPLA o partido com mais agentes de ilicitude por metro quadrado, em Angola, sendo por isso impossível acreditar que quem também tem as mãos cobertas de sangue, tenha capacidade de julgar de forma imparcial e isenta, o outro, pelo risco de não sobrar ninguém no final.

Folha 8 com Lusa

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