O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesiana, manifestou hoje disponibilidade para ajudar Angola a criar um banco de investimento e empreendedorismo juvenil, para mobilizar recursos e promover a criação de auto-empregos para jovens. Ou seja, o BAD promete fazer o que o MPLA o deveria fazer mas que, ao longo dos últimos 49 anos, não fez.
Akinwumi Adesiana, que falava à saída de uma audiência com o Presidente de Angola, general João Lourenço, e na qual participaram igualmente o Presidente do MPLA, o Titular do Poder Executivo e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, referiu que a situação da juventude é uma preocupação do chefe de Estado, e explicou que o objectivo desse banco seria ajudar os jovens a empreender com ‘startups’, empresas de tecnologia financeira, de tecnologia digital “no sentido de fazer com que se eleve o nível de vida das populações”.
Neste encontro, antecedido de uma reunião com o ministro do Planeamento, Victor Hugo Guilherme, e com a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, o BAD deu garantias ao chefe de Estado de que vai continuar a apoiar projectos na área da agricultura e energias, tal como o sector de pescas, industrial e todas áreas que visam o desenvolvimento do país.
Segundo Akinwumi Adesina, no sector da agricultura o BAD está empenhado em apoiar o Governo de Angola com a produção de cereais, designadamente milho, trigo e arroz, e reforçar o seu apoio no Corredor do Lobito com um investimento de 500 milhões de dólares.
“O Governo já investiu mais de dois mil milhões de dólares e o BAD pretende apoiar este projecto [Corredor do Lobito] como já temos feito do lado zambiano, fazendo com que haja essa conexão”, frisou.
Na área da energia, adiantou que Angola produz já cerca de 5,2 megawatts de energia, mas desperdiça cerca de 1,5 megawatts e é preciso trabalhar-se para garantir que esta energia chegue aos consumidores.
O presidente do BAD disse que deu ao general João Lourenço a garantia de que o banco continuará a apoiar, principalmente a construção de linhas de transmissão e transporte [de energia] “que possam ligar aos países vizinhos, consequentemente com a rede da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) através da exportação de energia para a Zâmbia e Namíbia”, referiu.
Akinwumi Adesina salientou que abordou também com João Lourenço a questão do Corredor de Moçâmedes, na província do Namibe, “uma área bastante importante”, onde também garantiu que o BAD pode apoiar.
O presidente do BAD também felicitou (como não poderia deixar de ser) o Presidente da República e o Governo do MPLA “pela qualidade e resiliência da economia angolana”, cuja previsão de crescimento deste ano é de 2,7% e para o próximo ano 4,2%, e a prestação em várias vertentes macro-económicas.
“O Governo angolano está a fazer um grande trabalho nesse sentido, apesar da conjuntura internacional difícil”, disse. Tão difícil, entenda-se, que já dura há 49 anos e que coloca o reino do MPLA na fasquia de 20 milhões de pobres para uma população de 35 milhões de habitantes.
Destacou igualmente que o rácio da dívida nos anos transactos estava a volta de 80% e este ano baixou para cerca de 50%, declarando que “Angola está a criar um sector fiscal bastante sólido”, continuando a pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países supostamente pobres, continuando não a gerar riquezas mas apenas ricos.
Ainda no âmbito da economia, referiu o facto de Angola estar com reservas líquidas internacionais de cerca de 14,5 mil milhões de dólares, com uma cobertura de importação de 7,5 meses, melhor do que “o padrão estabelecido pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, que é de cinco meses”, realçou.
Akinwumi Adesina felicitou o general João Lourenço pela sua eleição como próximo presidente da União Africana, por se tratar do maior fórum político do continente, bem como “pela sua liderança e esforço diplomático para a busca da paz e estabilidade no continente, sobretudo no leste da República Democrática do Congo”.
“Portanto, estamos bastante confiantes com o país, com as instituições e o Governo”, vincou, rivalizando em bajulação com os maiores especialistas do mundo.
Desde o início das suas operações em Angola, em 1980, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento aprovou um total de mais de 3.000 milhões de dólares para projectos de desenvolvimento no país.
Akinwumi Adesina, que por regra sabe o que diz mas não diz o que sabe, é o mesmo que recentemente afirmou que o mundo não está a ganhar a guerra contra a fome a nível global e relativizou os dados que mostram que há menos pessoas na pobreza. África conhece bem esta realidade. Angola também. O BAD também. Adesina também.
Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) indica que, em Angola, 23,9% da população passa fome. No relatório de 2018, a FAO referia que cerca de 821 milhões de pessoas no mundo passam fome, o que se traduz num aumento quando comparado com os dados de há dez anos. Em Angola, segundo a FAO, “23,9% da população passa fome”, o que equivale a que “6,9 milhões de angolanos não tenham acesso mínimo a alimentos”.
“Não nos podemos deixar levar; não estamos a ganhar a luta contra a fome global”, disse Akinwumi Adesina durante a sua intervenção numa conferência sobre agricultura na Universidade Purdue, em Indianapolis.
As declarações de Akinwumi Adesina surgiram poucos dias depois da divulgação de dados sobre a descida do número de pessoas que vivem com menos de 2 dólares por dia, mas o presidente do BAD vincou que os números das Nações Unidas, que mostra uma subida das pessoas com fome, de 777 milhões em 2015 para mais de 820 milhões no ano passado.
Perante uma plateia de investigadores, líderes empresariais, decisores políticos e doadores, o banqueiro defendeu mais ajuda desta comunidade e lembrou o compromisso de investir 24 mil milhões de dólares na agricultura africana nos próximos 10 anos, o maior esforço de sempre.
A situação na África subsariana, apontou, precisa de “intervenção particularmente urgente devido às mudanças climatéricas”, disse Akinwumi Adesina, segundo um comunicado do banco, que dá conta de um aumento de 38 milhões de pessoas com fome em África em 2050 só devido a estas alterações.
Cerca de 821 milhões de pessoas no mundo passam fome, revelou a ONU, traduzindo um aumento para níveis de há dez anos que se sente mais na América do Sul e na maior parte de África, disse a FAO no relatório sobre o estado da segurança alimentar e nutrição de 2018, em que se confirma a tendência para o aumento da fome no mundo pelo terceiro ano consecutivo, passando de 804 milhões em 2016 para 821 milhões em 2017.
Angola, Moçambique e Guiné-Bissau estão entre os países africanos onde os choques climáticos – mas não só – foram uma das causas de crises alimentares em 2017, segundo a avaliação global sobre segurança alimentar e nutricional (SOFI 2018), elaborada por cinco agências da ONU, incluindo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A avaliação é pessimista, realçando que os objectivos de erradicação da fome em 2030 estão em risco, face ao crescimento da situação de fome, que atingiu 821 milhões de pessoas em 2017, ou seja, um em cada nove habitantes do mundo.